Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : março 2015

Tancredo: o ‘exacerbado egoísmo’ das elites as conduz ao ‘suicídio total’
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Mário Magalhães

Tancredo Neves – Foto reprodução “Folha de S. Paulo”

 

Se eu tivesse lido, não esqueceria.

Por isso, acho que somente ontem, 30 anos depois, conheci trechos do discurso que Tancredo Neves faria em 1985, caso a doença não o impedisse de assumir a Presidência e logo o levasse.

O jornalista Elio Gaspari publicou frases do discurso que foi escrito, mas não pronunciado:

Eis a coluna de Gaspari:

*

Uma das melhores peças da oratória política de Tancredo é um discurso que não fez, o da cerimônia de sua posse. Alguns trechos:

“Esta solenidade não é a do júbilo de uma facção que tenha submetido a outra, mas festa de conciliação nacional”.

“Nosso progresso político deveu-se mais à força reinvidicadora dos homens do povo do que à consciência das elites.”

“Desprovido de fortuna, o trabalhador só pode sentir como seu o patrimônio comum da nação […]. Nada tendo de seu, ou tendo muito pouco, está poupado do egoísmo dos que possuem e disposto a defender a esperança, que para ele está no crescimento do Brasil.”

“A pátria dos pobres está sempre no futuro e, por isso, em seu instinto, eles se colocam à frente da história”.

“A história nos tem mostrado que, invariavelmente, o exacerbado egoísmo das classes dirigentes as tem conduzido ao suicídio total.”

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Dilma e a síndrome de Mourinho
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Mário Magalhães

À Ku Klux Klan: bonecos de Dilma e Lula enforcados no domingo – Foto “Jornal de Jundiaí”

 

Quando alguma viúva da ditadura insistir na cantilena avessa à democracia, as manifestações populares do domingo e da sexta-feira serão sempre exemplos a evocar das virtudes do regime em que cada cidadão pode ir às ruas vender o seu peixe, sem ameaça de ser impedido de se expressar.

Os maiores atos ocorreram ontem, contra o governo federal, por todo o país. No epicentro, São Paulo, 210 mil pessoas protestaram, conforme a estimativa do Datafolha (a Polícia Militar chutou 1 milhão). Parcelas numerosas das multidões gritaram “Fora, Dilma” e clamaram pelo impeachment da presidente.

A data marcou os 30 anos do fim da ditadura, com a expulsão de cena do último general governante. A hipocrisia imperou, e até quem outrora se opôs à Campanha das Diretas celebrou o aniversário certo de que memórias corrompidas se esqueceriam dos fatos como os fatos ocorreram. Os mesmos que em outros 15 de março festejaram a posse de ditadores agora fingem que tal infâmia inexistiu.

A mobilização dominical mostrou vigor oposicionista, em contraste com o governo acuado, menos de três meses depois da largada do segundo mandato. Havia sido um revés para os partidários do impeachment a não inclusão do nome de Dilma Rousseff na lista de suspeitos a investigar, encaminhada ao STF pelo procurador-geral da República, no âmbito da operação Lava Jato.

Mas a disparatada ida da presidente à TV no domingo anterior aos protestos contra ela, estimulando panelaços Brasil afora, turbinou a adesão ao 15 de março. O pronunciamento de Dilma foi interpretado como um desafio por eleitores que a rejeitaram em 2014 e que se recusam a aceitar a soberania das urnas. O blog já havia analisado dessa forma antes deste domingo (“Dilma erra demais, parece zonza e fornece munição ao golpismo”).

O blog também prognosticou, com acerto, que os atos convocados pela CUT para a sexta-feira 13, somados, reuniriam menos gente que o Comício da Central do Brasil, em 1964; que o conjunto dos protestos contra Dilma teria público menor que as Marchas da Família de 51 anos atrás; e que no domingo haveria mais audiência que dois dias antes (“Comício da Central e Marcha da Família: por que 2015 é diferente de 1964”). Em relação à última previsão, fui fustigado por bajuladores do poder que se recusam a ver as coisas como as coisas são _ou estão.

