Seria retrocesso o jornalismo brasileiro adotar critério de medalhas do COB
Mário Magalhães
O Comitê Olímpico Brasileiro, como fizera em Londres-2012, estabeleceu o total de medalhas como critério para balizar o desempenho nacional na Olimpíada deste ano.
O COB definiu como objetivo da delegação ficar entre os dez primeiros no Rio.
A preferência de critério tem motivo evidente: com uma equipe imensa, é menos difícil buscar o top ten na soma de ouro, prata e bronze.
E assim tentar justificar os desembolsos bilionários, oriundos de tributos recolhidos dos cidadãos, no treinamento de quem competirá em 2016.
Isso pressupõe considerar iguais cores, ou metais, diferentes.
O terceiro colocado numa competição valeria tanto quanto o campeão.
Com esse olhar, nos Jogos de Pequim-2008 os Estados Unidos teriam vencido _110 vezes no pódio, contra 100 da China.
Acontece que até aqueles bichinhos que sujam as piscinas de clube sabem que os chineses triunfaram naquela Olimpíada, com 51 medalhas de ouro, à frente dos Estados Unidos, 36, e da Rússia, 23.
E todo mundo sabe que a China ganhou porque é consagrado no planeta, com exceções respeitáveis, o quadro de medalhas baseado em ouro.
Se há empate, as medalhas de prata decidem. Se necessário, as de bronze.
As tabelas no alto tratam de Londres-2012. Ambas na mesma língua esportiva, em idêntica tradição.
Tradição não quer dizer lei.
Em 2008, indagaram o presidente do Comitê Olímpico Internacional sobre o embate entre China e EUA pelo primeiro posto.
Ele respondeu que cada um ficasse à vontade para ler a tabela como quisesse.
No Brasil, a tradição do ranking prestigia o ouro.
Basta ver a classificação publicada e exibida pelos meios de comunicação em 2012. A internet está aí para ajudar os curiosos.
Para a nossa delegação conquistar uma posição entre os dez primeiros, precisará estar entre a dezena de países que mais obtiverem medalhas de ouro.
Não se trata de menosprezar prata e bronze.
Nem mesmo atletas que acabam sem pódio, mas se tornam inesquecíveis, como Agberto Guimarães com seu quarto lugar nos 800 metros rasos em Moscou-1980.
O que não dá é o jornalismo brasileiro mudar seu habitual critério somente para aumentar as chances de uma colocação melhor em casa.
Dobrando-se ao ufanismo e descaracterizando o jornalismo, ao convertê-lo em entretenimento.
Vergando-se, em suma, ao poder e à influência do COB.
Em 2012, na opinião do COB, o Brasil, acumulando mais medalhas, ficou à frente da Jamaica.
Só para o COB. Conforme a tradição que vingou também aqui, os jamaicanos nos superaram, quatro ouros a três.
O jornalismo nacional historicamente foi submisso à cartolagem do esporte.
Até outro dia a vassalagem a Ricardo Teixeira era despudorada, a despeito da turma de responsa que preza a independência jornalística e o espírito crítico.
Melhorou um pouco.
Mudar o critério de colocação na Olimpíada a essa altura, para promover o oba-oba, seria um retrocesso.