Dilma humilhada: e se Joaquim Levy diz tudo de caso pensado?
Mário Magalhães
Declarações do ministro da Fazenda têm sido interpretadas como expressão de estilo destrambelhado, de tecnocrata com ralo traquejo social e político, executivo que pena por sua sinceridade própria do ''mercado'', mico em surto numa loja de pratarias.
Primeiro, Joaquim Levy afirmou que o modelo do seguro-desemprego está ''completamente ultrapassado'' _noutras palavras, que é preciso mudá-lo, evidentemente retirando benefícios dos trabalhadores. Dilma Rousseff havia dito que não atacaria conquistas dos assalariados, empregados ou não.
Mais tarde, o ministro disse que um programa de desoneração da folha de pagamento, introduzido no primeiro governo Dilma, havia sido ''muito grosseiro'', uma ''brincadeira''.
Agora, apontou o dedo diretamente para a presidente da República. Em matéria de economia, ela agiria ''não da maneira mais efetiva'', diagnosticou o subordinado.
Ao contrário de alguns observadores, eu não tenho o poder de entrar na cabeça alheia para saber o que é falado de caso pensado ou constitui trapalhada.
Mas não custa registrar que ninguém chega aonde Levy chegou se comportando como um doidivanas, sem medir passos, incluindo palavras.
A cada declaração, o ministro constrange a presidente. Ela aparenta não ter poder para demiti-lo.
Claro que a dona dos votos é Dilma, o mandato dos eleitores foi conferido a ela.
Que convocou o diretor do Bradesco para aplicar uma política antissocial.
Joaquim Levy provoca, informando ao grande público, e também à chefe, que se considera com autonomia para fazer o que quiser.
Destrambelhado? Ao contrário: parece cerebral.
A cada vez que abre a boca, humilha Dilma Rousseff.