Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : janeiro 2015

Ministros de Dilma reeditam Festival de Besteiras que Assola o País
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Mário Magalhães

Faz meio século, por aí, que Stanislaw Ponte Preta, nome de guerra de Sérgio Porto, passou a colecionar pérolas da estupidez e da cretinice, na seleção que batizou como Febeapá, ou Festival de Besteiras que Assola o País. Naquele tempo, meados dos anos 1960, o cronista costumava fustigar a nascente ditadura.

A ditadura se foi, Sérgio Porto também, mas não o imortal Febeapá. Como provam alguns dos ministros do governo Dilma Reloaded.

Nesta segunda-feira, numa entrevista à jornalista Mônica Bergamo, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, alardeia, faceira que só ela: “O latifúndio não existe mais”.

Dispenso estatísticas sobre uma das mais obscenas concentrações fundiárias do planeta, para eleger a tirada da ministra ao Febeapá 2015. Basta dizer que ela é líder dos… latifundiários. E sem latifúndio não haveria latifundiário.

Insatisfeita com registro único, Kátia Abreu culpou os índios por conflitos no campo. Afinal, eles “saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção”.

Outro dia foi a vez de George Hilton vestir sua camisa no time do Febeapá. Pode não ser a dez, mas merece começar jogando. Na posse como ministro do Esporte, o craque soltou o tirambaço: “Vou tranquilizá-los: posso não entender profundamente de esporte, mas entendo de gente”.

Há uma vastidão de vocações para quem entende de gente. O chefe do Ministério do Esporte, contundo, tem de entender profundamente de esporte _perdão pela obviedade.

O ministro do Planejamento também ganhou seu lugar no novo Febeapá. Depois de a propaganda da candidata Dilma Rousseff identificar em Aécio Neves e seu ministro-que-foi-sem-nunca-ter-sido, Armínio Fraga, a intenção de mudar a regra que tem permitido o aumento real do salário mínimo, Nelson Barbosa disse na sexta-feira: “Vamos propor uma nova regra para 2016 a 2019”.

A asneira foi tamanha que no sábado, obedecendo à presidente, o ministro voltou atrás na garfada aos trabalhadores: “Seguirá a regra de reajuste atualmente vigente”.

Não custa anotar, mais uma vez, o óbvio: se Kátia, Hilton e Barbosa garantiram, na condição de ministros, seu lugar no Febeapá, é porque foram convocados por Dilma.

Nesse ritmo, a edição do festival de besteiras de 2015 exigirá mais de um volume.

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Arautos do preconceito deviam ver doc sobre nazista que tentou ‘curar’ gays
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Mário Magalhães

O médico Carl Vaernet fugiu para a Argentina após tentar buscar cura gay em campos nazistas

O médico Carl Vaernet, nazista que tentou “curar” homossexuais na 2ª Guerra – Foto reprodução

 

Existe até gente bem intencionada que acha que dá em nada a pregação dos arautos do preconceito, entre eles deputados e senadores, para quem a homossexualidade é doença.

Mas às vezes dá, sim, e dá em tragédia.

Estreou em 2014 na Argentina o filme nacional “Triângulo Rosa”, reconstituindo certas pesquisas de um médico nazista em campo de concentração, nos tempos da 2ª Guerra. O doutor Carl Vaernet, dinamarquês, propunha-se a “curar” gays.

A história de Vaernet foi contada hoje, na “Folha”, pelo correspondente Felipe Gutierrez.

O documentário deveria ser obrigatório para os intolerantes, para verem quantos males o ódio pode causar.

E também para quem se ilude minimizando o ovo da serpente.

Tomara que o filme chegue logo ao Brasil.

Abaixo, o blog reproduz a matéria da “Folha”:

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*

Nazista que tentou ‘curar’ gays vira tema de documentário

Por Felipe Gutierrez, de Buenos Aires

Um nazista que buscou uma “cura” para a homossexualidade por meio de experimentos feitos em homens gays no campo de concentração de Buchenwald (Alemanha) virou tema do documentário “Triângulo Rosa”.

Carl Vaernet, o nazista, era um médico dinamarquês e foi um dos colaboradores que fugiram para o país sul-americano após a derrota do Eixo.

