Poucos times têm tanto motivo para reclamar de arbitragem como o Flamengo
Mário Magalhães
A informação desacompanhada do contexto pode desinformar, talvez não como a mentira, mas longe da verdade.
Exemplo histórico é a tomada de Berlim, em 1945, pelas tropas soviéticas triunfantes na guerra. Os soldados do Exército Vermelho cometeram toda sorte de abusos contra a população civil, sobretudo mulheres. A informação só está completa quando se conta o que os militares alemães haviam aprontado ao invadir a União Soviética. Não se trata de justificar ou minimizar as barbaridades dos soviéticos, muito menos as da Wehrmacht, mas de contextualizá-las.
Contexto foi o que faltou em numerosos comentários sobre o passeio rubro-negro no Fla-Flu. Para quem não viu, a síntese é a seguinte: poucos placares foram tão enganosos no Campeonato Brasileiro como o 3 a 1 no Maracanã. Se o Flamengo tivesse caprichado mais, 7 a 1 não teria sido aberração, tamanha a assimetria entre uma equipe que ascende e outra que cai.
A equipe do Oswaldo de Oliveira, quatro vitórias em quatro partidas na competição, é a de melhor aproveitamento no segundo turno. O jogo de ontem deixou claro que a principal mudança, além da confiança, é a troca do cultivo mais prolongado da posse de bola pela aposta em bem-sucedidos ataques rápidos. O técnico entendeu mais as características do elenco do que o antecessor, Cristóvão Borges.
O primeiro gol do Flamengo ocorreu em falha do árbitro, que não viu a bola bater no braço do Wallace antes de o Emerson completar. Repito: falha do árbitro.
Houve quem quisesse atribuir a tal erro a supremacia rubro-negra. Ela já ocorria, desde a saída de bola, e continuou depois.
Mas o maior problema na abordagem é descontextualizar o que ocorre com o clube da Gávea e do Ninho do Urubu no Brasileiro. O Flamengo é um dos times mais prejudicados, como demonstrou no sábado levantamento publicado pela ''Folha''.
Nenhuma equipe foi mais garfada. Ao lado do Flamengo, empatavam Atlético-MG, Fluminense, Palmeiras e Sport.
Os mais beneficiados foram Corinthians e Avaí, com quatro mãozinhas. Os catarinenses fizeram gol fatal contra o Flamengo, 2 a 1, depois de a bola ter saído, muiiiiito, pela linha de fundo.
O Flamengo também se deu mal num pênalti inventado para o Fluminense, no primeiro turno, outro tento decisivo, 3 a 2.
Isso tudo elimina o fato de que o Wallace tocou na bola?
Não, mas contar o episódio do Fla-Flu omitindo que o Flamengo tem sido muito prejudicado é construir uma narrativa sem contexto.
Em torcedores, até se entende. No noticiário, fica esquisito. Sugiro compararem as coberturas do 3 a 2, com o penal mandrake, com a do 3 a 1 de ontem. Desproporção. E a ladainha segue hoje.
O tom do domingo fez com que o Flamengo parecesse se dar bem com arbitragens. Não é o que tem acontecido. Nesse infortúnio, Fla e Flu estão juntos. Haja juiz ruim!
E olha que a pesquisa da ''Folha'' ignora outros equívocos, mas deixa pra lá.