Se as massas de ontem surpreenderam mesmo o governo, foi por miopia, para ver ao longe, e astigmatismo, para enxergar o que está ao alcance do nariz. Deficiência de visão política, quase cegueira.

Impeachment e Constituição

O impedimento do presidente é previsto na Constituição. O governante ter cometido crime, como no caso Collor, em 1992, é condição para o impeachment. Não se conhece indício ou prova de que Dilma tenha sido criminosa na roubalheira na Petrobras escrutinada pela Lava Jato. Não há base constitucional para sua retirada do governo. Logo, o impeachment equivaleria à derrubada ilegal da presidente consagrada pelos brasileiros em outubro, com uma diferença de 3.459.963 votos sobre seu antagonista. Noutras palavras, haveria golpe de Estado.

Na democracia, o voto decide. É legítimo discutir se o governo é bom ou ruim, se Dilma merece ou não reverência, se é gênio ou mente limítrofe. Outra coisa é o estupro da soberania do sufrágio popular.

Ontem desfilaram lado a lado quem defende que Dilma e o PT sejam varridos nas eleições de 2018 e quem alardeia o impeachment imediato ou variantes menos polidas do golpismo, como a “intervenção militar”.

Todos aceitaram protestar ao lado de quem prega o regresso dos militares; de quem enforcou bonecos de Lula e Dilma, em imagem que lembra a Ku Klux Klan; de quem levou a faixa “Basta de Paulo Freire” _ódios não envelhecem; com discurso ou não, ao lado de Jair Bolsonaro, Paulinho da Força, um torturador do antigo Dops, veteranos do Comando de Caça aos Comunistas e outros profetas da intolerância.

O parágrafo acima não “acusa” ninguém. É uma constatação objetiva.

Na vida, cada um escolhe a sua trincheira.

O Brasil é o estranho país em que ditos liberais gostam de uma ditadura, como se observou no Estado Novo, de 1937 a 1945, e nas sombras que caíram de 1964 a 1985.

No interior de São Paulo, uma sede do partido de Dilma foi incendiada. Quem conhece um pouco de história sabe que muitos pesadelos principiaram assim.

Virada à direita fracassou

Em vez de aplicar o programa propagandeado na campanha, Dilma adotou o eixo da agenda do adversário do segundo turno.

A presidente age como se tivesse perdido a eleição, e não triunfado.

Ela prometeu que preservaria conquistas dos mais pobres, e em seguida cortou direitos dos trabalhadores. Até agora, os ricos não pagam pela crise econômica. Medidas de taxação de fortunas introduzidas em países onde vigora o capitalismo pleno são ignoradas aqui.

O governo Dilma Reloaded tem feito opção preferencial pelos abastados.

A candidata Dilma prometeu um pacote anticorrupção. Cinco meses mais tarde, a promessa só é renovada, como ontem à noite, quando o Planalto se vê acossado.

O governo deve pensar que os brasileiros são mentecaptos, incapazes de notar que o prometido não é cumprido.

A leniência com a corrupção ajuda os endinheirados, como os donos de empreiteiras, e fere o patrimônio público, como a Petrobras.

Dilma deu uma virada à direita buscando seduzir brasileiros que sufragaram Aécio Neves. Estes não lhe deram pelota, como testemunhamos no domingo. E a base social da presidente, atônita, assiste à petista impor o arrocho que castiga sobretudo quem mais necessita da proteção do Estado.

Sem honrar seu programa de campanha, Dilma dificilmente recuperará o respaldo dos que nela votaram. A demonstração de fraqueza encoraja os oposicionistas, entre eles os golpistas mais vulgares.

Se o arrocho levar brasileiros novamente à pobreza extrema, desgraça superada por dezenas de milhões nas últimas décadas, os próximos atos terão o reforço do povão. O desemprego é outra ameaça.

