Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : janeiro 2015

Declaração mostra que Roberto Carlos pediu proibição de livro que não leu
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Mário Magalhães

Não leu e não gostou - Foto Alex Palarea e Marcello Sá Barretto / AgNews

Não leu e não gostou – Foto Alex Palarea e Marcello Sá Barretto / AgNews

 

Fiquei sabendo pelo blog do alvinegro Mauricio Stycer (leia post aqui): outro dia Roberto Carlos disse a Amaury Jr., na Rede TV, que nunca ouvira falar na covardia de um colaborador seu contra Tim Maia, na segunda metade dos anos 1960.

Sem um tostão no bolso, Tim pediu ao velho amigo Roberto, dos tempos de vacas magras na Tijuca, uma ajuda em dinheiro. Então, uma pessoa do estafe do líder da Jovem Guarda atirou um trocado no chão, humilhando o artista em dificuldades.

Essa cena consta do filme de Mauro Lima sobre Tim Maia, lançado no ano passado. Mas foi suprimida da versão que a TV Globo exibiu semanas atrás. A sequência do filme e as declarações de Roberto a Amaury podem ser assistidas clicando na imagem abaixo:

 

 

Eis o que Roberto disse: “Aquele negócio do dinheiro que o secretário jogou, eu nunca soube disso. Para mim, aquilo foi uma absoluta novidade, porque eu nunca soube que aquilo tivesse acontecido”.

Não há por que duvidar de que Roberto Carlos esteja falando a verdade ou suspeitar que a senilidade lhe consome os neurônios.

O curioso é que, na virada de 2006 para 2007, o rei recorreu à Justiça para proibir um livro. E conseguiu: “Roberto Carlos em Detalhes”, biografia supimpa da autoria de Paulo Cesar de Araújo e editada pela Planeta, está banido das livrarias até hoje.

O que a afirmação de RC a Amaury Jr. confirma é a desconfiança de que o cantor não havia lido o livro que logrou proibir. E cujos milhares de exemplares sobreviventes, entregues ao co-autor da obra-prima “Quero que vá tudo pro inferno”, desapareceram. Será que foram queimados numa fogueira intolerante?

Porque o episódio da sacaneada em Tim Maia está lá, na biografia censurada, contado em detalhes. A fonte foi o próprio síndico, em entrevista ao biógrafo PC. E quem humilhou o homem que vivia um perrengue brabo, depois de cinco prisões nos Estados Unidos, uma no Rio, com tortura na delegacia e cana de meses, recém saído da cadeia, não foi um estafeta, mas o poderoso diretor do programa de Roberto na Record.

Eis o que está no livro:

“Certa vez, Tim Maia entrou na TV Record disposto a falar de qualquer jeito com Roberto Carlos. ‘Mas ali só dava para falar com ele andando. Roberto ia caminhando com uns quinze secretários, seguranças e o motorista atrás dele.’ Tim seguiu a procissão. Quando Roberto Carlos percebeu a presença dele, acenou sorrindo, ‘oi, Tião, como vai?’, e continuou andando com sua equipe. ‘Roberto Carlos, eu estou durinho, cara. Eu não tenho dinheiro nem pra voltar pra casa’, implorou Tim Maia. ‘Manga, dá um dinheiro aí pro Tião’, ordenou Roberto ao diretor do programa que caminhava ao seu lado. Carlos Manga também ainda não conhecia Tim Maia, nem sabia da história dos Sputniks, nem da pensão do seu Altivo Maia. Então tirou uma nota de dez cruzeiros do bolso, amassou-a e fez uma bolinha de papel, jogando-a para o alto. A bolinha fez um arco no ar e caiu num canto do corredor, distante de onde estava Roberto Carlos. Humilhado e ofendido, Tim Maia se agachou para pegar o dinheiro. ‘Eu tive um acesso de choro na hora’, afirma Tim.”

(“Roberto Carlos em Detalhes”, de Paulo Cesar de Araújo, Planeta, 2006, pág. 151)

Mais uma informação para a biografia de Roberto Carlos: ele não é apenas partidário do expediente antidemocrático da proibição de livros; também é pró-censura de um livro que, como ele deixa claro, nem leu.

