Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : abril 2015

Não era mesmo (só) por 20 centavos
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Mário Magalhães

blog - aumento metrô

 

A passagem do metrô do Rio aumentou hoje 20 centavos.

Foi de R$ 3,50 para R$ 3,70.

Agora de manhã, testemunhei, a linha 2 estava com atrasos.

As reclamações contra o aumento da tarifa são ouvidas em decibéis de sussurros.

De fato, em 2013 não era só por 20 centavos.

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A diferença entre torcer por Corinthians ou São Paulo, para um rubro-negro
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Mário Magalhães

Sou Flamengo e não tenho clube de coração na cidade onde morei pertinho do Pacaembu.

Ou seja, não torço nem pela instituição Corinthians, nem pela instituição São Paulo.

Embora, vá lá, reconheça, pode ser, o tempo em que cobri a equipe do Telê tenha deixado marcas no coração.

Este olhar é rubro-negro, e não sobre clubes, mas times de futebol: que diferença torcer hoje por São Paulo ou Corinthians!

Não pela qualidade (o alvinegro é melhor que o tricolor), porque se isso determinasse alguma coisa faria anos que eu não vestiria o manto sagrado _sim, desde que deixei o jornalismo esportivo voltei a trajar, com imenso orgulho, a camisa do Flamengo (outros três irmãos são vascaínos, e um é gremista).

Falo do gosto de torcer por um time que luta, entrega-se, honrando sua maravilhosa torcida. Eis o Corinthians, claro.

Do outro lado, como se viu ontem em Buenos Aires com o São Paulo, há jogadores que, a julgar pelas aparências, não estão nem aí. Tanto faz se vencer, perder ou empatar. Desculpem, mas é o que observo no Pato e no Ganso.

Torcer é bom quando torcemos para quem batalha, dá o sangue.

E não para quem, em caso de revés, sofrerá menos do que quem está na arquibancada.

Fico pensando na atitude do Telê ao ver, em campo, jogadores indiferentes ao destino das suas esquipes, dos seus companheiros e da sua torcida.

Não veria, porque o Telê não os deixaria em campo.

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Baleado, Marighella resiste à prisão em 64; leia grátis relato da biografia
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Mário Magalhães

blog - marighella preso cinema 64

9 de maio de 1964: policiais levam Marighella – Foto Correio da Manhã/Arquivo Nacional

 

Pouco mais de um mês depois do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart, o revolucionário Carlos Marighella resistiu à voz de prisão proferida por agentes da polícia política do Rio, em um cinema na zona norte.

Na sala do Eskye-Tijuca tomada por crianças, Marighella foi baleado, e o sangue jorrou de três perfurações do seu corpo. Ferido, o cinquentão lutou capoeira contra os tiras do Dops. Para sorte dele, escapou com vida.

A atitude de Marighella foi uma resposta pública à ditadura recém-instaurada. Tamanha sua repercussão, e por representar uma síntese do militante marcado pela ação, selecionei esse episódio para abrir a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras).

Este capítulo/prólogo do livro pode ser lido na íntegra, gratuitamente, no site da Companhia.

Publico-o abaixo. Boa leitura:

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* * *

Tiro no cinema

(Prólogo do livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”)

Carlos Marighella viu a zeladora do prédio onde morava caminhando em sua direção e pensou que, outra vez, conseguira ludibriar a polícia. Valdelice carregava um embrulho cor-de-rosa. Enfim, ele resolveria o problema da falta de roupa que o apoquentava havia mais de um mês. Na noite de 1º de abril, saíra às carreiras do quarto e sala que alugava no bairro do Catete e pulara com as pernas longas os degraus da escada do sétimo andar até o térreo. Temia ser surpreendido pela polícia política do estado da Guanabara, que talvez já preparasse o bote para capturá-lo.

