‘Alguém mudou de lado’, por Janio de Freitas
Mário Magalhães
Por Janio de Freitas, aniversariante de junho:
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Um lado e a outra
Por Janio de Freitas
O motivo do plural é obscuro. Claro e certo é que o sujeito ''nós'' refere-se, no mínimo, ao emitente da frase. No caso, Dilma Rousseff, que brindou o 5º Congresso do PT com esta criação sua: ''Nós não mudamos de lado''.
Quanto aos outros possíveis componentes do ''nós'', além de desconhecidos, tudo indica estarem na frase, se estão mesmo, à revelia. E indefesos. Mas Dilma é uma certeza, por evidências bastante simples.
As centenas de milhares, senão já os milhões, que estão perdendo os empregos, encarando forte aumento do custo de vida, aturdidos com a perda das pequenas conquistas em anos recentes, não podem estar no mesmo lado de quem os lança em sua situação atual.
Estiveram do mesmo lado, sim, quando Dilma representou nas eleições o oposto das políticas defendidas por seu adversário e hoje vigentes, apesar de derrotadas na urnas.
Se há autores e vítimas de tais políticas, um dos lados mudou. Mas a possibilidade de mudança daqueles milhares ou milhões de sacrificados pelas políticas de governo é limitada e já se deu: foi a mudança forçada do lado de dentro para o lado de fora da empresa empregadora.
Se os outros que defendem as políticas de atenuação do drama social brasileiro puderam votar em Dilma e veem, hoje, a imposição das políticas opostas, alguém mudou de lado. Os eleitores não teriam por que e como fazê-lo.
Joaquim Levy, a quem a eleita entregou a elaboração das políticas que negam as posições proclamadas pela candidata, não mudou de lado: era neoliberal fora do governo e age como neoliberal no governo de quem se dizia contrária ao neoliberalismo. Se estão juntos, um dos dois mudou.
Se Dilma Rousseff presidente fosse leal à Dilma candidata, não precisaria, hoje, recorrer a fugas verbais. Como esta outra: ''Essa é a hora de ver quem é quem'', pretensa intimidação moral à plateia petista em silêncio patético. Mas a hora a que se refere ficou lá atrás. Quando, sabendo muito bem que há maneiras e maneiras de corrigir os sempre possíveis percalços da economia, Dilma abdicou do que representava, e entregou o poder recebido aos que fizeram tudo para evitar que o recebesse.