Jornalismo, oposição e secos & molhados: um pitaco sobre a lei de Millôr
Mário Magalhães
Entre suas sacadas imortais, Millôr Fernandes (1923-2012) formulou um pensamento que até hoje é lembrado: ''Jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados''.
A profissão de fé é grande ao estabelecer que aos jornalistas cabe exercer o espírito crítico e fiscalizar o poder, e não amplificar acriticamente versões e ideias alheias, muito menos se prestar a bajulador.
O que, eis meu pitaco, muita gente não entendeu é que o Millôr não se referia a oposição só a uns, como se a outros o dever fosse o de promoção.
O gênio da raça não propunha tratar com espírito crítico um flanco, e servir de porta-voz a outro.
Oposição, no sentido de fiscalizar jornalisticamente, é a atitude recomendada em relação a todos os poderes, não somente a parte deles.
Não é possível reivindicar Millôr praticando o rigor informativo aqui e rastejando feito adulador acolá.
Ou se fiscaliza com idêntica disposição presidente, governador e prefeito, empresa pública e empresa privada, instituições e gente simpáticas e antipáticas, ou não se aplica o enunciado do velho garoto do Méier.