Há 50 anos, golpe dentro do golpe acabou com eleição direta para presidente
Mário Magalhães
A historiografia nacional, com o concurso do jornalismo, costuma se referir ao Ato Institucional nº 5 como ''o golpe dentro do golpe''.
Isto é, depois do golpe de Estado de 1º de abril de 1964, o AI-5 seria ''o outro golpe''. Eliminou direitos como o habeas corpus, revigorou a repressão política e garroteou as liberdades.
Ocorre que o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, não foi o único golpe que tornou a ditadura mais antidemocrática.
Em julho de 1964, o mandato do marechal Castello Branco no Planalto foi prorrogado (acabaria em 1966, passou para 1967).
No Pacote de Abril de 1977, o Congresso foi fechado e fabricaram os senadores biônicos (sem voto popular).
Nos dois casos, houve golpes, mas talvez não com a dimensão do AI-5.
Mas o Ato Institucional 2, que hoje completa meio século, foi sem dúvida um tremendo golpe dentro do golpe.
No dia 27 de outubro de 1965, a ditadura baixou-o, extinguindo os partidos políticos existentes e terminando com a eleição direta para a Presidência.
Uma das justificativas dos golpistas de 1964 (da boca para fora) havia sido garantir as eleições presidenciais previstas para 1965 _diretas, como determinado pela Constituição em vigor.
O primeiro ditador, Castello, completaria o mandato do presidente constitucional derrubado, João Goulart.
De início, o mandato do marechal foi expandido. Logo, cinquenta anos atrás, fulminaram com as diretas, que só voltariam em 1989 (enquanto isso o presidente foi escolhido por um minúsculo ''colégio eleitoral'').
Em 1966, o Congresso ''elegeu'' outro marechal, Costa e Silva, presidente da República _o povo ficou de fora.
Entre os ministros que assinaram o AI-2 com o ditador Castello Branco estavam Juracy Magalhães (Justiça) e Eduardo Gomes (Aeronáutica).
Ambos haviam sido próceres da UDN, um dos partidos liquidados em 1965.
De pregadores da democracia a porta-vozes da ditadura: tudo é história.