Arautos do preconceito deviam ver doc sobre nazista que tentou ‘curar’ gays
Mário Magalhães
Existe até gente bem intencionada que acha que dá em nada a pregação dos arautos do preconceito, entre eles deputados e senadores, para quem a homossexualidade é doença.
Mas às vezes dá, sim, e dá em tragédia.
Estreou em 2014 na Argentina o filme nacional ''Triângulo Rosa'', reconstituindo certas pesquisas de um médico nazista em campo de concentração, nos tempos da 2ª Guerra. O doutor Carl Vaernet, dinamarquês, propunha-se a ''curar'' gays.
A história de Vaernet foi contada hoje, na ''Folha'', pelo correspondente Felipe Gutierrez.
O documentário deveria ser obrigatório para os intolerantes, para verem quantos males o ódio pode causar.
E também para quem se ilude minimizando o ovo da serpente.
Tomara que o filme chegue logo ao Brasil.
Abaixo, o blog reproduz a matéria da ''Folha'':
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Nazista que tentou 'curar' gays vira tema de documentário
Por Felipe Gutierrez, de Buenos Aires
Um nazista que buscou uma ''cura'' para a homossexualidade por meio de experimentos feitos em homens gays no campo de concentração de Buchenwald (Alemanha) virou tema do documentário ''Triângulo Rosa''.
Carl Vaernet, o nazista, era um médico dinamarquês e foi um dos colaboradores que fugiram para o país sul-americano após a derrota do Eixo.
''[Heinrich] Himmler autorizou a pesquisa de Vaernet e demandou o extermínio de existência anormal''', relata o militante LGBT Peter Tatchell, que, na década de 1990, pressionou o governo dinamarquês a abrir os documentos sobre o médico.
Segundo Tatchell, os nazistas perseguiram homossexuais por entender que traíam o ideal ariano masculino e por temer que pudessem causar um ''dano'' demográfico.
''Os nazistas descreviam os gays como sabotadores sexuais''', explica. ''Eles pensavam que a homossexualidade enfraquecia o Terceiro Reich, que precisava aumentar a população alemã para criar um exército e uma força de trabalho cada vez maior para conquistar a Europa'', diz.
Em suas experiências, Vaernet dava testosterona aos pacientes. O nazista desenvolveu uma cápsula que liberava o hormônio aos poucos (uma espécie de glândula artificial) após ser inserida cirurgicamente. De tempos em tempos, ele abria novamente os ''pacientes'' para trocar o aparato. Segundo Tatchell, trata-se do único caso conhecido de experimentos feitos em gays detidos em campos de concentração.
O argentino Esteban Jasper, um dos diretores do documentário ''Triângulo Rosa'', afirma que cerca de 20 homens foram submetidos aos experimentos, e que três morreram no processo. ''Ele não era um cientista com todas as letras'', diz Jasper.
Inicialmente, Vaernet não fazia pesquisa. Ele tinha uma clínica em Copenhagen, mas sua ligação com o nazismo o tornou alvo da resistência dinamarquesa. Ele viajou para a Alemanha e, com seus contatos, conseguiu trabalho em hospitais locais e acesso aos presos que usou como cobaia.
Logo depois da derrota do Eixo, Vaernet voltou à Dinamarca. ''Ele foi preso logo, mas pouco depois enganou as autoridades dizendo que tinha uma doença séria que tinha de ser tratada na Suécia. De lá foi para a Argentina'', relata Jakob Rubin, autor de um livro sobre o nazista.
O médico chegou a Buenos Aires em 1947 e conseguiu um emprego no Ministério da Saúde da Argentina.
(Para ler a íntegra da reportagem, basta clicar aqui.)