Rio, 450: morto pela PM aos 15, Alan simboliza covardia século após século
Mário Magalhães
Colega do UOL aqui no Rio, a Paula Bianchi me pediu pouco tempo atrás um comentário sobre o futuro da cidade que domingo faz 450 anos. Uma das coisas que eu disse para ela é que ''o Rio será tudo o que pode ser quando morro e asfalto expressarem somente topografias e culturas particulares, em vez de metaforizarem desigualdades obscenas''.
Passaram poucos dias, e policiais militares mataram a bala o jovem Alan Souza Lima, de 15 anos. Ele batia papo com amigos da favela da Palmeirinha, no subúrbio de Honório Gurgel.
O celular do Alan estava filmando a conversa, na madrugada do sábado, como se vê clicando na imagem lá no alto, na reportagem da Band.
Além de provar a covardia criminosa dos PMs, a gravação guardou para sempre os gemidos de dor do garoto agonizante.
Antes mesmo da fundação oficial do Rio, em 1º de março de 1565, os mais fortes já exterminavam os mais fracos, os índios que aqui habitavam até as caravelas europeias fundearem.
Depois, mataram os africanos escravizados e seus descendentes, a chibatadas ou de cansaço.
Teve Colônia, Império e República, ditadura e democracia, mas os capitães do mato jamais deixaram de barbarizar, também aqui no Rio.
Com o distintivo público ou abençoados pelo Estado.
Dizer ''tudo como dantes'' seria injustiça e ingratidão com tantas gerações que impediram que a escravidão sobrevivesse ou que ainda se trabalhasse mais de 12 horas numa fábrica _nada disso caiu do céu.
Mas os mais fracos continuam sendo mortos e exterminados.
A maioria dos relatos jornalísticos informa que Alan tinha 15 anos, porém há informação de que seriam 17.
Qual a diferença? Ele não festejará, ao contrário da cidade onde lhe roubaram a vida, mais nenhum aniversário.
O certo é que Alan era pobre e mulato.
Um carioca da gema.