“[Heinrich] Himmler autorizou a pesquisa de Vaernet e demandou o extermínio de existência anormal'”, relata o militante LGBT Peter Tatchell, que, na década de 1990, pressionou o governo dinamarquês a abrir os documentos sobre o médico.

Segundo Tatchell, os nazistas perseguiram homossexuais por entender que traíam o ideal ariano masculino e por temer que pudessem causar um “dano” demográfico.

“Os nazistas descreviam os gays como sabotadores sexuais'”, explica. “Eles pensavam que a homossexualidade enfraquecia o Terceiro Reich, que precisava aumentar a população alemã para criar um exército e uma força de trabalho cada vez maior para conquistar a Europa”, diz.

Em suas experiências, Vaernet dava testosterona aos pacientes. O nazista desenvolveu uma cápsula que liberava o hormônio aos poucos (uma espécie de glândula artificial) após ser inserida cirurgicamente. De tempos em tempos, ele abria novamente os “pacientes” para trocar o aparato. Segundo Tatchell, trata-se do único caso conhecido de experimentos feitos em gays detidos em campos de concentração.

O argentino Esteban Jasper, um dos diretores do documentário “Triângulo Rosa”, afirma que cerca de 20 homens foram submetidos aos experimentos, e que três morreram no processo. “Ele não era um cientista com todas as letras”, diz Jasper.

Inicialmente, Vaernet não fazia pesquisa. Ele tinha uma clínica em Copenhagen, mas sua ligação com o nazismo o tornou alvo da resistência dinamarquesa. Ele viajou para a Alemanha e, com seus contatos, conseguiu trabalho em hospitais locais e acesso aos presos que usou como cobaia.

Logo depois da derrota do Eixo, Vaernet voltou à Dinamarca. “Ele foi preso logo, mas pouco depois enganou as autoridades dizendo que tinha uma doença séria que tinha de ser tratada na Suécia. De lá foi para a Argentina”, relata Jakob Rubin, autor de um livro sobre o nazista.

O médico chegou a Buenos Aires em 1947 e conseguiu um emprego no Ministério da Saúde da Argentina.

(Para ler a íntegra da reportagem, basta clicar aqui.)

 


No cinema, a burrice não é exclusividade dos personagens dos filmes
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Mário Magalhães

Terça-feira, 30 de dezembro, vai começar a sessão das 16h05 na sala 2 do Cinemark Botafogo.

Em cartaz, “Os caras de pau em o misterioso roubo do anel”.

Boa parte das piadas da comédia se apoia na burrice dos protagonistas e de alguns coadjuvantes.

O curioso é que entre o sem-número de trailers está o de “Os caras de pau em o misterioso roubo do anel”.

Como o trailer serve para seduzir o espectador para assistir a outros filmes que o cinema exibe ou exibirá, passar o trailer do filme para o qual já foi comprado ingresso parece desperdício (ou roubo) de tempo e expressão de…

Vai ver que a burrice é do espectador que não entendeu: era uma piada, aquecendo para “Os caras de pau”.

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Imagine se um filho ou neto de Lula fosse nomeado ministro aos 23 anos…
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Mário Magalhães

O ex-presidente Lula foi o antecessor e padrinho de Dilma Rousseff na ascensão ao Planalto.

O ex-governador Sérgio Cabral foi, igualmente, o antecessor e padrinho de Luiz Fernando Pezão na ascensão ao Palácio Guanabara.

Imagine o escândalo nacional, esgoelado em prosa, verso e palavrões, que seria a nomeação, por Dilma, de um filho ou neto de Lula para ministro de Estado. Com tal ministro na flor dos 23 anos de idade.

Escândalo merecido, barulho muito seria pouco, digna indignação.

Não, nenhum Silva Junior ou Silva Neto foi consagrado ministro pela presidente, amém.

Mas o governador Pezão escalou para o seu secretariado Marco Antônio Neves Cabral, filho do antigo governador Sérgio Cabral. No último aniversário, Marco Antônio completou… 23 anos. No Facebook, o secretário informa ser “formando em Direito”.