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O sexo dos políticos e os conflitos do jornalismo
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Mário Magalhães

Com as eleições de 2016 no horizonte e o clima de campanha eleitoral permanente herdado dos confrontos de 2014, o jornalismo brasileiro terá de novo que calibrar seu comportamento acerca de controvérsia encarada de maneiras distintas mundo afora: quais os limites toleráveis na cobertura da vida privada de postulantes a funções públicas ou no exercício delas, mais propriamente a respeito de seus amores e sexualidades?

A abordagem consagrada pela imprensa no país costuma proteger os políticos da difusão de informações sobre seus relacionamentos não públicos.

Essa é a cultura nacional, e da minha parte está bem assim. Num exemplo, se determinada figura pública mantém outros namorados ou namoradas além do titular dos retratos palacianos, isso constitui assunto íntimo.

Reconheço, contudo, que são vigorosos os argumentos contrários, adotados em larga escala pelos meios de comunicação norte-americanos: se alguém se dispõe a participar da administração pública e por isso interfere no cotidiano dos cidadãos, precisa aceitar que seu dia-a-dia seja escrutinado publicamente. Teme-se também que relações afetivas secretas possam se tornar instrumento de chantagem contra o político e, portanto, ameaçar o interesse público.

A atitude jornalística mais nefasta, como confirmam os últimos meses de certo noticiário, é a insinuação, no estilo ordinário da imprensa amarela ou marrom. A fórmula da baixaria se condensa hoje na expressão maliciosa “homem de confiança”.

Se o jornalismo considera importante e legítimo expor vínculos amorosos de políticos, que os exponha. Mas cultivar a maledicência equivale à desqualificação mais vulgar do ofício informativo.

Nos Estados Unidos, com suas irrefreáveis carolice, hipocrisia e patrulhas da libido, quando um político é surpreendido com a regra três, mesmo em relações consensuais entre maiores de idade, a informação é veiculada, e a carreira, liquidada. Que o diga Bill Clinton.

Na França, ao contrário, a existência de duas famílias de François Mitterrand, uma de domínio social e outra na moita, era manjada nas redações. Mas o “secret de Polichinelle” só foi compartilhado com o povaréu quando o presidente morreu.

Como se descobriu em janeiro do ano passado, os franceses mudaram: a partir do furo de valor duvidável de uma revista, mostrando que Hollande, xará de Mitterrand, saía de moto para costurar para fora, o jornalismo em conjunto debruçou-se sobre a tempestade conjugal no Élysée. Entre as alegações buscando prestigiar a informação que originara a crise, estava a de que os filhos da pátria tinham o direito de saber que o namorador, rumo aos seus pulinhos de cerca, cometia o desatino de circular com débil proteção da segurança.

Brasil

Com governantes no poder, o jornalismo brasileiro costuma ignorar escapadelas ou convivências não oficiais.

Quando um presidente da República supunha ter um filho fora do casamento _assumido legalmente por ele, mas escondido dos refletores_, o opção quase unânime foi não noticiar. Inexistia relevância pública na informação, e prevaleceu o silêncio. Corretamente, como, no meu tempo de ombudsman, eu respondia aos leitores que me procuravam reivindicando reportagens sobre o tema. Tratava-se de matéria essencialmente particular.

Alguns anos atrás, a Agência Brasileira de Inteligência expediu informe reservado dando conta de um affaire entre um ministro e uma ministra de Estado. Mesmo na queda do ministro, suspeito de promiscuidade com empreiteiras, os muitos repórteres que tiveram acesso ao documento nada publicaram. Fizeram bem, porque não havia interesse público _talvez “do” público futriqueiro_ no suposto xodó ministerial.

(É diferente quando os protagonistas de um romance clandestino o tornam público, como Zélia Cardoso de Mello e Bernardo Cabral, na atmosfera burlesca da era Collor.)

Noutra quadra, eu preparava o perfil de uma expoente da República quando comprovei que ela mantinha um namorado na surdina. Escrevi sobre a influência do dito cujo na militância da senhora, pois era fato político significativo. Mas não ensaiei insinuação sobre outras conexões, pois elas não diziam respeito a ninguém além do casal enamorado e do marido desatento.

Às vezes, contudo, a descompostura alheia obriga a veiculação de estocadas indignas.

