Blog do Mario Magalhaes

Daniel Alves para presidente da CBF

Mário Magalhães

Mitou: Daniel Alves, no ''Bola da vez'', da ESPN Brasil – Foto divulgação

 

O que se assistiu na noite de ontem na ESPN Brasil foi uma das mais espetaculares entrevistas da história do jornalismo esportivo brasileiro.

Se na década de 1970 Almir Pernambuquinho expusera os intestinos do futebol como nenhum jogador antes, Daniel Alves esquadrinhou os bastidores do esporte contemporâneo, do futebol-futebol ao mundo e submundo da cartolagem.

Com coragem e inteligência que, de tão corajosas e inteligentes, assombraram.

Contou com a sabedoria de três entrevistadores que sabem que o papel de entrevistador é perguntar. Dan Stulbach, André Kfouri e Mendel Bydlowski indagaram e provocaram com talento incomum. Não ignoram que a palavra é sobretudo de quem responde, não de quem pergunta.

Depois de hora e meia de programa, a conclusão é que Daniel Alves reúne todos os predicados para assumir o comando da Confederação Brasileira de Futebol no lugar dos figurões carcomidos que a controlam há décadas.

O problema seria conciliar o posto com a condição de melhor lateral-direito brasileiro em atividade, como se viu nos três títulos recentes pelo Barcelona e nas atuações dignas na Copa América.

Talvez não tenha havido bomba jornalística maior que a revelação de que Pep Guardiola se dispunha a treinar a seleção no Mundial que se tornou o dos 7 a 1, um ano hoje.

Mas o comentário foi tão ou mais relevante: quem recusa ''o melhor'' técnico não pode estar preocupado com a seleção.

Daniel Alves não afinou ao comentar a ausência do presidente da CBF na Copa América. Enquanto certas coberturas jornalísticas mal tocavam ou não tocavam no assunto, um jogador que pode vir a ser banido da seleção, como castigo pelas declarações, não poupou Marco Polo Del Nero.

Nem Dunga, cujos treinamentos estão metodologicamente atrasados em relação aos da Europa, confirma o craque do Barça.

Contradizendo o que sustenta o ex-boleiro, ex-treineiro e atual comentarista Mário Sérgio, chamou a atenção: se não há técnicos brasileiros em grandes clubes europeus, é porque não estão entre os melhores. Parece óbvio, mas às vezes ninguém tem peito para apontar a nudez real.

Avacalhou o jornalismo esportivo, com propriedade, no que se refere a treinos secretos. Depois da Copa América, Galvão Bueno vociferou contra sessões fechadas aos repórteres. Ora, foi assim que a Alemanha triunfou na Copa, e o Barcelona na Champions. É dessa maneira que a elite do futebol trabalha há uma eternidade.

Gestores deveriam ouvi-lo, especialmente a explicação do motivo por que tenta se cercar dos melhores: com medíocres, aproxima-se deles; com os excelentes, ascende.

Mais: quando se sente valorizado, rende mais. Desvalorizado, cai.

Destruiu lugares comuns como ''técnico não ganha jogo''. E até exagerou: ganha sozinho. Quem? Guardiola. Um exemplo: no antológico 5 a 0 sobre o Madrid de Mourinho.

Para quem o supõe um maluco, esclareceu o óbvio: o personagem público é isso mesmo, um personagem.

Amadorismo? O cara tem uma ''equipe'' que cuida exclusivamente da sua alimentação, preparada para as exigências cavalares da alta competição.

A degradação da CBF e do futebol nacional atinge os jogadores da seleção. Pouco arriscam em campo, com medo de serem vilanizados, denunciou o entrevistado.

E a entidade pune quem diverge em público. Foi o caso de Dante, nomeou Daniel.

Maduro, articulado, íntegro, bom de bola: eis um presidente da CBF para virar a página.

Sobre o vestuário do cabra, cada um na sua. E o do Daniel é mais bacana que a moda de presidiário adotada pelo Marin.

Para quem acha que eu exagero, sugiro assistir ao ''Bola da Vez''. Vastos trechos da entrevista estão na página da ESPN, aqui.

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