Estava certo. O presidente João Goulart ainda hesitava no palácio do Planalto sobre o que fazer diante do golpe militar deflagrado na véspera enquanto, no Rio, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) escalava uma turma tarimbada para farejar o velho freguês da sua carceragem. Antes de despachar seu pessoal à rua, o ex-arremessador de peso Cecil Borer, chefe do Dops, alertou:”Cuidado, que o Marighella é valente.”

Meia hora depois, os policiais invadiram o apartamento no Catete, mas não encontraram ninguém. Por pouco. Se em vez de subir pelo elevador tivessem se arriscado pela escada, teriam dado com quem buscavam. A correria foi tamanha que Marighella só teve tempo de pegar uma troca de roupa. Amassou-a na malinha compartilhada com Clara Charf, sua companheira havia quinze anos. Desceram até a calçada e desapareceram em um táxi. No começo da madrugada, um bimotor Avro da Força Aérea Brasileira (FAB) voou de Brasília para Porto Alegre, onde Goulart jogou a toalha. Na mesma hora, no subúrbio do Méier, Marighella reencontrava a vida clandestina.

Não era novidade para ele. Nas três décadas anteriores, passara mais tempo fugindo da polícia do que mostrando a cara. Também tinha sido assim nas últimas semanas, até o sábado em que finalmente resgataria camisas, calças e cuecas. De meias, não fazia questão. Abominava-as desde a juventude, na Bahia. Era deputado, no Rio de Janeiro ainda capital da República, e as canelas sem meias pareciam aos amigos mais uma das privações decorrentes dos modos franciscanos de quem possuía apenas três ternos, todos doados. Ganhou tantas de presente que se obrigou a mudar de hábito antes que o comércio esgotasse os estoques. No Méier, queria outras peças. Improvisou, comprou uma ou duas, porém lhe faltava o que vestir naquele mês de maio que nem estava tão quente. Na sexta-feira, a máxima mal arranhara os 27 graus.

A temperatura aumentou quando Marighella notou um homem que vigiava Valdelice a uma distância que não chamava a atenção, mas sem perdê-la de vista. Com a mesma rapidez com que superou as escadarias no Catete, comprou dois ingressos na bilheteria do Eskye-Tijuca, o cinema em frente ao qual marcara com a zeladora. Fez-lhe um sinal, e entraram sem dar ao intruso a chance de se chegar.

Marighella se precavera para o encontro, não era para falhar. Como sempre, estava desarmado. Ignorava se havia mais de um tira. Mesmo cercado, poderia escapar, imaginou. Bastaria ganhar a sala de projeção e sumir, com as roupas lavadas e passadas sob o braço, por um caminho desprotegido. Como nas telas, uma fuga cinematográfica. Ele recebeu o embrulho e sentou-se numa poltrona central, mais ao fundo. Mesmo na escuridão, viu que crianças tomavam a matinê.

Leia a íntegra do prólogo clicando aqui.


Pesquisa Ibope comprova que em 1964 Jango era muito popular ao ser deposto
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Mário Magalhães

O enterro de João Goulart, em 1976 – Foto reprodução blog da L&PM Editores

 

“Se o presidente João Goulart também pudesse candidatar-se à Presidência:”

blog - ibope jango

“Se a eleição para presidente da República fosse realizada amanhã, em qual destes candidatos você votaria?”

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Fonte: “Ibope – Boletim de Pesquisas Especiais (1943-1973). Volume “Ibope – Pesquisas Especiais – 1964 – Vol. 2”.

 

(Como a mentira continua a ser propagada, e não somente no Dia da Mentira, reproduzo o post abaixo, publicado originalmente no cinquentenário do golpe.)

Como uma lavagem cerebral, certa historiografia e certo jornalismo buscaram perpetuar no último meio século a ideia de que as bases populares do presidente João Goulart estavam corroídas quando ele sofreu o golpe de Estado em 1º de abril de 1964.

Pesquisa Ibope realizada de 9 a 26 de março daquele ano, às vésperas da deposição, mostra realidade oposta: Jango permanecia com amplos contingentes de eleitores fieis.