Na década de 1990, num mata-mata eleitoral para prefeitura, a campanha de uma candidata espalhou que a adversária manifestava “conduta sexual atípica”, ou, no raciocínio desmiolado de quem proferiu as palavras, era homossexual.

Já nos anos 2000, propaganda de uma candidata a prefeita indagava na TV sobre o contendor: “É casado? Tem filhos?”.

Nos dois episódios, o jornalismo tinha obrigação de noticiar. Mas não escarafunchou a intimidade dos candidatos. Acertou.

Para os anais: os eleitores rejeitaram a intolerância oportunista e derrotaram os concorrentes que apelaram à insensatez.

História

Não ultrapassar os limites civilizados da privacidade não implica calar na hipótese de testemunhar ou ouvir testemunho de ações de um político que os eleitores merecem conhecer, para avaliá-lo, julgá-lo e eventualmente sufragá-lo. Desde envolvimento com pedofilia a agressão a companheiro ou companheira.

A tradicional recusa brasileira em abordar o sexo dos políticos não se sustenta, contudo, ao reconstituir o passado.

No balanço sincero da história, seria aberrante não contar em obra jornalística ou historiográfica de fôlego o que o presidente Juscelino Kubitschek pretendia fazer no Rio quando ocorreu o desastre automobilístico que o matou. Ele não viajava para cá a fim de comer um sanduíche de rosbife no saudoso Gordon.

Bem como seria incompreensível narrar a vida de Tancredo Neves ignorando uma longeva relação fora do matrimônio.

Idem uma biografia do argentino Ernesto Che Guevara que não tentasse esclarecer, confirmando ou negando (as que eu li divergem), se ele e a alemã Tamara Bunke eram amantes. Ambos combateram na guerrilha deflagrada na Bolívia e foram mortos em 1967.

Seria desclassificante evocar a trajetória de Marilyn Monroe e John Kennedy apagando o bundalelê entre os dois. Não seria contar vidas, mas omitir e descaracterizar.

Sem falar do rabicho entre D. Pedro I e Domitila de Castro Canto e Melo, como entender a proeminência da Marquesa de Santos nas intrigas imperiais?

Exemplos não faltam.

Porém, cavucar honestamente o passado difere da informação invasiva contemporânea com possível impacto em embates eleitorais. Salvo eventual cenário extraordinário, notícias sobre quem-come-quem ou se-gosta-de-menino-ou-menina carecem de importância pública, portanto jornalística.

O jornalismo não deveria ser bedel dos desejos, e sua contribuição indispensável à democracia prescinde de mexericos.

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‘Amarelinha no peito ou verdinhas no bolso?’, por Anderson Olivieri
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Mário Magalhães

Reprodução do "Jornal de Brasília"

Reprodução do “Jornal de Brasília”

 

Boa notícia: o grande cruzeirense Anderson Olivieri retomou nesta terça-feira sua coluna “Gol de Letra”, no “Jornal de Brasília” (aqui).

O blog tem a honra de compartilhá-la abaixo.

Não custa reiterar: as opiniões são do Anderson.

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Amarelinha no peito ou verdinhas no bolso?

Por Anderson Olivieri

Há alguns meses, conversei com Piazza, ex-volante cruzeirense, e ouvi algo que me chamou a atenção. Naqueles tempos de Pelé, a briga por uma vaga na seleção brasileira era quase tão acirrada como por um cargo público efetivo hoje. Piazza contou-me que sua primeira luta era por um lugar entre os 22 de João Saldanha. Conseguiu. Depois, com a queda do comunista, a briga era para estar entre os eleitos de Zagallo, técnico escolhido pela então CBD. Conseguiu também. Iniciada a fase de preparação para o mundial do México, o empenho concentrava-se em figurar entre os 11 titulares. Até de atacante jogaria, disse-me. Conseguiu de novo. Escalado entre os 11, passou à última batalha daquela guerra: conseguir atuar na posição de origem, aquela que o consagrou na Raposa e o levou à Seleção. Não conseguiu. Piazza foi recuado por Zagallo e jogou o mundial inteiro de zagueiro, ao lado de Brito. O que, claro, não lhe tirou o encanto. Ainda mais porque se tratava da seleção de 70, laureada como a maior de todos os tempos.

