Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : junho 2015

Ao bajular Kissinger, Dilma tripudia sobre sua própria história
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Mário Magalhães

A presidente Dilma (à dir.) cumprimenta o ex-diplomata americano Henry Kissinger em Nova York

O padrinho de torturadores e a brasileira torturada – Foto Roberto Stuckert Filho/Presidência/AFP

Estádio Nacional: “Um povo sem memória é um povo sem futuro” – Foto www.tenfield.com.uy

 

Só um parvo juramentado ignora que não está na moda zelar por sua própria história, no caso de quem tem uma história digna de zelo.

Ainda assim, é assombrosa a sem-cerimônia com que a presidente da República tripudia sobre o seu passado.

Nesta segunda-feira melancólica, Dilma Rousseff não somente se encontrou com Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, como adulou-o sem resquício de pudor. Na apoteose da bajulação, incensou-o como “pessoa fantástica, com grande visão global”.

De 1970 a 1972, a valente guerrilheira Dilma amargou a prisão por lutar contra a ditadura. Foi torturada com choques elétricos e pancadas, padeceu no pau-de-arara, conheceu a barbárie.

Nessa época, o governo dos Estados Unidos apadrinhava a ditadura brasileira que consagrara como orientação de Estado a tortura contra adversários políticos. Kissinger era conselheiro de Segurança Nacional, influenciando decisivamente a política externa da Casa Branca.

Em 1973, ele assumiu o posto equivalente ao de ministro das Relações Exteriores. Como “conselheiro” manda-chuva, na bica de se tornar secretário de Estado, articulou com golpistas chilenos a deposição do presidente constitucional Salvador Allende.

No Estádio Nacional, em Santiago, cidadãos foram torturados, executados e tiveram os corpos sumidos para sempre. Um deles foi o exilado brasileiro Wanio José de Matos.

Kissinger batizou e protegeu outras ditaduras que exterminavam à margem da suas já autoritárias leis, como a da Argentina e a do Uruguai.

Henry Kissinger simboliza o horror. É ídolo de viúvas da ditadura. Abençoa conspiradores contra a democracia. Inspira golpistas que rejeitam a soberania das urnas. Representa os valores contra os quais a presidente brasileira dedicou boa parte de sua vida.

Num dia, Dilma chora pela memória do amigo e companheiro de lutas Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, “desaparecido” em 1971.

Noutro, rasteja diante de Kissinger, “pessoa fantástica”.

Lágrimas por Beto não combinam com o servilismo diante do cúmplice dos assassinos de Beto.

O propósito do beija-mão seria trazer investimentos estrangeiros ao Brasil.

Um erro. Não é fulminando a decência, ao sabujar o grande articulador dos regimes da tortura e fiador da Operação Condor, que se constrói uma nação.

Pouco antes de saber do convescote em Nova York, assisti pela TV à semifinal da Copa América, triunfo do Chile sobre o Peru.

O jogo foi no Estádio Nacional, onde o brasileiro Wanio foi visto pela última vez.

Continua lá, no antigo campo de concentração, pintado junto à arquibancada, um apelo às novas e velhas gerações: “Um povo sem memória é um povo sem futuro”.

Os estádios também dão suas lições.

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Elite celebra Nordeste no São João, mas diz que nordestino não sabe votar
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Mário Magalhães

Festa de São João em Campina Grande – Foto Gustavo Magnusson/Fotoarena/Folhapress

 

Se eu fosse antropólogo ou cientista político, tentaria entender o paradoxo: certa elite que Brasil afora celebra a cultura do Nordeste nas festas de São João é a mesma que, quando seus candidatos prediletos malogram em eleições, diz que os nordestinos não sabem votar.

Um dos maiores prazeres do arraiá junino é, em quase todos os Estados, ouvir músicas do pernambucano Luiz Gonzaga e do cearense Humberto Teixeira. E comer iguarias nordestinas só encontradas, por muitos, de ano em ano.

Nas festas frequentadas sobretudo pela classe média alta para cima, como combinar a reverência ao mundo nordestino desqualificando a gente cidadã do Nordeste?

Como o carinho faz tabelinha com o desprezo?

Vai saber…

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Ao culpar ‘um atleta’ por eliminação, Del Nero abusa da covardia
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Mário Magalhães

Del Nero, em meio a sombras - Foto Daniel Marenco/Folhapress

Del Nero, em meio a sombras – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

Surpreendente não é, mas Marco Polo Del Nero ousou culpar “um atleta” pela eliminação do Brasil na Copa América.

