Blog do Mario Magalhaes

Turbulência política e crise de representação abrem espaço para surpresas

Mário Magalhães

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O quadro acima foi publicado nesta semana pelo ''El País''. Mostra quatro partidos virtualmente empatados na preferência dos eleitores espanhóis, meses antes das eleições gerais que no fim do ano definirão o novo governo. Até o pleito de 2011, vigorou o que o jornal denomina ''largo ciclo político bipartidário''. Esse Fla x Flu, ou Real Madrid versus Barcelona, acabou.

Com vigorosos discursos contra a política econômica de arrocho do governo direitista do PP (Partido Popular), que na essência mantém o que já fizera o PSOE (Partido Socialista), duas jovens agremiações ascenderam: o Podemos, de esquerda, criado em 2014 a partir de gigantescas manifestações de rua, e o Ciudadanos (Partido da Cidadania), digamos que de centro-direita, fundado em 2006 na Catalunha.

O povo em passeatas exterminou a obviedade da alternância de poder entre duas siglas. Quem vai ganhar _e com que aliado governará, pois maioria absoluta parece improvável_ é outra coisa. Mas nada será como antes, ou nas décadas recentes, nas urnas espanholas.

Ainda na Europa: em janeiro, embalado por protestos contrários ao arrocho, lá também embrulhado pelo eufemismo ajustes, o partido de esquerda grego Syriza venceu a eleição, assumiu e hoje governa.

O que Espanha e Grécia têm a ver com o Brasil? Os dois partidos daqui que se revezam no Palácio do Planalto há duas décadas conseguiram se manter fortes nas últimas eleições, levando seus candidatos ao segundo turno de outubro. Mas se avolumam sinais de fadiga de material.

O PT sofre, como se já não bastasse o mensalão, com indícios eloquentes de envolvimento de próceres do partido na roubalheira na Petrobras. E com o choque que foi propagandear uma política na campanha de 2014 para em seguida o governo Dilma Rousseff aplicar outra, aparentada com a do adversário derrotado.

O PSDB, embora navegue nas ondas crescentes da oposição, é hoje um partido menos influente que o PMDB. Tem a imagem envelhecida. E líderes, como os governadores Geraldo Alckmin e Beto Richa, desgastados por fracassos administrativos. Além de também marcar presença no rol de investigados da Lava Jato.

As Jornadas de Junho de 2013 não resultaram no nascimento de nenhum partido ou movimento parrudo.

Com o desgaste da representação partidária e a turbulência política em curso, descortina-se um terreno fértil para novidades.

Um exemplo histórico, pela esquerda: em 1979 e 1980, com a agonia da ditadura, a crise adubou o caminho do PT.

Outro, pela direita: Fernando Collor ocupou os espaços conservadores vazios e se tornou porta-voz confiável do empresariado, até se eleger presidente, em 1989.

Nunca as nuvens estiveram tão propícias a Marina Silva. Quer dizer, poderiam estar. Mas a ex-senadora não oferece discurso econômico oposto ao de Dilma Reloaded _pelo contrário, o seu assemelha-se ao do ministro Joaquim Levy. E Marina perdeu o viço ao aderir aos tucanos no segundo turno do ano passado. Mostrou que não era tão diferente assim dos correligionários de Aécio Neves.

Pela esquerda, a pregação do Psol contra o arrocho teria alguma chance de prosperar, mas o partido, além de pequeno, é um saco de gatos. Nesta semana, um dos raros deputados federais da sigla propôs mudar a formulação constitucional de que todo poder emana do povo para todo poder emana de Deus. Não precisa dizer mais nada.

Na nebulosa política do momento, mais do que movimentos e partidos, a surpresa pode ser tipo Collor, um salvador da pátria. Quem sabe o ex-ministro Joaquim Barbosa.

Está tudo tão imprevisível que, se o Pedro Bial abandonar o BBB e se lançar para a Presidência em 2018, eu não me surpreenderei.

Nem mesmo se ele for eleito.

O Romário teria chance?

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