Mordomia: Senado compra 81 carrões; em 1948, Câmara tinha nove automóveis
Mário Magalhães
Até a sexta-feira o Senado completa a renovação da frota de carros dos 81 senadores, um para cada um, informam os repórteres Débora Álvares e Ranier Bragon.
Todo mundo de Nissan Sentra zero bala, por volta de 60 mil reais a unidade. Os Renault Fluence anteriores deviam estar velhinhos, com dois anos de uso.
A despesa milionária ocorre no ano em que um grande acordão nacional abate despesas com saúde e educação, sacrificando os mais sacrificados.
Quem paga a conta da mordomia é o contribuinte, sobretudo os mais pobres, tamanha a distorção tributária. Como os prestadores de serviços do Senado que não têm automóvel para ir ao trabalho.
A frota é maior do que os 81 novos Sentra. Por exemplo, o presidente da Casa tem carro suplementar, mais chique.
Que da década de 1940 para cá o Brasil melhorou qualquer cidadão honesto sabe. Basta ver as estatísticas de analfabetismo, mortalidade infantil etc.
Mas há desgraças que pioram. É o caso da mordomia.
Quantos automóveis a Câmara dos Deputados tinha em 1947? Onze.
Acha pouco? Em 1948, diminuiu para nove!
O total, não somente os veículos oficiais dos deputados.
Hoje, só para deputados, são onze. Incluindo, tan-tan-tan-tan, um para o presidente do Conselho de… Ética.
E o Senado dos anos 1940? Não conheço a resposta.
Em 1946, os deputados federais não tinham à disposição ''apartamentos funcionais''. O Congresso ficava no Rio, a capital.
Isso tudo significa que antes a Câmara e o Senado eram melhores? Dificilmente. Para dar uma ideia das desigualdades brasileiras, a Constituinte de 1946 não contava com uma só mulher entre suas centenas de componentes.
Mas as mordomias eram menores.
Hoje há Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais em que cada deputado ou vereador tem direito a um carro.
Alguns têm a decência de recusar a bocada.
A propósito: algum senador abriu mão do Fluence e abrirá do Sentra?