Em mais um ano sem título, o Flamengo colhe o que plantou
Mário Magalhães
Pelas seis da manhã, o filho de oito anos se levantou, vestido com a camisa do Flamengo com que dormira, e perguntou sem dar nem bom dia, antes da notícia ruim:
''Quanto foi o jogo?''
Horas antes, sacramentada a eliminação rubro-negra na Copa do Brasil, o irmão vascaíno torpedeara: ''Freguês''.
No começo da partida, depois do gol contra de Madson, Flamengo 1 a 0, o irmão gremista mandara outra mensagem: ''Que confusão, hein!''.
Confusão no gol controverso e em seguida mais confusão ainda no time que vencia. Em meia hora, o Flamengo perdeu seu maior trunfo ofensivo, Guerrero, e a aposta, Ederson, para a bola chegar camarada ao ataque. Ambos contundidos. O futebol ficou confuso e indigente, com aqueles chutões para a frente que têm chance de resultar em gol igual à do nosso bilhete de rifa ser premiado.
Com Oswaldo de Oliveira, o Flamengo venceu domingo o São Paulo no Campeonato Brasileiro e empatou ontem em 1 a 1 com o Vasco. Ainda sob o comando de Cristóvão Borges, perdera para a equipe cruzmaltina o primeiro confronto do mata-mata. Fica, renovando a rotina, pelo caminho. Com mais um gol sofrido em bola aérea, repetiu o feito-defeito das seis partidas anteriores.
O Flamengo foi sobrepujado pelo lanterninha do Brasileiro. Sem Brasileiro e Copa do Brasil, acumula mais um ano sem título nacional. Em 2015, também sem o Estadual. Só os otimistas desbragados acham que dá para alcançar uma vaga na Libertadores, assim como há de ser pessimista tarja-preta para temer o rebaixamento.
A nova temporada de reveses é consequência da gestão do clube. A diretoria parece ter transformado o equilíbrio das contas, relevante e urgente, em fim em si mesmo. Como se o futebol fosse coadjuvante.
Não é problema exclusivo de orçamento. Muitas agremiações, com menos dinheiro que o Flamengo, montaram times mais competitivos. A cartolagem rubro-negra, tabelando com seus executivos e treinadores, sobretudo Vanderlei Luxemburgo, contratou um elenco com fragilidades notórias. É incrível que antes do Brasileiro tivesse expectativa de disputar a cabeça. Colhe o que plantou.
Guerrero e Ederson foram buscados durante o Brasileiro, às pressas, para evitar fiasco maior. Quando eles deixaram o campo, a ambição de jogar com a pelota no chão virou frustração. Permitir ao Vasco controlar a bola não é para qualquer um, há que se superar em jogo ruim. E velocidade, sem qualidade nos passes, não basta.
O Vasco teve méritos para vencer. O que não impede o registro factual: dos três gols do mata-mata, apenas um foi sem dúvida decorrente de jogada ilegal, o tento vascaíno no 1 a 0.
Outro pitaco pontual: Emerson disse no intervalo que o juiz é ''um merda''. Certamente será punido pela justiça desportiva. Reitero: castigar manifestação de opinião é medida inconstitucional, fere direito democrático garantido pela Carta de 1988. Não é porque o Sheik está no Flamengo. Nos tempos dele no Botafogo, eu já pensava a mesma coisa. Os árbitros também querem os seus caraminguás pelas transmissões, como ''artistas do espetáculo''. Então, que possam ser criticados, como um ator canastrão ou um cineasta… de merda. Quem se sentir ofendido que recorra à Justiça comum. Chega de sufocar a liberdade de expressão. Para não dizerem que fiquei em cima do muro, concordo com o conteúdo da avaliação do Sheik, que levou uma botinada, a falta foi marcada a favor do agressor, e o atacante de pavio curto ainda recebeu amarelo. Como definir tal juiz?
Para um 2016 mais generoso, há que superar a inépcia da atual cartolagem do Flamengo, agora dividida em duas chapas para a eleição vindoura. O caminho é profissionalizar mais a administração. Mas com a diretoria recrutando executivos eficientes e vitoriosos. Caso contrário, vamos continuar dando más notícias às crianças rubro-negras.