Salto alto no começo liquida o Flamengo. Se fosse no Maracanã…
Mário Magalhães
Não é verdade que o deputado Eduardo Cunha, trajando o manto rubro-negro, tenha sido responsável pela derrota do Flamengo para o Coritiba, 0 a 2 em Brasília. O presidente da Câmara manda muito, talvez seja pé-frio, mas não tem o poder de um Mick Jagger. De qualquer forma, se o acusado _pela Procuradoria Geral da República_ por corrupção e lavagem de dinheiro pudesse ficar longe, não custava nada…
Não acho que o time deixou o G-4 por ter jogado no Mané Garrincha, e não no Maracanã. Mas disso trato mais abaixo.
Insisto na contexto. Pouco tempo atrás, o perigo era ser rebaixado. Hoje, o Flamengo batalha por uma vaga na Libertadores. Com Oswaldo de Oliveira, seis vitórias e um revés no Campeonato Brasileiro. Tremendo sucesso.
A merecida, põe merecida nisso, vitória do Coritiba foi facilitada por uma contribuição decisiva do Flamengo: a equipe da Gávea e do Ninho do Urubu entrou de salto alto. De cara, numa saída de bola desastrada pela esquerda, só não saiu gol do Coxa porque o Paulo Victor está pegando muito.
O salto alto não costuma ser doloso, mas culposo. Noutras palavras, sem querer. O pessoal não combina no vestiário que vai entrar mais devagar porque, diante de 70 mil pessoas, quase todas torcendo a favor, no confronto entre oponentes no alto e no pé da tabela, não será preciso correr e caprichar tanto. Mesmo sem se dar conta, é isso o que passa em muitas cabeças.
Deu no que deu: o Coritiba, ao contrário da Chapecoense no domingo, entrou atropelando. Com uma disposição semelhante à do Vasco na Copa do Brasil. Um carro de Fórmula 1 contra um da Stock Car.
O relaxamento do Flamengo se manifestou em vacilos graves. O do comecinho foi salvo pelo goleiro. Veio o pênalti cometido pelo Pará, 0 a 1 (acho que foi, mas irrita demais a falta de critérios sobre bola na mão; a interpretação arbitral virou loteria). E o passe do César Martins que originou o segundo gol, quando os defensores na área marcaram bobeira, achando que o Henrique estava impedido (o Samir dava condições).
Aí, complicou, com o Coritiba muito bem fechado, e o Flamengo, já sem o salto alto, incapaz de encontrar espaços em meio ao ferrolho. Também conspirou contra o rubro-negro a noite ruim de Kayke, Everton, Paulinho, Alan Patrick… É mais fácil avacalhar alguém que tenha falhado na defesa, como o César, do que cobrar o ataque.
Sobre o Maracanã, é indispensável uma observação, honestidade intelectual: o clube com maior torcida no Brasil não tem estádio próprio, ao contrário de agremiações mais modestas. Ao menos estádio para acolher um público como o de ontem (não é o caso da Gávea). Muitas administrações passaram, de gente séria e digna a fanfarrões e aproveitadores, e o novo estádio nunca saiu. Portanto, não dá para cobrar da atual diretoria uma solução 100% feliz para a equação grana no caixa x desempenho esportivo.
A partida foi levada para Brasília em nome do faturamento. No Maracanã as chances de conquistar três pontos seriam maiores, mas os cartolas consideraram as finanças prioritárias. Escolha legítima, que não seria a minha.
Mas não creio que o insucesso se deva ao campo. Se jogasse no Rio como jogou em Brasília, o Flamengo perderia. Como a bola de cristal está escangalhada, fica difícil ter muitas certezas.
O que não impede de constatar que os torcedores do Flamengo em Brasília são tão rubro-negros quanto os do Rio. Mas aqui 1) costuma-se incentivar mais; 2) também se vaia o time, mas após seis vitórias a paciência seria maior; 3) alguns núcleos de torcedores não se juntariam às vaias contra o César que, em vez de ajudar, deixaram-no mais inseguro; 4) meia-dúzia iria embora 15, 10 minutos antes do apito final, mas não tanta gente como no Mané Garrincha; 5) a equipe conhece muito mais o gramado do Maracanã, melhor que o de ontem, que provoca incontáveis escorregões.
O fato de que eu não teria vaiado o César nem o time não significa que o pessoal não tivesse o direito de apupar como bem entendesse. Cada um na sua, honrando o direito de manifestação.
Agora, caiamos na real: horrível mesmo era no primeiro turno, quando o flerte não era com a Libertadores, mas com a segundona.