Era Messi
Mário Magalhães
Genial herdeiro, saiba ele ou não, de Johan Cruijff, Telê Santana e Cláudio Coutinho, o técnico Pep Guardiola costuma rejeitar a classificação de ''Era Guardiola'' para o período mais vitorioso da história do Barcelona. Trata-se da ''Era Messi'', corrige o catalão, não é de hoje.
No sábado, a história mais uma vez reverenciou a sabedoria de Guardiola. O Barça bateu a Juventus por 3 a 1 e conquistou sua quinta Champions, a quarta no currículo de Lionel Messi, 28 anos a completar neste maio.
O argentino participou dos três gols. No primeiro, virou a bola da direita para a esquerda, atrapalhando a defesa adversária diante da linha-de-passe à Guardiola que culminou com gol de Rakitic, após toque de Iniesta, que recebera de Neymar. No segundo, arrancou no contra-ataque, acertou um tirambaço, espalmado por Buffon, para arremate fatal de Suárez. No terceiro, lançou da intermediária da sua equipe para o ataque, em jogada concluída por Neymar depois de assistência generosa de Pedro. Em suma, Messi brilhou e decidiu.
Nesta temporada, ele se reinventou em campo. Embora negando-se a permanecer num curral, trocou a posição básica de falso 9 para a extrema direita do ataque. Na final de anteontem, recuou, como um meia-direita.
E sabe quem bolou a nova forma de jogar? De acordo com Suárez, foi o próprio Messi. No início da temporada, o baixote continuava como centroavante fake, com o uruguaio na ponta direita. Em certo jogo, Messi propôs que invertessem. Quando o atacante mordedor se preparava para regressar para a direita, Messi lhe disse: não, vamos continuar assim. Desta forma, os antídotos que os oponentes haviam desenvolvido para anular Messi tiveram a validade vencida, e Suárez passou para o lugar onde rende mais, de cara para o gol.
Maduro, Messi participou do pacto dos boleiros para triunfar, a despeito dos choques com o técnico Luis Enrique. Passou quase todo o ano de 2015 sem falar com o treinador, depois de, em janeiro, ter ficado no banco em peleja no País Basco. Naquele jogo, Neymar, também barrado, fez chacota entre os reservas, mandando Messi aquecer depois de a Real Sociedad largar na frente.
Há um despropósito na comparação a seco do Barcelona de Luis Enrique com o de Guardiola. Este nunca quis impor um estilo absoluto, à revelia das características dos jogadores. Basta ver o que fez no Bayern de Munique, amenizando a obsessão pelo controle da bola, sem abrir mão dele, para uma tática-estética mais vertical.
Qual o despropósito? Guardiola trabalhou com atacantes como Pedro e Alexis Sánchez. Dá para equipará-los a Neymar e Suárez? Com esta dupla, o contra-ataque torna-se muito mais promissor. Certamente Guardiola também apostaria mais em contragolpes. Ainda assim, no triplete Liga-Copa do Rei-Champions, o Barça quase sempre teve a bola mais consigo, sem oferecê-la ao antagonista. Permanece o DNA de Cruijff e Guardiola.
Outro contraste relevante: Guardiola contou com Xavi, o maestro, no auge. Neste fim de carreira no clube de sua vida, o meia mais elegante foi reserva de Iniesta. Mesmo com o ótimo Rakitic, o toque de bola ficou menos refinado.
É um privilégio viver no tempo da Era Messi.
Do jeito que as coisas vão, quando o craque supremo da nossa época pendurar as chuteiras, chegará uma nova etapa do futebol, que já se desenha: a Era Neymar.