Parece haver uma bolha palaciana que impede a administração Dilma de entender os recados das ruas. Já havia sido politicamente estúpida a aparição da presidente na TV oito dias atrás. Foi suicida a entrevista que os ministros José Eduardo Cardoso e Miguel Rossetto concederam ontem no começo da noite. Eles não se deram conta de que levantariam a bola para um novo e ainda mais ruidoso panelaço. Poderiam se pronunciar por meio de nota e deixar para hoje a palavra do governo _pela boca de Dilma, que deve satisfações aos brasileiros, tanto os que nela votaram quanto os que a desprezaram.

A inépcia de Dilma e seus auxiliares mais próximos é tal que eles ignoram o fogo com que estão lidando. Depois de ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ganhou ainda mais poder para pressionar _ou chantagear, como quiserem_ o Executivo.

Será que o governo não havia se preparado, teve semanas para isso, para a eventualidade de sucesso dos protestos anti-Dilma? Os dois ministros se comportaram como dirigentes de grêmios estudantis, amadores. Sem rasgo de serenidade. Só seria pior se o inacreditável ministro Mangabeira Unger lhes tivesse feito companhia.

Em 1964, havia um general, Assis Brasil, que assegurava ao presidente João Goulart um “dispositivo militar” para impedir golpes. Era ficção, regada a uísque. Ao ver Cardoso e Rossetto, lembrei-me do fanfarrão do passado. Dilma deveria estudar história.

Futebol ensina

Na semana passada, o supertime do Chelsea passaria às quartas-de-final da Champions League se, com a vantagem de jogar em casa, empatasse em 0 a 0 com o PSG.

O técnico do clube inglês, José Mourinho, armou a equipe com cuidados defensivos em excesso, apostando na igualdade sem gols para se classificar. Ainda no primeiro tempo, o visitante francês teve um jogador expulso.

Mesmo com onze contra dez, Mourinho seguiu com medo de levar gol e pouco apetite para marcar um. Tanto se preocupou em defender que o Chelsea acabou sofrendo dois gols e sendo eliminado.

O Chelsea de Mourinho é o retrato do segundo governo Dilma. Tão fincado atrás, em vez de avançar, acabou fora da Champions.

A presidente que abra os olhos.

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Dilma deveria ouvir os recados das ruas
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Mário Magalhães

Dilma na Bahia, em 2014 - Foto Ichiro Guerra/Divulgação

A presidente Dilma Rousseff na Bahia, em 2014 – Foto Ichiro Guerra/Divulgação

 

O nascente governo Dilma Reloaded e sobretudo a imensa maioria dos brasileiros teriam muito a ganhar se a presidente, mais do que se preocupar com a repercussão imediata dos protestos destes dias, tentasse entender os recados da ruas.

Começaram de manhãzinha nesta sexta-feira 13 e vão até à noite atos promovidos em todo o país pela CUT, MST e outras organizações de trabalhadores e movimentos sociais.

O eixo do documento que convocou a mobilização expressa crítica contundente à política econômica do segundo mandato. Embora os manifestantes defendam a soberania das urnas, que consagraram a petista em outubro, eles não estão batendo palmas para a presidente. Muito pelo contrário, opõem-se ao arrocho que sacrifica os assalariados e constitui o cerne da nova orientação governamental.

Quem são as pessoas que hoje desfraldam suas bandeiras? Na maioria esmagadora, eleitores de Dilma, decisivos para o triunfo da ex-guerrilheira.

É a base política de Dilma que a condena por ter proclamado na campanha que faria uma coisa para, fatura eleitoral consumada, fazer outra diferente. É por isso que não há ministros nos atos, nem o ex-presidente Lula.

Os aliados da presidente alertam: não é direito de governantes impor o que, quando candidatos, haviam dito que não imporiam.

Nem punir os mais pobres com medidas historicamente associadas a concorrentes de Dilma em 2014.