Enfim, esta é só uma história que ilustra bem como havia, entre os jogadores, tesão pela amarelinha. Lutava-se por tudo que se referia ao escrete canarinho – desde uma vaga entre os convocados até a escalação na posição de ofício. Eram tempos de amor, de fascínio pela seleção. Nada, alvo nenhum era maior do que o de vestir aquela camisa. Eram tempos, dizem, em que o nobre sentimento valia mais que o cobre. Mas será mesmo? Havia de fato todo esse desapego ao material e devoção ao sagrado manto verde e amarelo?

Este debate voltou à tona na última semana impulsionado pela facilidade com que jogadores atuais trocam o sonho da Seleção por petrodólar e ching-ling money. Três jogadores do time de Dunga – Diego Tardelli, Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro – deixaram seus clubes para se aventurar nos mundos árabes e chinês. O primeiro, estrela do Atlético-MG, não pensou duas vezes. Foi para o quase impronunciável Shandong Luneng ganhar algo em torno de R$1 milhão por mês. Ricardo Goulart tomou o mesmo rumo, mas para defender o Guangzhou Evergrande. Como recompensa ao árduo desafio de enfrentar cultura chinesa, vai receber R$1,1 milhão por mês. O novo clube de Goulart ainda deixou, nos cofres do Cruzeiro, 15 milhões de euros. Já Everton Ribeiro, craque do campeonato brasileiro pelo segundo ano consecutivo, transferiu-se para Al Ahli, de Dubai. Também vai por um caminhão de dinheiro. Nenhum deles se importou com a consequência maior de suas escolhas. A chegada aos novos clubes representa o adeus à Seleção Brasileira. Mas quem se importaria? Sejamos francos – ninguém. Ou quase ninguém.

É lindo, nostálgico, romântico ver a paixão dos homens do tempo de Piazza pela amarelinha. Ouvir histórias como a narrada nas primeiras linhas desta coluna enche a alma de saudade. O encanto quase lúdico que se guarda desses tempos, porém, não pode ser transformado em arma moralista a ser apontada contra os que hoje se rendem ao direito de garantir a tranquilidade financeira de filhos e netos em troca do orgulho de defender a Seleção. Na excelente biografia de Garrincha, escrita por Ruy Castro, consta passagem de um episódio revelador.  O Anjo das Pernas Tortas sentia-se desprestigiado pelo Botafogo, com salário defasado, quando surgiu proposta da Juventus de Turim. Não teve amor à camisa do Glorioso que impedisse Garrincha de aceitar a proposta. O eterno camisa sete só não foi porque o Botafogo bateu o pé e não vendeu o passe para o clube italiano. A transferência poderia ter sido o fim da história dele com a amarelinha, como foi para Julinho enquanto esteve fora do país.

Enfim, o que distingue as épocas não é a paixão pelo clube ou seleção, que, dizem, havia naqueles tempos, mas a dinheirama que rola nestes dias e, felizmente, não rolava nos tempos românticos. Aliás, que dinheiro no mundo pagaria o que de fato valiam Pelé, Garrincha, Didi…? Pois cravo: nem toda riqueza dos sheiks árabes pagaria.


#RIP José Luiz Alcântara, 65
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Mário Magalhães

O jornalista José Luiz Alcântara - Foto reprodução do "Estadão"

O jornalista José Luiz Alcântara – Foto reprodução do “Estadão”

 

Do jornal “O Estado de S. Paulo” (aqui):

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Morre José Luiz Alcântara, chefe de redação do “Estado” na sucursal do Rio

Da Agência Estado, via “Estado de Minas”

Rio de Janeiro, 26 – O jornalista carioca José Luiz Alcântara morreu na manhã desta segunda-feira, 26, aos 65 anos, no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, zona sul do Rio. Com 45 anos de profissão, começou a carreira como repórter do jornal O Povo, em Fortaleza, onde morou nos anos 1960 e início dos 70. Passou duas vezes pelo Jornal do Brasil, como repórter, na década de 1970, e como editor de Cidades, no fim dos anos 1990. Foi chefe de reportagem e chefe de redação de O Dia. Em março, completaria 15 de trabalho no Estado, onde era chefe de redação da sucursal do Rio de Janeiro.

