Rejeitar ideias de Simone de Beauvoir é do jogo. Perigo é queimar livros
Mário Magalhães
Que muita gente tem medo das ideias de Simone de Beauvoir (1908-1986) não é novidade.
''O segundo sexo'', livro que apareceu no Enem, é de meados do século passado.
''Ninguém nasce mulher, torna-se mulher'' desde então é assertiva que incomoda certas almas e cacholas.
Seria superestimar o século 21 supor que o mundo interpretado no pós-guerra tivesse ficado para trás.
O atraso nem sempre passa. É mais persistente que pulga em alguns cachorros.
Tem um papo atrasado que não está nem para o século 20, e sim para os tempos medievais.
É legítima qualquer opinião sobre a francesa, cada cabeça uma sentença.
E engraçado saber que antes do exame do fim de semana muitos marmanjos, com ares de sabichão, nunca haviam ouvido falar na escritora, filósofa e militante (um radialista criticou há pouco no Rio a questão sobre feminismo e igualdade de gênero porque Simone de Beauvoir ''não é popular''). Dá-lhe, Google!
O problema maior são as veleidades de censor, a proposta, escancarada ou envergonhada, de eliminar da história Simone de Beauvoir, seu pensamento e suas ações.
A tal da maldição do silêncio. Porque, se personagem e tema não podem cair no Enem, é porque não podem ser estudados.
Acontece que foram _e são_ relevantes para a história. ''Às favas com os escrúpulos de consciência'', disse um coronel liberticida.
O que fazer com os livros de Simone? Não duvido que pinte deputado propondo queimá-los na fogueira (já não duvido de nada). Ou incorporá-los ao Index.
Haja ignorância, haja intolerância, haja vulgaridade!
Como disse certa feita um camponês pernambucano, abram alas e deixem passar a Idade Média.