No domingo, depois de amanhã, o papo é outro. Quase todos os manifestantes que sairão às praças votaram contra Dilma no ano passado e parcela expressiva deles pedirá o impeachment da presidente constitucional.

Foi para esses cidadãos que a nova política econômica piscou, adotando medidas de arrocho, vulgo “ajuste”, que também seriam aplicadas em eventual governo Aécio Neves.

Ao oferecer concessões a seus opositores, Dilma Rousseff não ganhou um só simpatizante entre aqueles que a rejeitaram nas cabines de votação meses atrás.

A virada acabou por estimular a radicalização de segmentos sociais que se recusam a aceitar a vontade majoritária do eleitorado.

O governo mostrou-se fraco. Como sabe qualquer boxeur iniciante,  se o adversário dá a impressão de fraquejar, é hora de partir para cima.

Com a política econômica remodelada, abatendo conquistas dos trabalhadores, Dilma leva seus aliados a protestar contra decisões do governo.

E os antagonistas a atacarem, reivindicando impeachment e outras variantes também de inspiração golpista.

São esses os recados das ruas.

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#RIP Morre Armênio Guedes, um grande brasileiro
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Mário Magalhães

Armênio Guedes ingressou no núcleo dirigente do Partido Comunista em 1943

Valeu, Armênio! – Foto reprodução

 

Volto do almoço e dou de cara com a notícia: morreu Armênio Guedes.

Aos 96 anos, o Armênio não era mais menino, mas sua despedida surpreende, porque ele parecia um daqueles caras eternos, que não morrem nunca.

Foi um ótimo jornalista e marcou a história do Partido Comunista Brasileiro, do qual foi dirigente.

Oitenta anos atrás, estava numa reunião na Bahia que um dia eu narrei assim:

“Em março de 1935, Marighella coordenou a constituição da célula comunista da Faculdade de Direito [da Bahia], numa reunião na residência dos Souza Carneiro. Quem cedeu a casa no bairro dos Barris foi o estudante Edison Carneiro, irmão do advogado Nelson, surrado em 1932. Às vésperas de completar 17 anos, compareceu o calouro Armênio Guedes. Era um dos dez irmãos de Iracema, colega de Marighella no Ginásio Carneiro Ribeiro _os onze irmãos Guedes seriam comunistas, como a mãe. O organismo de base partidário somaria em breve mais vinte acadêmicos, incluído o futuro deputado Sinval Palmeira”.

Quem me contou tudo isso foi o Armênio, em longas sessões de entrevistas.

Alma tolerante, ele foi generoso com dezenas (ou centenas?) de pessoas que década após décadas o procuraram como uma das raras ou a única testemunha de fatos de outrora.

Mesmo crítico a pelejas do passado, jamais se mostrou um “arrependido”, envergonhado. Procurou aprender com a vida.

Dedicou-a a batalhar por um Brasil mais justo, solidário e democrático, concordemos ou não com as escolhas que o Armênio fez antes e fazia agora.

Um país com mais Armênios seria muito melhor.

Seu velório vai até as 15h desta quinta-feira, no cemitério do Araçá, em São Paulo.

Valeu, Armênio!

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Joaquim Levy ficaria mais à vontade no protesto do dia 13 ou no do dia 15?
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Mário Magalhães

Joaquim Levy: Chicago boy e ministro da Fazenda – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Responder é uma tentação, mas reconheço que não sei.

O eixo do protesto do dia 13, noutras palavras amanhã, sexta-feira, é a condenação da política econômica do governo, conduzida pelo ministro Joaquim Levy.

Portanto, o titular da Fazenda não ficaria à vontade entre os manifestantes da CUT, do MST e outras entidades.

No dia 15, domingo, a manifestação é contra Dilma Rousseff, mais propriamente, como se vê na internet, pelo impeachment da presidente reeleita em outubro.

Logo, seu ministro mais poderoso também não teria motivos para se sentir bem.

