51 anos após última libertação, Marighella é nome de conjunto residencial
Mário Magalhães
Passeemos pela história.
No dia 31 de julho de 1964, o revolucionário baiano Carlos Marighella foi solto no Rio depois de a Justiça conceder habeas corpus pedido pelo advogado Sobral Pinto. Foi a última libertação do ex-deputado constituinte, que já havia conhecido a alegria de se despedir do cárcere em 1932, 1937 e 1945. Nunca mais iria em cana. Em 4 de novembro de 1969, desarmado, foi morto a tiros por agentes da ditadura que poderiam, se quisessem, prendê-lo.
Cinquenta e um anos mais tarde, neste 31 de julho de 2015, Marighella tornou-se nome de um conjunto residencial em Maricá (RJ), iniciativa do programa Minha Casa, Minha Vida. Foram inaugurados os residenciais Carlos Marighella e Carlos Alberto Soares de Freitas. Somam 2.932 unidades habitacionais. Também guerrilheiro, Carlos Alberto foi assassinado pela ditadura e seu corpo nunca foi entregue à família. Há um ótimo livro sobre ele, de autoria de Cristina Chacel, ''Seu amigo esteve aqui'' (Zahar).
Antes da sua derradeira saída da prisão, Marighella tinha sido baleado por tiras da polícia política, num cinema carioca repleto de crianças. Naquele fim da tarde de 9 de maio de 1964, o cinquentão resistiu, lutou capoeira, jorrou sangue, quase morreu. Ao deixar o prédio do Dops em julho, fez um périplo por jornais, como documenta a foto lá no alto. Denunciou a brutalidade policial que colocou crianças em risco e por pouco não tirou a vida dele. Em seguida, passou para a clandestinidade.
Na cerimônia de hoje em Maricá, a presidente Dilma Rousseff se referiu a Marighella como ''um grande lutador, um grande guerreiro''. O então presidente Lula afirmou em 2008 que as novas gerações precisam conhecer o guerrilheiro que incendiou o mundo: ''Marighella não morreu por ser bandido. Morreu porque acreditava numa causa''. Em 1996, um colegiado instituído no governo Fernando Henrique Cardoso _a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos_ concluiu que a polícia poderia ter rendido Marighella em 1969, sem matá-lo.
Esquinas do tempo: em 1947, o deputado Marighella havia batalhado na Câmara, assim contei, ''pelo direito de seiscentas famílias permanecerem no terreno ocupado na localidade soteropolitana do Corta-Braço _o governo declarou a área de utilidade pública, indenizou o proprietário e manteve os moradores''. Agora, batiza moradias que representam mais conforto para milhares de brasileiros, ainda que faltem acabamentos e estrutura que, tomara, logo virão.
Anos depois da morte de Marighella, o escritor Jorge Amado disse que havia uma ''maldição do silêncio'' contra seu amigo.
Aos trancos e barrancos, vai ficando para trás o obscurantismo maldito de eliminar personagens da história _gostemos ou não deles e de quem lhes presta homenagem.
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