A jornalista e colunista Suely Caldas foi quem levou José Luiz para o Estado, em março de 2000, quando ocupava o cargo de diretora da sucursal do Rio. “Trabalhei com ele durante mais de dez anos, período em que me enriqueceu muito do ponto de vista humano, não só na maneira como lidar com nossos comandados no Estadão, mas na forma como trazia sempre um conforto e bom humor na relação com a vida. Era uma pessoa generosa, correta, honesta, excelente caráter, o que não tirava dele o bom humor.

Sempre preservou os amigos e os amigos não esquecerão dele”, diz Suely.

“O jornalismo perde um profissional talentoso, que será sempre lembrado pela forma como nutria o cotidiano da redação com sua experiência, especialmente no convívio com os mais jovens”, afirma Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado.

“Era um super amigo, alegre, uma pessoa muito querida”, diz o jornalista e escritor Dacio Malta, que conheceu José Luiz no Jornal do Brasil e o levou para trabalhar em O Dia quando assumiu o cargo de diretor-editor do jornal carioca, em 1987. “Profissional de primeira linha, chefe adorado pela unanimidade de seus subordinados, homem de humor fino, amante da vida e de tudo de bom que ela possa proporcionar, generoso e solidário. E mais do que tudo: o melhor caráter que já conheci”, escreveu Dacio no Facebook.

O jornalista Marcelo Pontes, que conheceu José Luiz em Fortaleza, lembra o jeito piadista e alegre do amigo de mais de 40 anos. “Além de ser um excelente repórter, com faro afiadíssimo, tinha uma qualidade às vezes confundida com deboche: um senso crítico muito aguçado. Um cara alegre, brincalhão. Ao mesmo tempo, sério, crítico, rigoroso”, diz.

Torcedor apaixonado do Fluminense, José Luiz era frequentador assíduo do clube, em Laranjeiras (zona sul), onde morava. Também tinha paixão pelos animais e teve vários cachorros ao longo de toda a vida. José Luiz era filho do jornalista, escritor e dramaturgo cearense Nertan Macedo. Deixa um filho, Maurício, do casamento com a jornalista Bella Stall, e a companheira Lívia Ferrari.


Balas ‘perdidas’ disparam e UPPs patinam, mas RJ corta R$ 1,4 bi da polícia
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Mário Magalhães

Um adolescente de 16 anos ferido horas atrás num tiroteio no complexo do Alemão pode ser a 18ª vítima das ditas balas “perdidas”, na região metropolitana do Rio, nos últimos doze dias. Como se sabe, “bala perdida” é a expressão imprópria empregada nos casos de pessoas alvejadas sem que tivessem participação no confronto (leia aqui, na reportagem de Marcello Victor).

Dos 17 ou 18 baleados, três morreram, entre eles duas crianças.

Ao mesmo tempo em que mais inocentes viram alvo, o projeto das Unidades de Polícia Pacificadoras faz água, a considerar o seu alegado propósito de sufocar os bandidos que dominam favelas e bairros.

A morte da jovem Adriene Nascimento, 21, na Rocinha, durante troca de tiros entre policiais militares e traficantes, é exemplo da crise das UPPs: as autoridades do Rio haviam comemorado no passado o fim de ações armadas do tráfico na mais populosa favela carioca.

Diante dos reveses da sua política de segurança, o governo do Estado, em vez de reforçar o investimento nas iniciativas em que aposta, acaba de cortar R$ 1,4 bilhão previsto para a Polícia Militar e a Polícia Civil em 2015. É o que informa o repórter Luiz Ernesto Magalhães (aqui).

Só na PM, que concentra as atividades das UPPs, o arrocho será de R$ 1,2 bilhão, ou 26% do borderô previsto para a corporação neste ano.

Tecnicamente, houve congelamento de R$ 1,4 bilhão, e não subtração definitiva do orçamento. Na prática, a Secretaria de Estado de Segurança não pode contar com as verbas antes previstas.

O secretário José Mariano Beltrame apontou ontem a existência de uma “nação de criminosos” que se criou no Rio nas décadas recentes. E enfatizou que o combate ao crime não é atribuição exclusiva do Estado.