Ocorre que a agenda na economia que move parcela expressiva do pessoal pró-impeachment é a defendida por Aécio Neves na campanha de 2014 e aplicada hoje por Joaquim Levy. Nesse aspecto, o ministro estaria entre os seus.

Ok, ele não vai às ruas nem sexta, nem domingo.

Mas quando ele seria mais bem recebido?

Tudo bem, arrisco uma aposta: se o nome Joaquim Levy for pronunciado ao microfone, as vaias no dia 13 serão mais sonoras que no dia 15.

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Jornalismo, oposição e secos & molhados: um pitaco sobre a lei de Millôr
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Mário Magalhães

Millôr Fernandes, gênio da raça, em 2006 - Foto Ricardo Moraes/Folhapress

Millôr Fernandes, gênio da raça, em 2006 – Foto Ricardo Moraes/Folhapress

 

Entre suas sacadas imortais, Millôr Fernandes (1923-2012) formulou um pensamento que até hoje é lembrado: “Jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”.

A profissão de fé é grande ao estabelecer que aos jornalistas cabe exercer o espírito crítico e fiscalizar o poder, e não amplificar acriticamente versões e ideias alheias, muito menos se prestar a bajulador.

O que, eis meu pitaco, muita gente não entendeu é que o Millôr não se referia a oposição só a uns, como se a outros o dever fosse o de promoção.

O gênio da raça não propunha tratar com espírito crítico um flanco, e servir de porta-voz a outro.

Oposição, no sentido de fiscalizar jornalisticamente, é a atitude recomendada em relação a todos os poderes, não somente a parte deles.

Não é possível reivindicar Millôr praticando o rigor informativo aqui e rastejando feito adulador acolá.

Ou se fiscaliza com idêntica disposição presidente, governador e prefeito, empresa pública e empresa privada, instituições e gente simpáticas e antipáticas, ou não se aplica o enunciado do velho garoto do Méier.

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Marighella contra o impeachment
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Mário Magalhães

O advogado Carlos Augusto Marighella – Foto reprodução

 

O advogado Carlos Augusto Marighella afirmou, em entrevista ao portal da Rede TV!, considerar “um desatino falar em impeachment [da presidente Dilma Rousseff], porque o governo foi eleito democraticamente pela maioria da população”.

Filho do guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), assassinado por agentes da ditadura, o advogado disse mais: “As pessoas que eventualmente estão descontentes porque perderam a eleição devem se organizar para reformular o voto, de forma democrática”.

A reportagem pode ser lida na íntegra clicando aqui.

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Também por causa do futebol, a vida vale muito a pena
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Mário Magalhães

Thiago Silva levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima – Foto Matt Dunham/AP

 

Vai demorar para esquecer, se é que um dia conseguiremos, o épico vivido ontem à noite em Londres.

Com um a menos desde o primeiro tempo, o PSG sobreviveu a um juiz que o garfou, reagiu duas vezes ao placar comandado pelo Chelsea e no fim da prorrogação logrou o empate em 2 a 2 que o promoveu às quartas-de-final da Champions League e eliminou o adversário inglês.

Na zaga brasileira da equipe francesa, David Luiz foi soberbo e anotou um gol, e o drama de Thiago Silva comoveu até almas congeladas na indiferença.

No começo da prorrogação, Thiago fez um pênalti estúpido, levantando a mão como um atacante do vôlei ou um bailarino em coreografias exageradas, e presenteou o 2 a 1 para os anfitriões. Coisa de estafa emocional.

O Judas da Copa de 2014 _embora não estivesse em campo nos 7 a 1, foi mais avacalhado do que os que estiveram_ renascia, como um estorvo do futebol.

“Seria tão lindo se ele fizesse um gol agora”, comentei com a jovem com quem via a partida pela TV. E Thiago Silva fez.

Thiago Silva merece respeito!

Assim que o gatuno apitou o fim, pensei: por causa de jogos como este, o futebol vale a pena. E também por causa do futebol a vida vale muito a pena.

