Bolsonaro: refugiado é ‘escória’; Dilma, morra de câncer! Cadê o escândalo?
Mário Magalhães
Imagine se um deputado federal contrário ao impeachment tivesse dito querer a morte do senador Aécio Neves ou do ministro Gilmar Mendes ''infartado ou com câncer''.
Pense no escarcéu, escândalo justificado, que sobreviria.
E se o mesmo deputado partidário da soberania do voto popular tivesse se referido a refugiados, inclusive os sírios, como ''escória do mundo''?
O barulho capaz de perfurar os tímpanos seria compreensível.
O menino sírio Ailan Kurdi era ''escória''?, perguntariam.
Tal pronunciamento não foi feito por um defensor do calendário eleitoral determinado pela Constituição.
Se fosse assim, quase todo mundo saberia, pois ninguém deixaria barato, a TV trombetearia manchetes.
Os votos de morte tiveram como alvo não Aécio ou Gilmar, mas a presidente Dilma Rousseff, mulher que superou um câncer.
O autor das afirmações foi o deputado Jair Bolsonaro. Dias atrás, em Goiânia, o capitão do Exército deu entrevista ao jornal ''Opção''.
Bolsonaro foi indagado: ''O senhor acha que a presidente Dilma termina o mandato em 2018?''.
Respondeu: ''Eu espero que acabe hoje, [com ela] infartada ou com câncer, [de] qualquer maneira''.
Em meio à análise a respeito de recursos materiais do Exército, o deputado pró-impeachment falou sobre ''marginais do MST que são engordados agora por senegaleses, haitianos, iranianos, bolivianos e tudo que é escória do mundo, né, e agora está [sic] chegando os sírios também aqui. A escória do mundo está chegando aqui, [no] Brasil''.
Não importa, neste caso, o que se ache da proposta de impeachment e do segundo governo Dilma (para mim, é ''ensaio de suicídio político'').
Mas observar o discurso de ódio que parece ser natural feito o Pão de Açúcar na paisagem da minha janela.
E constatar como as reações oscilam, dois pesos e duas medidas, de acordo com quem vomita tonterias. Parece que a estupidez é exclusiva de certas trincheiras.
O que mais dói é, em pleno século 21, ver muita gente, em nome de ''causa maior'' _a derrubada da presidente constitucional_, perdoar ou fingir ignorar comportamentos sombrios que ameaçaram a humanidade na década de 1930.
A não ser quem não conhece a história, as pessoas sabem como isso pode acabar.
É óbvio que nem todo mundo que advoga o impeachment concorda com as barbaridades de Jair Bolsonaro.
Porém _isso é fato, não opinião_, aceita estar ao lado dele nas ruas e na conflagração política em curso.
Se alguém desconfiar que puseram palavras na boca do deputado, sugiro conferir a gravação da entrevista ao repórter Frederico Vítor.
Para ouvi-la, basta clicar aqui.