O que o secretário não contou foi a percepção crescente entre sua equipe _isto é informação, não suposição_ de que o projeto das UPPs tem uma deficiência insuperável: funciona em pequenas comunidades, como a favela Santa Marta, mas fracassa na imensidão do Alemão, complexo onde vivem em torno de 70 mil habitantes.

Outro problema grave _e ignoro se o governo tem a mesma impressão_ é a cultura bélica da PM, que tornou as UPPs um projeto de ocupação de território hostil, no qual os moradores, mesmo que não oficialmente, são identificados como bandidos ou potenciais aliados de bandidos. Essa cultura repressiva contribui para os abusos e crimes de autoria de policiais das UPPs que tratam trabalhadores como se fossem traficantes.

O episódio mais eloquente foi o da tortura e morte do pedreiro Amarildo, na Rocinha, em 2013. (A propósito, o major Edson Santos, cria do Bope e hoje preso, poderia _tentar_ explicar o conteúdo dos telefonemas em que PMs combinam ocultar suas responsabilidades na eliminação de Amarildo.)

Outra dificuldade de Beltrame é que as UPPs cresceram por necessidade política, sem que houvesse contingente e estrutura para a expansão.

Para não falar da ausência, além dos discursos, de um efetivo programa social em lugares onde a pobreza e a precariedade de serviços públicos impressionam.

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Há 70 anos o Exército Vermelho libertava Auschwitz. Vale um porre
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Mário Magalhães

Em 1945, reencontros em Auschwitz, depois da libertação

Em 1945, reencontros em Auschwitz, depois da libertação

 

Nesta terça-feira faz 70 anos que, na gloriosa jornada de 27 de janeiro de 1945, tropas do Exército Vermelho libertaram milhares de presos do complexo de campos de concentração e extermínio de Auschwitz.

Contou-se na casa de milhão os mortos no inferno montado pelos nazistas no sul da Polônia.

Maldades que não devem ser esquecidas e cujos autores não merecem anistia.

Aquele dia redentor, há sete décadas cravadas, sempre valerá um trago.

Um trago, não: um porre.

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Agência Pública busca contribuições para financiar reportagens em 2015
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Mário Magalhães

blog - agência pública logo

 

A Agência Pública, dedicada ao mais valioso gênero do jornalismo, a reportagem, tem oferecido boas, inspiradas e relevantes reportagens de fôlego.

A agência lançou seu segundo projeto de crowdfunding. Os leitores que ajudarem a financiar a Pública em 2015 escolherão dez pautas em que serão investidos os recursos arrecadados.

Para entender como funciona o financiamento coletivo e contribuir, basta clicar aqui.

Para conhecer a Agência Pública, clique neste link.

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Chefões de Fla, Flu e Maracanã acham que futebol não é relevante no Brasil
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Mário Magalhães

blog - manifesto cartolas

 

Se vale o escrito, como na tradição do bicho, a cartolagem de Flamengo e Fluminense e a concessionária que explora o Maracanã, sob controle do conglomerado Odebrecht, consideram que o futebol não é “atividade” “grandiosa” ou “relevante para a sociedade” brasileira.

Tal apreciação nonsense consta de manifesto divulgado no sábado, confrontando com méritos a absurda determinação da federação de futebol do Rio que impõe preços de ingressos que implicam vultosos prejuízos, aos clubes e à concessionária, em jogos do Campeonato Estadual no estádio maior.

Ter razão na batalha contra a turma daninha da federação não confere autoridade para pronunciar disparates.

Assim principia o “Manifesto por um futebol carioca profissional” (a imagem do alto reproduz o jornal “O Globo”): “Acreditamos no potencial do futebol brasileiro em se tornar uma atividade próspera, grandiosa e relevante para a sociedade e para a economia nacional”.

Ou seja, se é preciso “se tornar”, ainda não é.

No caso da economia, é discutível _ o futebol mobiliza bilhões de reais em publicidade, material esportivo, turismo etc. Mas seu impacto econômico pode mesmo ser muito maior.

Em relação à “sociedade”, pontificar que o futebol não é “relevante” significa perder a noção.

Não custa dar um desconto, pois o que não falta é pato novo no futebol entre os chefões de Fla, Flu e Maracanã.

A condição de neófito, contudo, deveria recomendar mais cuidado com o que se fala e escreve.

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