O levantamento em oito capitais revelou que em cinco, se pudesse ser candidato na eleição presidencial prevista para 1965, Goulart receberia a maioria dos votos (Recife, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Rio de Janeiro). Em outras três (Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte), seu desempenho era expressivo, com percentuais de 41% a 39% dos que responderam que nele votariam.

Como a escolha para o Planalto ocorria em turno único, o resultado impressiona ainda mais.

Acontece que, conforme a legislação em vigor, inexistia direito à reeleição. Sem Goulart (PTB) na cédula, na consulta estimulada com oito candidatos, liderava com folga o ex-presidente Juscelino Kubitschek (PSD), de quem Jango fora vice de 1956 a 1961. O oposicionista Carlos Lacerda (UDN) aparecia como segunda força.

A sondagem do Ibope não foi divulgada nem antes do golpe, nem nos anos que o sucederam. Ignoro o motivo. Desconheço registros sobre quem a encomendou. Seu objetivo era “determinar a opinião do eleitorado das principais capitais do país sobre fatos e questões políticas, administrativas e eleitorais”.

A primeira notícia que tive dela foi no livro “A democracia nas urnas” (Iuperj/Revan), de Antônio Lavareda, publicado em 1999. Busquei mais dados na apuração do meu livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras, 2012). Nos arquivos da Unicamp, anos atrás, uma boa alma copiou tabelas para mim, em antigos alfarrábios do Ibope lá conservados.

O instituto constatou que a reforma agrária e a encampação de refinarias particulares de petróleo, que mereciam iniciativas de Jango em março de 1964, tinham aprovação dos eleitores. Ao contrário da legalização do proscrito Partido Comunista Brasileiro, defendida pelo presidente e rejeitada pela maioria dos entrevistados da pesquisa.

É evidente que os eleitores das capitais não representam o conjunto do eleitorado, mas parece incontestável que a dita impopularidade de Jango é lenda.

Legiões espalharam-se país afora pedindo a cabeça do presidente, nas marchas da família de março de 1964. Os manifestantes expressavam um segmento de opinião, não necessariamente o que ia pela cabeça da maioria dos brasileiros. Naquelas jornadas, a direita foi à luta, confrontando medidas do governo.

O presidente, pelo contrário, a não ser em atos pontuais como o Comício da Central, em 13 de março, não mobilizou a multidão que o respaldava.

As marchas da família enganam, como retrato do Brasil inteiro, feito as urnas eletrônicas da zona sul do Rio: se essa parte da cidade escolhesse sozinha o presidente, a candidata Dilma Rousseff não teria ido nem ao segundo turno em 2010.

João Belchior Marques Goulart era o presidente constitucional. Eleito vice-presidente em 1960 (reeleito; para vice a reeleição era autorizada), assumiu a Presidência em setembro de 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros e da tentativa de golpe de Estado capitaneada pelos comandantes das Forças Armadas. Em janeiro de 1963, um plebiscito para a escolha entre os sistemas presidencialista, vitorioso, e parlamentarista configurou um eloquente triunfo de Jango.

Em suma, o balanço sincero da história é o seguinte: em 1964, os golpistas rasgaram a Constituição e derrubaram o presidente constitucional. E também um governante com imenso apoio popular.

P.S.: a segunda tabela tem um problema que pode ser do original do Ibope ou do relatório que recebi: faltam 10 pontos percentuais no resultado do Rio de Janeiro. O erro não compromete o quadro geral, com a liderança de JK, seguido por Lacerda.

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Colégio Médici vira Paulo Freire; Castello Branco já é Vinicius de Moraes
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Mário Magalhães

Perseguido pela ditadura como diplomata, Vinicius ri por último – Foto reprodução

Link permanente da imagem incorporada

As escolas que mudaram de nome – Foto reprodução Twitter/@FlavioDino

 

Em meio ao noticiário repleto de gols da barbárie, a civilização acaba de marcar um golaço.

