Blog do Mario Magalhaes

Maior problema do Rio, desigualdade é quase ignorada na festa dos 450 anos

Mário Magalhães

blog - mm rio 450 anos uol

 

Abençoado pelas circunstâncias _filho de variguiano, portanto pagando pouco ou nada pelas passagens de avião, e mais tarde repórter_, viajo muito desde criança. Conheci lugares espetaculares planeta afora e ainda pretendo conhecer muitos outros. Andei, andei e andei, mas não consegui escapar ao lugar-comum de tanta gente: Rio e Paris, Paris e Rio são as cidades mais encantadoras que se descortinaram aos meus olhos. O lugar-comum nem sempre está errado.

Noutras palavras, o Rio, terra onde nasci e escolhi para viver, honra o hino que canta uma cidade maravilhosa.

O que não quer dizer que não tenha problemas. E que problemas!

Uma das dez nações socialmente mais desiguais, o Brasil se expressa aqui. As chances do cidadão carioca diferem para quem nasceu num canto ou noutro da cidade, frequentou esta ou aquela escola, recebeu ou não determinadas oportunidades.

Os 450 anos da fundação oficial do Rio, celebrados neste domingo, constituíam, mais do que efeméride para merecidas comemorações, a chance de debater nossas mazelas e sobretudo os caminhos para superá-las.

Da desigualdade derivam nossos grandes dramas. Ou alguém acha que é por acaso que a dita bala perdida mata mais na Maré e no Alemão do que em Ipanema e no Leblon?

A chance foi desperdiçada, a despeito de esforços de organizações civis, acadêmicos, jornalistas e até autoridades que configuraram minoria entre seus pares.

Para ficar num exemplo, observo um fornido caderno jornalístico dedicado aos quatro séculos e meio.

Os personagens contemporâneos contemplados com perfis e fotografia e os autores de artigos também com direito a retratinho eram todos homens. Os nove.

Nenhuma mulher entre eles.

E ao menos oito eram brancos.

Claro que o retrato não representa o Rio, quem faz o Rio e pensa o Rio.

Mas representa um pouco o poder e a desigualdade.

Se alguém tiver dúvida, sugiro dar uma olhada nas dez escolas mais bem colocadas no Enem e contar quantas crianças negras as frequentam.

Papo chato, é?

Que siga a festa.

P.S.: a imagem no alto consta do painel ''Dez passos que o Rio precisa dar para ser de fato uma Cidade Maravilhosa'', elaborado pela colega Paula Bianchi.

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