Ele não pegou qualquer rebotalho de governo, mas a Secretaria de Estado de Esporte, Lazer e Juventude. Isto é, a pasta que cuidará das ações estaduais para a Olimpíada de 2016 no Rio.

Entretanto, não se viu, leu e escutou brados esconjurando escândalo algum, além dos justos, porém reduzidos protestos de sempre.

Haverá quem relativize o apadrinhamento como critério de escolha de gestor público, pois Marco Antônio se elegeu deputado federal _119.584 votos ao custo de pelo menos R$ 6,7 milhões bancados por empresas como JBS e Andrade Gutierrez (leia aqui sobre o financiamento da campanha).

Mas também haverá quem possa indicar uma centena de gestores mais qualificados que Marco Antônio, que talvez até seja um cara bacana, contudo só se tornou secretário devido aos vícios da política.

Como não é filho do Lula e imperam pesos e medidas diferentes, a grita foi pequena aqui no Rio.

Só para lembrar: o Império, quando o poder passava legalmente de pai para filho, despediu-se em 1889.

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Sou Minas Gerais: agora, ex-guerrilheiros governam BH, MG e Brasil
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Mário Magalhães

Breve anotação para a história, sem juízo de valor: com a nova posse da presidente Dilma Rousseff, a chegada de Fernando Pimentel ao governo de Minas e a continuidade do prefeito Márcio Lacerda em Belo Horizonte, a maior cidade mineira, o Estado e o país agora são comandados por três ex-guerrilheiros _e ex-presos políticos.

Enquanto isso, ao capitão Bolsonaro falta coragem para encarar eleição majoritária até para síndico de prédio.

As viúvas da ditadura têm mesmo bons motivos para não se livrar da enxaqueca existencial.

(Esta nota sobre os três governantes mineiros merece ser lida ao som de “Para Lennon e McCartney”, canção que pode ser ouvida clicando aqui.)

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Com aumento de 13% nas passagens, governo do Rio zomba de protestos de 2013
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Mário Magalhães

Só se passaram 19 meses, mas parece que aqueles protestos têm a idade do Rio, 450 anos: em junho de 2013, depois de centenas de milhares de pessoas acorrerem às ruas também contra o aumento da passagem de ônibus de R$ 2,75 para R$ 2,95, o prefeito Eduardo Paes revogou a garfada.

As mobilizações não eram apenas por 20 centavos, mas os 20 centavos detonaram a explosão e galvanizaram as multidões de vozes distintas.

Como se zombasse dos cariocas que foram à luta há tão pouco tempo, a prefeitura determinou aumento de 13,3% nos bilhetes dos ônibus municipais, a partir deste sábado: amanhã a passagem pula de R$ 3,00 para R$ 3,40.

É muito mais do que o aumento do salário mínimo, 8,8%.

Em fevereiro de 2014, a tarifa já havia subido de R$ 2,75 para R$ 3,00. Relatório do Tribunal de Contas do Município observou à época que as informações disponíveis sobre custos da operação nas empresas sugeria não aumentar, mas diminuir para R$ 2,50 _e bom lucro seria apurado.

O TCM ficou de assegurar uma auditoria externa nas empresas, e o caso ainda se arrasta como novela de sucesso que o autor tem de esticar por ordem da emissora.

Não são somente os 40 centavos.

Em 2012, o candidato à reeleição Paes prometera que toda a frota de coletivos seria equipada com ar condicionado até 2016. E tem justificado “reajustes” (entre aspas, porque se trata de aumentos) com o desembolso dos empresários na refrigeração dos veículos.

Pois agora o prefeito reconhece que em 2016 a cidade das sensações térmicas de 50 graus pra cima estará longe de ter 100% dos ônibus com ar. Hoje a taxa está em 27%, com índice maior nos bairros com moradores mais endinheirados, na Zona Sul.

O Estado não ficou muito atrás: as tarifas de ônibus e vans intermunicipais subirão 12,46%.

Brasil afora, governos e empresários, numa parceria promíscua, se aproveitam das férias para imporem abusos em temporada imprópria para organizar manifestações _porém algumas devem acontecer.

A lição da história é a de sempre, nos quatro séculos e meio aqui do Rio: os de cima aprontam sem constrangimento e só param quando os de baixo esperneiam.

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