Blog do Mario Magalhaes

Batom na cueca, mordida do Suárez e o protesto que socorre Eduardo Cunha

Mário Magalhães

Analistas e aliados avaliam as ambições e perspectivas de Cunha na política

Cunha: esperança no domingo – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Batom na cueca constitui metáfora amorosa para o crime, deslize ou evidência que não dá para negar.

Como já contei, o saudoso jornalista Oldemário Touguinhó, figura única como seu nome, bolou uma versão para provar que a imagem não era infalível: vinha eu andando pela avenida Rio Branco, quando na direção oposta caminhava pela calçada uma anã com a boca untada de batom; de repente, meu cinto arrebentou, a calça caiu, e eu me distraí; no mesmo instante, a também distraída anã apareceu na minha frente, não desviei, ela bateu com a cara na minha florida cueca samba-canção e deixou o carimbo de seus lábios avermelhados para eu explicar em casa (tudo isso foi brincadeira do Oldemário, o boêmio que não bebia álcool e que um dia deu um tremendo furo jornalístico só para se vingar de um repórter de outro jornal que o subestimara, chamando-o de ''Old Mário'').

Outra contribuição para negar o inegável foi do uruguaio Suárez. Ao morder adversários, o atacante deu ideia a homens, mulheres e quem mais chegar. Marcas de dentes e chupões? Disputa renhida de bola na pelada e briga generalizada no botequim ou na quadra de vôlei. E estamos conversados.

Multidões se preparam para ir às ruas no próximo domingo, reivindicando o impeachment de Dilma Rousseff. O que o Oldemário e o Suárez têm a ver com isso?

Só acreditando na estória da anã do batom na cueca e na mordida do Suárez é possível recusar a resposta incontornável a uma das perguntas mais relevantes sobre o 16 de agosto: quem será o maior beneficiário de manifestações massivas contra a presidente?

Não é necessário muito esforço intelectual, indo ou não ao protesto, para saber que é o deputado Eduardo Cunha.

Isso já era óbvio há tempos, antes dos atos oposicionistas de cinco meses atrás, como então comentou o blog: ''Se uma multidão aparecer em 15 de março, o poder do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ficará ainda maior. E chantagens contra Dilma aumentarão''.

Dito e feito. Hoje, ele tem mais poder que antes do 15 de março. Mas é mais ameaçado, sobretudo pela possível acusação que o Ministério Público Federal ensaia lhe fazer no âmbito da Operação Lava Jato.

Como o capo da Câmara identifica no governo seu maior inimigo, culpando-o pelas ações da Procuradoria Geral da República, o enfraquecimento de Dilma lhe interessa.

A questão não é simpatizar ou não com a manifestação dominical. Mas, sendo contra, a favor ou muito pelo contrário, reconhecer que ela socorre Eduardo Cunha em momento de fragilidade.

Não é preciso explicar a conhecida agenda do deputado para o Brasil.

Ela se fortalecerá, como o deputado que a encarna, com cada pessoa que comparecer _o que é legítimo, claro_ ao protesto do domingo.

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