Foi o que ele disse, ou melhor, escreveu, e vale o escrito.

Escreveu aos repórteres Sérgio Rangel e Marcel Rizzo, como se lê clicando aqui.

Eis trecho de mensagem digitada pelo presidente da CBF: “As seleções [que disputarão com a nossa as Eliminatórias da Copa 2018] estão no mesmo nível, com favoritismo argentino por conta de possuir no elenco o atleta Messi. A nossa foi desclassificada [da Copa América] por um erro de um atleta”.

Sem dar nome, Del Nero se referiu a Thiago Silva (fez pênalti no tempo normal contra os paraguaios), Neymar (não atuou porque pegou quatro jogos de gancho), Douglas Costa ou Éverton Ribeiro (estes dois desperdiçaram penais na série de cobranças do sábado).

Noutras palavras, o cartola afirmou:

1) que José Maria Marin, presidente da CBF quando Dunga foi contratado, e hoje preso na Suíça, não tem responsabilidade pelo desastre;

2) que o próprio Del Nero, ao se ausentar do Chile (medo de ir em cana?), não enfraqueceu politicamente a delegação no jogo de interesses de bastidores;

3) que Dunga não tem culpa alguma pela equipe horrorosa;

4) que a cobrança deve ser somente em relação aos jogadores. O fiasco, que é coletivo, seria obra só dos boleiros.

É covardia demais.

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O problema da 2ª temporada de ‘True Detective’ é a comparação com a 1ª
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Mário Magalhães

True Detective Season 2 Rachel McAdams Character Poster True Detective Creator Teases New Psychology of Season 2; Posters Released

Rachel McAdams: totalmente demais – Foto divulgação

 

Com dois episódios exibidos, parece muito boa a segunda temporada de “True Detective”, série selo HBO.

Mudam os personagens e o cenário. Permanece a trama policial-existencial.

Louisiana ficou para trás, agora é a vez da Califórnia, mas os dias continuam sombrios.

Não são mais dois protagonistas, e sim três (sem contar um tipo mafioso). Saíram os tiras vividos por Matthew McConaughey e Woody Harrelson, interpretações espetaculares. Entraram os polícias na pele de Rachel McAdams, Colin Farrell e Taylor Kitsch.

Antes e depois, almas atormentadas.

As criações de Nic Pizzolatto seguem em alto nível. O problema da segunda temporada é a comparação com a primeira.

Por mais talentosos que sejam todos em 2015, o que se viu na estreia de 2014 foi uma obra-prima televisiva.

Talvez Pizzolatto passe a vida buscando o auge conhecido precocemente, como já ocorreu com muitos artistas.

Mesmo se não reeditar o brilhantismo passado, o que ele oferece todo domingo à noite é um deleite estético.

Como parece saber que os dois personagens originais são quase inigualáveis, Pizzolatto incrementou a história criminal.

Isso aumentou a quantidade de personagens importantes, o que dificulta reconhecê-los.

Mas crescem as surpresas, como a que encerrou o episódio de ontem e deu vontade de não perder o próximo.

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Quem disse que Dunga, a mistura de estupidez com ódio, é inimputável?
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Mário Magalhães

Dunga disse mesmo o que disse – Foto Ng Han Guan/AP

 

Sábado de manhã, dia de cortar o cabelo, no velho salão de Copacabana.

Aqui e ali, pipocam conversas sobre a declaração do Dunga na véspera.

Para quem esteve ausente do planeta nos últimos dias, eis o que disse o técnico da seleção, sobre as críticas que recebeu e recebe: “Eu até acho que eu sou afrodescendente, por tanto que eu apanhei e gosto de apanhar”.

Você pode até dizer que eu estou por fora ou então que eu estou inventando, tamanha a barbaridade.

Para ter certeza, assista clicando aqui, na boca do treinador.

No barbeiro, os pitacos diziam mais ou menos a mesma coisa: o Dunga não sabe o que fala, não sabe falar, é semianalfabeto, não estudou, não pode ser levado a sério, deixa pra lá.

Talvez alguém concordasse com a opinião do treineiro, mas ficou quieto.

Em suma, o pessoal falou que o Dunga seria inimputável; sua ignorância o impediria de ser julgado.

Essa postura me parece, para começo de conversa, um desrespeito ao técnico.

O que ele fala é para ser levado a sério.

E o que ele falou é muito grave.