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Turbulência política e crise de representação abrem espaço para surpresas
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Mário Magalhães

blog - pesquisa el país

 

O quadro acima foi publicado nesta semana pelo “El País”. Mostra quatro partidos virtualmente empatados na preferência dos eleitores espanhóis, meses antes das eleições gerais que no fim do ano definirão o novo governo. Até o pleito de 2011, vigorou o que o jornal denomina “largo ciclo político bipartidário”. Esse Fla x Flu, ou Real Madrid versus Barcelona, acabou.

Com vigorosos discursos contra a política econômica de arrocho do governo direitista do PP (Partido Popular), que na essência mantém o que já fizera o PSOE (Partido Socialista), duas jovens agremiações ascenderam: o Podemos, de esquerda, criado em 2014 a partir de gigantescas manifestações de rua, e o Ciudadanos (Partido da Cidadania), digamos que de centro-direita, fundado em 2006 na Catalunha.

O povo em passeatas exterminou a obviedade da alternância de poder entre duas siglas. Quem vai ganhar _e com que aliado governará, pois maioria absoluta parece improvável_ é outra coisa. Mas nada será como antes, ou nas décadas recentes, nas urnas espanholas.

Ainda na Europa: em janeiro, embalado por protestos contrários ao arrocho, lá também embrulhado pelo eufemismo ajustes, o partido de esquerda grego Syriza venceu a eleição, assumiu e hoje governa.

O que Espanha e Grécia têm a ver com o Brasil? Os dois partidos daqui que se revezam no Palácio do Planalto há duas décadas conseguiram se manter fortes nas últimas eleições, levando seus candidatos ao segundo turno de outubro. Mas se avolumam sinais de fadiga de material.

O PT sofre, como se já não bastasse o mensalão, com indícios eloquentes de envolvimento de próceres do partido na roubalheira na Petrobras. E com o choque que foi propagandear uma política na campanha de 2014 para em seguida o governo Dilma Rousseff aplicar outra, aparentada com a do adversário derrotado.

O PSDB, embora navegue nas ondas crescentes da oposição, é hoje um partido menos influente que o PMDB. Tem a imagem envelhecida. E líderes, como os governadores Geraldo Alckmin e Beto Richa, desgastados por fracassos administrativos. Além de também marcar presença no rol de investigados da Lava Jato.

As Jornadas de Junho de 2013 não resultaram no nascimento de nenhum partido ou movimento parrudo.

Com o desgaste da representação partidária e a turbulência política em curso, descortina-se um terreno fértil para novidades.

Um exemplo histórico, pela esquerda: em 1979 e 1980, com a agonia da ditadura, a crise adubou o caminho do PT.

Outro, pela direita: Fernando Collor ocupou os espaços conservadores vazios e se tornou porta-voz confiável do empresariado, até se eleger presidente, em 1989.

Nunca as nuvens estiveram tão propícias a Marina Silva. Quer dizer, poderiam estar. Mas a ex-senadora não oferece discurso econômico oposto ao de Dilma Reloaded _pelo contrário, o seu assemelha-se ao do ministro Joaquim Levy. E Marina perdeu o viço ao aderir aos tucanos no segundo turno do ano passado. Mostrou que não era tão diferente assim dos correligionários de Aécio Neves.

Pela esquerda, a pregação do Psol contra o arrocho teria alguma chance de prosperar, mas o partido, além de pequeno, é um saco de gatos. Nesta semana, um dos raros deputados federais da sigla propôs mudar a formulação constitucional de que todo poder emana do povo para todo poder emana de Deus. Não precisa dizer mais nada.

Na nebulosa política do momento, mais do que movimentos e partidos, a surpresa pode ser tipo Collor, um salvador da pátria. Quem sabe o ex-ministro Joaquim Barbosa.

Está tudo tão imprevisível que, se o Pedro Bial abandonar o BBB e se lançar para a Presidência em 2018, eu não me surpreenderei.

Nem mesmo se ele for eleito.

O Romário teria chance?

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