No Maranhão, mudaram de nome dez escolas com nome de militares que governaram na ditadura instaurada em 1º de abril de 1964.

A decisão, de alcance histórico e exemplar, foi do governador Flávio Dino.

Ele considerou os nomes, apontados no relatório da Comissão Nacional da Verdade, de autores de atos contra a democracia.

Foram rebatizadas seis instituições como o nome do primeiro ditador, Humberto de Alencar Castello Branco.

Duas que homenageavam o seu sucessor, Arthur da Costa e Silva.

E outras duas que reverenciavam Emílio Garrastazu Médici.

Os três foram oficiais do Exército que ocuparam o Planalto sem ter recebido nem um só voto popular.

A escolha dos novos nomes das escolas, ao contrário, teve a participação das comunidades, incluindo os alunos.

Na ditadura, imposição.

Na democracia, a soberania do voto.

A lista lá no alto mostra quem rebatizou quem, em nove municípios.

Dois centros de ensino Médici viraram Paulo Freire, o educador preso e perseguido pela ditadura.

Um Castello Branco passou a ser Vinicius de Moraes, o poeta e compositor contra quem, na condição de diplomata, a ditadura aprontou no Itamaraty.

Saem de cena personagens em cujos governos cidadãos brasileiros foram mortos no horror da tortura.

E entra quem escreveu versos como “E de te amar assim, muito e amiúde/ É que um dia em teu corpo de repente/ Hei de morrer de amar mais do que pude”.

A decisão de Flávio Dino deveria inspirar todos os governantes que dizem rejeitar o entulho autoritário da ditadura, mas permitem que crianças e jovens frequentem estabelecimentos que celebram tiranos.

Nem tudo está perdido.

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O último post de Massimo Gentile #RIP
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Mário Magalhães

Eclipse, The Dark Side of The Sun, Poster, Massimo Gentile

“Eclipse: The Dark Side of The Sun”, a última obra postada por Massimo Gentile

 

Morreu o designer gráfico italiano Massimo Gentile.

Aos 52 anos, em Gênova, onde era o diretor de Arte do  jornal “Il Secolo XIX”.

Por muitos anos, Massimo foi editor de Arte da “Folha de S. Paulo”, que hoje noticiou sua morte e contou um pouco da sua história (leia aqui).

Ele mantinha um blog, o “Bolditalic”, com “as notícias contadas e comentadas visualmente”.

É espetacular. Para conhecê-lo, basta clicar neste link.

O último desenho postado pelo Massimo falou _isso mesmo, falou_ do recente eclipse. Reproduzo-o lá no alto.

Assim como há o lado escuro da lua, o Máximo mostrou o lado escuro do sol.

#RIP Massimo Gentile.

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Clube Militar celebrou golpe; hoje, Cordão da Mentira denuncia ditadura
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Mário Magalhães

Grupo de 20 pessoas faz manifestação a favor das Forças Armadas diante do Clube Militar

Ontem: diante do Clube Militar, 20 pessoas celebram golpe de 1964 – Foto Ricardo Borges/Folhapress

Hoje: em São Paulo, Cordão da Mentira denunciará heranças da ditadura

Hoje: em São Paulo, Cordão da Mentira denunciará heranças da ditadura

 

Ontem, aqui no Rio, por volta de 20 pessoas se manifestaram em frente ao Clube Militar, saudosas do golpe de Estado de 1964.

Lá dentro, perto de 200 comensais celebraram os tempos da ditadura.

Saiba mais sobre a festa de aniversário do golpe clicando aqui.

Hoje, em São Paulo, o Cordão da Mentira desfilará no fim da tarde, com concentração no largo General Osório, às 18h.

O cordão denuncia crimes da ditadura e o que considera herança e continuidade de ações repressivas do Estado daquele tempo.

Saiba mais sobre o cordão clicando aqui.

Em suma, ontem foi a festa do pessoal em cujas trincheiras militaram os torturadores.

Hoje o samba fica por conta de quem esteve e está ao lado dos torturados.

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