Triste 2015 no Rio: fim de linha do Flu, demagogia no Fla e agonia do Vasco
Mário Magalhães
Se há algo que os amantes do futebol podem celebrar, no embate entre o vitorioso Palmeiras e o derrotado Fluminense pela Copa do Brasil, é que a bola premiou quem atacou, foi para cima, sem se entrincheirar atrás.
Na semana passada, no Rio, o tricolor abriu dois gols enquanto se propôs a sufocar o visitante. No segundo tempo, recuou e permitiu ao alviverde marcar (em pênalti inexistente, mas poderia ter sido em outro lance).
Ontem à noite, em São Paulo, os papéis se inverteram. O Palmeiras avançou e anotou dois. Repetiu o erro do Flu no Maracanã, ao abandonar a ambição ofensiva e assistir à reação oponente, até sofrer o gol.
2 a 1 nas duas partidas, o bravo Palmeiras classificado nos pênaltis para a final contra o favorito Santos.
O retrato da mudança de postura da equipe de Eduardo Baptista no começo dos jogos foi que, no de ida, Cavalieri saía tocando a bola. No de volta, abusou dos chutões, até mudar a atitude na segunda etapa, mantendo a pelota nos pés dos companheiros.
O Flu, guerreiro, está eliminado da Copa do Brasil. No Campeonato Brasileiro, cumpre tabela. Nas contas, pode até cair, mas não cairá. Ano medíocre, sem catástrofe. A saída da Unimed enfraqueceu o clube, porém o dia do juízo final não chegou.
O Flamengo já havia sido abatido na Copa do Brasil. Tem chance de conquistar uma vaga na Libertadores, via Brasileiro, mas só otimistas patológicos ainda acreditam.
Em momentos horríveis, o time foi pior do que o elenco. Noutros, como nos seis triunfos consecutivos com Oswaldo de Oliveira, melhor. No balanço sincero da história, a má gestão de recursos humanos foi determinante para o desempenho sofrível. Mesmo sem dinheiro sobrando, era possível ter contratado jogadores de nível mais alto.
A diretoria acaba de punir cinco boleiros que participaram de uma festa. Até onde eu sei, em horário de folga. Os candidatos à eleição no clube disputam para ver quem fala mais grosso com os jogadores.
O que está em curso não é só moralismo. Chama-se oportunismo. É muito mais fácil avacalhar os festeiros do que reconhecer os enganos na montagem do elenco, responsabilidade de integrantes de mais de uma chapa na disputa eleitoral.
Erro é contratar cabeça-de-bagre, atleta bichado ou quem não quer nada com a Hora do Brasil. Na folga, é direito de cada um fazer o que bem entender.
O problema não é o Paulinho, se foi o caso, farrear fora do trabalho. Mas contratá-lo ou mantê-lo em campo a despeito da performance ruim.
Marcelo Cirino tem de ser barrado por critérios futebolísticos, não pela agenda social.
Quer ver como a punição é demagogia, voltada para a torcida e, sobretudo, aos eleitores rubro-negros? Alguém acha que o time campeão nacional em 2009 só tinha candidato a genro e à vida monástica? O centroavante era o Adriano… Algum cartola de hoje sugeriria multas e ganchos naquela época?
Outro exemplo: interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, numa investigação de anos atrás sobre tráfico de drogas, grampearam conversas entre jogadores de certo clube. A turma combinava surubas, cujos detalhes zoológicos eu deixo para lá. A história vazou, a cartolagem soube. Cresceu para cima da rapaziada? Não, porque o time ganhava.
O que pegava num craque decadente não era virar a madrugada e se apresentar detonado, mas pontualmente, no Ninho do Urubu. E sim que ele era um fiasco em campo, e nunca foi devidamente cobrado. Se não há indulgência com a bola murcha, ou o jogador acerta o relógio ou é afastado.
A cultura do chinelinho não decorre de não interferência na folga do time, mas de tolerância com quem engana nos estádios e não se aplica em treino. Quando a exigência desportiva é rigorosa e profissional, o jogador sabe que não dá para ficar sem dormir antes de treinar.
O Flamengo foi tirado da Copa do Brasil pelo Vasco, que também acabou no meio do caminho.
Se o Brasileiro findasse hoje, os cruzmaltinos estariam rebaixados. A culpa principal é do anacronismo na administração do clube.
Ela contribuiu para a ilusão de que o elenco suficiente, sabe-se como, para o Campeonato Estadual estaria à altura do Brasileiro. Não estava, e improvisaram contratações. A de Nenê deu certo, e o meia está sendo decisivo para manter, em plena agonia, a esperança de escapar da degola. Outro acerto tardio foi ter Jorginho e Zinho na comissão técnica.
O ano triste para os clubes do Rio tem uma compensação, o regresso do Botafogo à primeirona. Mas não dá para considerar uma façanha, porque o alvinegro na segunda divisão deprime, ao menos para quem considera que o seu lugar inarredável é entre os grandes.
Se não houver mudança nos clubes cariocas (inclusive no Botafogo, que tem de montar time mais forte), 2016 será outro ano complicado.