Governo do RJ torna permanente o atraso nas bolsas para pesquisadores
Mário Magalhães
Imagine que você, como quase todo mundo na idade adulta, dependa do seu próprio trabalho para sobreviver.
E que boa parte das suas contas vençam antes do dia 10 de cada mês.
Os seus vencimentos, contudo, só caem no dia 10, o que implica pagar juros e multas, recorrer a empréstimos, ficar inadimplente e coisa e tal.
Agora, imagine que no dia 10 o seu pagamento não sai. E nada de explicação.
Pior: no dia seguinte, o responsável pela sua remuneração envia um e-mail informando unilateralmente que o pagamento passou para o dia 20.
Não somente em junho de 2015, mas para sempre.
É isso o que acaba de acontecer com os cientistas de diversas áreas que recebem bolsas da Faperj, a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.
Na tarde de ontem, a agência de fomento à ciência vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia transmitiu a seguinte mensagem eletrônica aos bolsistas:
''O Governo do Estado do Rio de Janeiro, assim como o Governo Federal e os demais estados da federação, vem realizando adequações orçamentárias ao longo do ano, o que tem alterado a liberação de repasses pela Secretaria Estadual de Fazenda. Em função disto, o pagamento de bolsas a partir deste mês passará a ser feito no dia 20.
A FAPERJ reafirma o seu compromisso com o pagamento de todas as verbas de custeio e auxílios.''
Entre os bolsistas existem os que, por exigência contratual da Faperj, são obrigados a se dedicar exclusivamente às atividades de pesquisa.
Isto é, não têm outras rendas.
Em fevereiro, a fundação já atrasara as bolsas. Naquele mês, o e-mail foi este:
“A FAPERJ informa que, em razão de dificuldades do fluxo orçamentário do Tesouro Estadual, o pagamento de bolsas referentes ao mês de janeiro será realizado no próximo dia 24 de fevereiro.
A FAPERJ tem zelado para manter a pontualidade e regularidade no pagamento de seus bolsistas. Lamentamos o transtorno causado por esse atraso.''
Zelou pouco, pelo visto.
São prejudicados estudantes universitários, professores visitantes, professores pesquisadores, professores pós-doutorandos. Há bolsistas de pesquisa e docência, de iniciação científica. E mais.
A institucionalização do atraso do pagamento agrava o perrengue de muita gente que resolveu dedicar a vida à produção e transmissão de conhecimento.
E desincentiva vocações para a ciência.
O governador Luiz Fernando Pezão não parece satisfeito com o aparente propósito de arruinar a Uerj.
Seu governo ameaça castigar ainda mais o ensino e a pesquisa.