Vasco mostra que força de vontade não é papo furado de livro de auto-ajuda
Mário Magalhães
Como tantas vezes na vida, assisti ao clássico dos milhões _ontem, pela TV_ ao lado do pai torcedor do Vasco. Tenho três irmãos vascaínos e um gremista, sou o único Flamengo _na minha casa, vai ver que o darwinismo explica, todo mundo é rubro-negro.
Junto com o vascaíno, fiquei pensando no que faz com que o time de melhor elenco perca quatro jogos para o adversário em 2015 e só ganhe um. O elenco é melhor de acordo com dois critérios, custo e desempenho: a folha de pagamento da Gávea é muito maior do que a de São Januário; o Flamengo está em sétimo no Campeonato Brasileiro e o Vasco, vindo da segundona, amarga o 19º, penúltimo lugar.
O motivo determinante é aquele que muitas vezes desprezamos como papo furado de livro de auto-ajuda: força de vontade, ''querer é poder'', persistência, superação diante das adversidades e coisa e tal.
Equipe sofrível, o Vasco se agiganta diante do Flamengo por considerar o confronto muito mais relevante do que costuma considerar o oponente. Claro que nós gostamos de vencer. Mas o gosto do triunfo sobre o Vasco não parece ter o mesmo prazer que o resultado inverso provoca nos vascaínos. Não significa complexo de inferioridade cruzmaltino ou de superioridade rubro-negro.
Só vontade não explica a vitória de 2 a 1 do Vasco, de virada, no Maracanã. Embora superior, o elenco do Flamengo voltou a mostrar limitações. Não fossem a imperícia nos passes, o egoísmo que resulta na bola não passada e a inépcia nos chutes, um dos três contra-ataques no começo do segundo tempo poderia ter terminado em gol, levando o placar para 2 a 0.
Paulo Victor falhou na cobrança de falta do Rodrigo, gol de empate. A marcação da falta é controversa, mas o Vuaden não cometeu nenhuma barbaridade ao apitá-la (eu não marcaria). O goleiro do Flamengo teve tempo para alcançar a bola, na qual ainda tocou. Curiosidade: nem no momento do gol do zagueiro vascaíno o comentarista Juninho Pernambucano, na Globo, pronunciou o nome do desafeto Rodrigo.
A bola-na-mão ou mão-na-bola do Jorge no pênalti foi outro erro fatal. Pode ser ou não penal, vai da interpretação do árbitro (eu apitaria). Mas o lateral permitiu, ao cabecear na própria mão, que o Vuaden interpretasse como pênalti.
Atrás, o Flamengo não consegui se reorganizar e perdeu novamente.
O Oswaldo arrumou bem o time, que teve a chance de liquidar a partida, o que não ocorreu por infelicidade dos jogadores. O Jorginho mostrou que estuda futebol: trocou volante/volantes por um meio de campo mais habilidoso e ofensivo, concentrando a equipe em espaços onde o Flamengo fica muito espalhado.
Com o Fluminense escapando do rebaixamento e o Flamengo se distanciando do G-4, a única coisa que anima de fato o futebol do Rio por enquanto é a brava batalha do Vasco para fugir de mais uma queda.
Sem contar, é claro, o Botafogo, virtualmente promovido ao seu devido lugar, a primeira divisão.