PM desperdiçou chance de intervir em outubro no batalhão da matança do Rio
Mário Magalhães
A Polícia Militar do Estado do Rio fala em ''lamentáveis acontecimentos''.
O tenente-coronel Marcos Netto, em ''reação desproporcional''.
O governador Luiz Fernando Pezão, em ''erro''.
Todos adotam eufemismos para não pronunciar a palavra honesta: o que houve foi ''crime'', e quem comete crime é ''criminoso''.
São criminosos os policiais militares que no fim de semana fuzilaram cinco jovens negros no subúrbio carioca de Costa Barros.
É criminoso quem adultera cena de crime para forjar confronto inexistente. A farsa foi desmascarada por testemunhas do massacre e confirmada pela perícia.
Não é preciso aguardar o martelo da Justiça para saber que houve crime nas execuções.
Tão importante quanto chamar as coisas pelo nome, ''crime'', é a exigência de punição.
Mais ou tão relevante é entender no episódio por que PMs são capazes de barbarizar sem maiores temores de castigo legal.
O epílogo da vida de Roberto, Carlos Eduardo, Cleiton, Wilton e Wesley, rapazes de 16 a 25 anos, poderia ter sido diferente se diferente tivesse sido o comportamento da cúpula da PM um mês atrás.
Porque talvez os PMs Thiago, Marcio e Antonio não tivessem atirado para matar, e o colega Fabio não se associasse a eles na fraude processual, se o comando do 41º Batalhão tivesse mudado quando era para mudar.
No finzinho de outubro, um sargento do mesmo 41º BPM matou dois mototaxistas desarmados na Pavuna. Não foi preso. Alegou ter confundido com arma o macaco hidráulico que os trabalhadores carregavam numa moto. Tiago, que dirigia, foi morto sem conhecer o filho que nasceria em novembro.
O coronel Marcos Netto foi mantido no comando. Ignoro se ele é bom ou mau profissional, boa ou má pessoa. Mas a mensagem implícita na decisão da PM do Rio foi que matar inocente dá em nada.
Os dois que estavam na moto foram mortos com um só tiro. Os carro onde estavam os cinco assassinados foi alvejado mais de meia centena de vezes. Muda a forma, segue a matança.
Antes, Netto foi prestigiado.
Agora, exonerado.
E se tivesse sido afastado em outubro, numa intervenção exemplar, com um brado de ''chega'' aos PMs do batalhão?
Não era caso isolado o dos mototaxistas, informou o Instituto de Segurança Pública. Como contaram os repórteres Antônio Werneck, Elenilce Bottari e Paolla Serra, ''de janeiro de 2011 a outubro deste ano [2015], ocorreram 323 mortes em intervenções policiais na área do 41º BPM (Irajá)''. Treze por cento das mortes dessa natureza em todo o Estado, muito acima da média.
O sangue estava correndo. Ninguém interveio _com ações, e não palavras_ para interromper a hemorragia.
A impunidade é o maior estímulo para o crime. Qualquer crime, sobretudo os que tiram a vida.
Deve ser punido quem atira ferindo a lei.
E o comandante de policiais que matam covardemente não pode continuar no comando como se nada tivesse acontecido.