Blog do Mario Magalhaes

PMs ocultaram provas do assassinato do menino Jesus, testemunham moradores

Mário Magalhães

A mãe, Maria, o pai, José, e o menino Jesus – Foto Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo/UOL

 

Os policiais militares que estavam nas proximidades do lugar onde Eduardo de Jesus Ferreira foi assassinado na quinta-feira disseram que, nos instantes que antecederam a morte do menino, envolviam-se em tiroteio com traficantes de drogas no complexo do Alemão.

Mas os peritos que estiveram no local onde o garoto de 10 anos foi baleado encontraram poucas _ou nenhuma_ balas e cápsulas. Disparadas por armas de fogo, deveriam ser achadas em profusão de cardume de sardinha, em caso de disparos numerosos.

Também não foi encontrado o projétil que atravessou a cabeça de Dudu. Há indícios, mas não confirmação, de que seja munição de fuzil.

Se encontrada, a bala seria comparada a outros projéteis a serem disparados em teste pelas armas que estavam de posse dos PMs, incluindo fuzis.

Cada arma tem características próprias que deixam marcas nas balas. As oriundas da mesma arma terão sempre ranhuras muito similares, como se fossem impressão digital.

O sumiço do projétil impede a comparação balística direta.

O mistério sobre o desaparecimento de balas e cápsulas em torno do corpo de Jesus já não é, a rigor, um mistério. Moradores do Alemão contaram que, em seguida à morte do menino, PMs apressaram-se a recolher esse material.

Noutras palavras, de acordo com o que os moradores testemunharam na Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, os policiais ocultaram provas e manipularam a cena do crime.

É o que informam hoje os repórteres Sérgio Ramalho e Vera Araújo.

Todos os depoimentos até agora indicam que Jesus foi assassinado por um PM quando inexistia tiroteio.

A mãe do garoto, Terezinha Maria de Jesus, afirma ser capaz de identificar o policial que tirou a vida do seu filho.

O menino que sonhava ser motorista ou bombeiro estava na porta de casa, onde não ficava quando ocorriam as frequentes trocas de tiro no morro.

O governo do Estado do Rio anuncia para hoje o começo da ''reocupação'' do complexo do Alemão.

''Ocupação'' é expressão de guerra relativa a território hostil.

Enquanto as autoridades considerarem favela como trincheira inimiga, tratando os moradores como bandidos, novos meninos Jesus serão mortos.

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