O que foi dito é que negros gostam de apanhar.

Tanto ele disse que mais tarde soltou uma nota dizendo que não pensa o que foi dito. “A maneira como me expressei não reflete os meus sentimentos e opiniões”, alegou.

Melhor assim, e quem quiser que acredite.

O que o Dunga falou é tão estúpido e aberrante que seria legítimo _legal, ignoro_ uma ação judicial por preconceito e ódio.

A propósito, é incrível que, depois de ter erguido a Copa do Mundo como capitão da seleção de 94, o vitorioso Dunga mantenha ódio eterno contra quem, embora perdendo, permanece no coração dos torcedores.

Seu ressentimento se concentra na seleção de 82, comandada pelo Telê.

O mesmo vídeo com a cretinice sobre afrodescendentes mostra toda a raiva do Dunga, que também jogou muito, contra craques do passado.

Seu maior problema não é o trabalho que resultou no time horroroso eliminado pelo Paraguai na Copa América, embora em todas as posições tivéssemos à disposição jogadores melhores que os adversários.

E sim o que pensa e o que diz.

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Ruína moral é pior que vexame da seleção
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Mário Magalhães

Depois do 1 a 1 indigente no tempo regulamentar, o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai, 4 a 3 nos pênaltis.

Portanto, Neymar, suspenso contra a Colômbia, está fora dos dois primeiros jogos das Eliminatórias do Mundial 2018.

Os quatro semifinalistas da Copa América são treinados por argentinos.

É mais um vexame, após o 7 a 1 do ano passado.

Pior que o futebolzinho é a ruína moral em torno da seleção brasileira.

O jogo da seleção foi soporífero enquanto a bola rolou.

Quase não ameaçou, inclusive no primeiro tempo. No segundo, conseguiu ser ainda mais fraco.

Consciente das suas limitações técnicas, os veteranos paraguaios se aplicaram taticamente e lograram empatar, antes de triunfar nos penais.

Os brasileiros pareciam nunca ter treinado juntos.

É imenso o abismo entre a categoria dos boleiros das duas equipes.

Os nossos são melhores em todas ou quase todas as posições.

Como os paraguaios jogam de igual para igual e fazem até por merecer a vitória nos 90 minutos?

Como treina a seleção brasileira?

Por que os oponentes mostram mais conjunto, mesmo times renovados?

A maior diferença da Colômbia frente ao Brasil e à Argentina foi de postura: contra nós, vieram para cima, confiantes; diante de Messi e companhia, tremeram, sem se arriscar.

Não assustamos mais ninguém.

O Brasil abriu o placar neste sábado com gol de Robinho, em cruzamento de Daniel Alves.

Robinho era reserva, até a suspensão de Neymar.

Daniel, apesar da ótima temporada no Barça, só foi convocado para a Copa América na última hora.

Muito pior que a miséria em campo é a ruína moral, insisto.

O cartola que convidou Dunga para ser o técnico, José Maria Marin, está em cana por falcatruas.

O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não foi ao Chile. Medo de ser preso?

O chefe da delegação, João Dória Jr., nem no Chile ficou permanentemente.

Dunga ousou dizer que afrodescendentes gostam de apanhar.

Nessa atmosfera, o futebol ridículo não é o mais trágico

Que horror!

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Truffaut e os filmes feitos com febre de 40 graus
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Mário Magalhães

blog - françois truffaut

 

A depender do ciclo das marés, minha lista dos dez melhores filmes de todos os tempos muda, e desconfio que seja assim com quase todo mundo.

O que não muda é a devoção pelo cineasta favorito, François Truffaut, seguido por Alfred Hitchcock.

Na sala de casa, mantenho há mais de uma década um pôster que reproduz minipôsteres, em vários idiomas, de filmes do francês.

Uma epígrafe da biografia “Marighella” é do Truffaut (“Não esqueçamos jamais que as ideias são menos interessantes do que os seres humanos que as inventam, modificam, aperfeiçoam ou traem”).

Com a proximidade de uma exposição em São Paulo sobre o falecido marido da Fanny Ardant (isso _o casamento, não a mostra_ conta mais no currículo que alguns filmes), a “Ilustríssima” publicou um artigo do Serge Toubiana, diretor da Cinemateca Francesa, com tradução de Úrsula Passos.

(Para ler o texto “A arte longa de Truffaut” na íntegra, basta clicar aqui.)

