Blog do Mario Magalhaes

Para 50%, ‘bandido bom é bandido morto’. Isso vale para PM bandido?

Mário Magalhães

PMs forjam tiroteio. Devem ser mortos? - Foto reprodução

PMs forjam tiroteio. Devem ser mortos? – Foto reprodução

 

Na semana passada, o deputado estadual Flávio Bolsonaro esperneou contra decisão da Justiça de fechar o Batalhão Especial Prisional, onde estavam em cana 221 PMs do Rio. Eles ''são tratados como bandidos'', bronqueou o deputado.

O BEP foi interditado depois de presos agredirem a juíza que coordenava uma vistoria. Os PMs trocaram o batalhão por um complexo penitenciário.

Ao assistir à entrevista de Bolsonaro, pensei cá comigo: os policiais prisioneiros são tratados como bandidos porque, na forma da lei, são suspeitos ou acusados de terem cometido crimes. Noutras palavras, de serem mesmo bandidos.

Lembrei o episódio ao ler hoje o resultado de pesquisa Datafolha em cidades com mais de 100 mil habitantes. Metade dos entrevistados concorda com a assertiva de que ''bandido bom é bandido morto''.

Espanto? Nenhum. Talvez os 45% que tenham rejeitado o mantra de esquadrões da morte. A civilização não tem tão poucos partidários como às vezes parece.

É certo que nem todos os 50% necessariamente apoiam execuções à margem da lei e dos tribunais. Nem incentivam justiça com as próprias mãos, olho por olho, dente por dente.

Mas ''bandido bom é bandido morto'' consagrou-se como lema de assassinos com distintivo.

Muitos que se guiam por essa regra acham que o melhor a fazer é matar o bandido que outro dia matou o PM Caio César Ignácio Cardoso de Melo. O policial era o dublador brasileiro dos filmes do Harry Potter.

Se a receita vale para bandidos em geral, sem distinção, o mais indicado, de acordo com o raciocínio ''bandido bom é bandido morto'', seria os assassinos do pedreiro Amarildo morrerem?

Os assassinos são PMs. Tiraram a vida do Amarildo numa sessão de tortura na Rocinha.

E os PMs que forjaram tiroteio no morro da Providência? Primeiro, eles mataram um adolescente que, de acordo com testemunha, havia se rendido. Em seguida, colocaram uma arma na sua mão e dispararam (foto no alto do post).

PM bandido bom é PM bandido morto?

Nem no caso de bandidos não PMs, como os que calaram a voz do Harry Potter, nem no de bandidos PMs, como os algozes do Amarildo, deve-se aceitar julgamentos extrajudiciais.

Qual o mandato de PMs e não PMs para, não sendo juízes ou membros do tribunal do júri, decidirem sobre castigo a bandidos?

Sem contar que no Brasil inexiste pena de morte (''salvo em caso de guerra'', em ''agressão estrangeira'').

A fome de matar, exacerbada pelo espírito de ''bandido bom é bandido morto'', leva a ações destrambelhadas _e criminosas_ da PM que resultam em crianças mortas em comunidades pobres e miseráveis.

O critério supremo tem de ser a proteção da vida.

Bandido bom é bandido investigado, julgado e punido, conforme a lei.

Se a lei prevalece e a impunidade fraqueja, é mais provável que menos crimes venham a ocorrer.

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