No banco, Serra aquece para 2018; mas só ele sabe que é ‘arma secreta’
Mário Magalhães
Ingênuo como costumo ser, em outubro perguntei a um colega e amigo de Brasília se o senador José Serra tinha aposentado a ambição de se tornar presidente.
O colega, que sabe muito de política, reagiu com uma gargalhada visceral, que dispensou maiores explicações.
Serra desistir do Planalto seria algo como o Pará, lateral do Flamengo, acertar os cruzamentos ou o Dunga entender que a maioria torce a favor dele, e não contra.
Pensei no Serra outro dia, quando não o vi na caravana de senadores que foram à Venezuela protestar contra o governo local e, ao primeiro obstáculo, tiraram o time de campo.
O candidato duas vezes derrotado à Presidência não fraquejaria, suponho, tão facilmente.
Mas não é isso o mais significativo, e sim sua ausência em Caracas: Serra não tem se arriscado em bolas divididas como a fanfarronice no estrangeiro e a aventura do impeachment de Dilma Rousseff.
Distancia-se, ao menos nas aparências, da direita mais primitiva que o influenciou demais em 2010, num erro que pode ter sido decisivo na derrota para Dilma _em vez de disputar o eleitorado de centro-esquerda com a petista, isolou-se.
No noticiário, aparece nas atividades do Congresso e no debate sobre redução da maioridade penal, exploração do pré-sal e outras pautas relevantes.
Concorde-se ou não com suas opiniões, é inegável que Serra se oferece para o jogo. O jogo de 2018.
Para concorrer à sucessão de Dilma, teria de superar os favoritos para representar a legenda do PSDB: o senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin.
Uma concorrência fratricida entre os postulantes mais cotados poderia, eis a aposta de Serra, fortalecê-lo como nome de consenso.
O problema é lograr consenso em torno do senador paulista, desgastado nas desinteligências tucanas dos últimos anos.
No banco, ele aquece. É como se fosse uma arma secreta.
Mas só ele sabe disso.
Serra lembra um amigão da minha adolescência, o magrão Lucas, do time de basquete da escola.
Ele era reserva e nunca entrava. Brincalhão, justificava: ''Sou uma arma secreta, mas tão secreta, que nem o técnico sabe disso''.
Por enquanto, Serra, 73, é o magrão Lucas de 2018. Por enquanto.
No mais, três anos são muito tempo para surgir um candidato-surpresa _o juiz Sérgio Moro?_ que se beneficie da enorme frustração com ''tudo o que está aí'' e que deixe Serra, Aécio e Alckmin em lugar secundário na oposição.