Toubiana recorda uma ambição estética e existencial que o diretor de “Os incompreendidos” e “O último metrô” repetia como mantra: “Eu quero que meus filmes deem a impressão de terem sido filmados com 40°C de febre”.

Não só conseguia, como contagiava quem os assistia.

Como contraste, o artigo me fez lembrar de uma época em que, no Brasil, se dizia que o filme era uma droga, mas a entrevista do diretor, excelente.

Truffaut dava entrevistas brilhantes e fazia filmes ainda melhores.

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Melhores pastel de nata e palmier do Rio voltam ao lar: a velha Casa Cavé
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Mário Magalhães

Casa Cavé, na esquina da rua Sete de Setembro com a rua Uruguaiana: água na boca

Casa Cavé, na esquina da rua Sete de Setembro com a rua Uruguaiana: água na boca

 

Podem procurar que não vão achar, ao menos para o gosto deste glutão: o melhor pastel de nata (vulgo “pastel de Belém”) e o melhor palmier do Rio são os da Casa Cavé.

Nos últimos 15 anos, por conta de umas questões paralelas, o estabelecimento fundado no século 19 por um imigrante francês não funcionou no seu antigo e lindo sobrado, na esquina das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana.

Semanas atrás, voltou para onde nunca deveria ter saído. Passou esses anos em dois endereços próximos.

A Cavé foi fundada em 1860. É a mais longeva confeitaria carioca.

Painéis em suas paredes contam que por lá passavam Chiquinha Gonzaga, Pereira Passos, Olavo Bilac e os Andrade (Carlos Drummond, Oswald e Mario).

Além dos doces inigualáveis, melhores que os da Colombo, o pessoal mantém uma relíquia hoje abandonada na maioria das casas do ramo: o café coado.

Para quem prefere, tem também expresso.

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‘Mate Fernando Morais’, ‘Jô Soares, morra’: o próximo alvo pode ser você
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Mário Magalhães

Assim caminha a humanidade - Reprodução da página de Fernando Morais no Facebook

Assim caminha a humanidade – Reprodução da página de Fernando Morais no Facebook

Pixação em frente ao prédio de Jô Soares - Foto Avener Prado/Folhapress

Pichação em frente ao prédio de Jô Soares – Foto Avener Prado/Folhapress

 

É inegável o risco de noticiar as insanidades retratadas acima: outros malucos podem se sentir estimulados a reeditar tais maluquices.

O problema é o que silêncio também pode sugerir complacência com a intolerância. Como se tornam cada vez mais assíduas manifestações de ódio, encaramo-as como se fossem normais.

Não são.

Fernando Morais foi agredido na internet porque viajou à Venezuela para expressar suas ideias. No caso, a favor de Nicolás Maduro.

Jô Soares, porque entrevistou Dilma Rousseff.

O mais importante não é concordar ou discordar de Fernando sobre o governo venezuelano, nem saber a opinião de Jô sobre a administração Dilma.

Um tem o direito de pensar e opinar. O outro, de entrevistar quem bem quiser.

Quem conhece um pouquinho de história sabe onde isso pode acabar.

Se estão esquecidos, leiam e ouçam sobre fascismo, nazismo e stalinismo.

Do jeito que a coisa vai, o próximo alvo da hidrofobia pode ser… qualquer um.

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Sai programação do Pauliceia Literária; Garcia-Roza é homenageado; até lá!
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Mário Magalhães

 

blog - pauliceia literária

 

O Pauliceia Literária, Festival Internacional de Literatura de São Paulo, divulgou a programação da segunda edição.

Rola de 24 a 26 de setembro, na Associação dos Advogados de São Paulo, com curadoria do crítico Manuel da Costa Pinto.

O homenageado será o escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, mestre da literatura policial.

O criador do delegado Espinosa, tira morador do Bairro Peixoto, enclave de Copacabana, conversará com o crítico Adriano Schwartz e a escritora Patrícia Melo. Mais tarde, falará sobre “Colecionadores de crimes”.

Entre os autores convidados estão Ruy Castro, Heloísa Seixas, Carlos Heitor Cony, Lina Meruane, Bernardo Carvalho, Leandro Sarmatz, Leonardo Padura, Mia Couto e José Eduardo Agualusa.

Junto com o colega e amigo Lira Neto, baterei um papo sobre “Galerias da história” (dia 25 de setembro, a partir das 15h).

Mais informações e a programação completa estão em reportagem de Maria Fernanda Rodrigues.

Até lá!

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