Os 9 a 0 anticensura são o 7 a 1 do obscurantismo; hora de contar histórias
Mário Magalhães
Três pitacos sobre o julgamento do Supremo Tribunal Federal que extinguiu a censura prévia para biografias não autorizadas:
1) foi um pequeno passo para os biógrafos e um grande salto para a sociedade brasileira. Perdeu o autoritarismo, triunfou a democracia. Os 9 a 0 contra a censura são o 7 a 1 do obscurantismo;
2) para quem batalhar pela liberdade de expressão, hoje ou no futuro, sugiro se inspirar em dois votos brilhantes: o da ministra-relatora Cármen Lúcia (leia aqui), a musa anticensura, e o do ministro Luís Roberto Barroso (aqui). São aulas de direito e cidadania. Eruditas, inteligentes e saborosas (ela citou Guimarães Rosa, e ele, Taiguara);
3) a decisão dos nove ministros ameniza os constrangimentos que fazem com que candidatos a biógrafo pensem um milhão de vezes antes de encarar uma biografia. Numerosos projetos biográficos abandonados serão retomados, muitos que estavam em banho-maria agora vão ferver, e outros que andavam com freio de mão puxado vão acelerar. Não só biografias, mas o conjunto de obras de não ficção que retratam, por definição, gente real. A vida dos censores ficou mais difícil, sorte dos cidadãos. Hora de contar _ainda mais_ histórias.