Sob vaia, candidatura de Pedro Paulo agoniza. Mistérios cercam a de Romário
Mário Magalhães
Ao menos até a semana retrasada, havia nos círculos mais próximos a Eduardo Paes a esperança de que a rejeição à pre-candidatura do secretário Pedro Paulo a prefeito do Rio se circunscrevesse à zona sul mais abastada da cidade. As vaias de ontem em Madureira assinalam o adeus às ilusões.
Os apupos contra Pedro Paulo no subúrbio ocorreram na inauguração da Casa do Jongo. Ele foi ''vaiado por um pequeno grupo de mulheres enquanto discursava'', anotou reportagem. Pequeno, mas barulhento e combativo. Uma jovem exibiu um pequeno cartaz escrito em folha de caderno: ''Pedro Paulo bate em mulher''.
O recado de Madureira tabela com o sentimento que se espalha entre os cariocas. Na quinta-feira, a colunista Cora Rónai referiu-se a ''Pedro Paulo, o espancador''.
Agoniza o projeto de sucessão desenhado por Eduardo Paes. O prefeito triunfaria na eleição de 2016 com o candidato escolhido por ele. Assim reforçaria seu cacife para o pleito presidencial como postulante do PMDB. Até segunda ordem, o PT do Rio se manteria vinculado ao prefeito _o vice de Paes é petista.
O plano desmorona em virtude de três motivos: o currículo de Pedro Paulo, alguns bons serviços jornalísticos e o espírito do tempo.
Repórteres documentaram dois registros policiais de agressões do secretário à ex-mulher. Além de um sobre ameaça de ''sumir'' com filha criança. Primeiro, Pedro Paulo negou uma agressão. Em seguida, reconheceu-a, mas assegurou que havia sido uma só. Logo surgiu prova de outra, que ele também admitiu.
É direito dos cidadãos conhecer o comportamento e as ideias de quem pretende governar. Só foi possível saber mais sobre a trajetória de Pedro Paulo graças ao empenho jornalístico.
As novidades vêm à luz em momento de ações expressivas dos movimentos de mulheres. Antes, a reação às reportagens e às declarações de Pedro Paulo talvez fossem menores. Hoje, não. Numerosas entidades e coletivos reivindicam a demissão do secretário, o que equivaleria ao atestado de óbito da candidatura.
A insistência de Eduardo Paes em impor Pedro Paulo decorre também da sua necessidade de ter um político de confiança absoluta, sócio da aspiração presidencial, à frente de um município importante como o Rio. O prefeito pode indicar outro correligionário fiel, mas não tanto quanto o original.
A campanha do ano que vem se encaminhava para ter Pedro Paulo como favorito, embalado pela aprovação do eleitorado a Paes. É difícil que o secretário sobreviva como candidato. Se sobreviver, é improvável que vença. A persistência com Pedro Paulo pode custar a Eduardo Paes a derrota no Rio e o enfraquecimento nacional.
O deputado Leonardo Picciani seria opção a Pedro Paulo, mas não integra a corrente de Paes no PMDB. O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, também é cotado, porém divide suas fidelidades entre vários próceres do partido. A batalha intestina do PMDB carioca e fluminense vai se agravar com a exposição crescente de Pedro Paulo _e das vaias contra ele.
Romário
Dois mistérios cercam a pré-candidatura de Romário a prefeito do Rio. Um é fiscal e bancário. O outro, eleitoral.
Há indícios de que, no episódio da eventual conta secreta do senador Romário na Suíça, o erro jornalístico não tenha sido a reportagem que a revelou, e sim a errata.
A gravação da já célebre conversa de Delcídio do Amaral deu a entender que Romário aceitaria apoiar Pedro Paulo a prefeito para evitar que se tornasse pública a existência de conta não declarada à Receita.
A Polícia Federal pode esclarecer. A esta hora, já deve ter perguntado ou agendado perguntar ao banqueiro André Esteves, preso como Delcídio, se ele tem alguma informação útil acerca da situação bancária de Romário.
Se o senador ex-boleiro nada tem a esconder, certamente sairá candidato, encorajado por pesquisas que lhe conferem imensa intenção de voto. Nada tem a perder, pois o mandato de senador não está em jogo.
Se desistir, confirmando a versão de Delcídio, estimulará suposições.