Blog do Mario Magalhaes

‘Não passei’, por Karina Kuschnir

Mário Magalhães

blog - karina não passei

 

O desenho acima e as bem traçadas linhas abaixo são de autoria da cronista, antropóloga, professora, jornalista e artista plástica Karina Kuschnir.

Estão no blog da Karina (aqui), que reúne ''desenhos, textos, coisas''.

São uma sacada inspirada, neste tempo de gatos mestres e de tanta gente vestida com roupa de mocinho.

Eu também cansei de não passar.

Volta e meia, não passo de novo.

( O blog está no Facebook e no Twitter )

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Não passei
Por Karina Kuschnir
Não passei no vestibular de desenho (duas vezes).
Não passei na prova de estágio da editora Abril.

Não passei na prova de inglês do mestrado.

Não passei na primeira seleção de Prodoc do Museu Nacional.

Não passei no concurso do Departamento de Comunicação da PUC.

Não passei em seleções do CNPq e da Faperj (várias).

Quis registrar esses momentos porque às vezes fico sem palavras quando um amigo ou amiga queridos me dizem: “não passei”.

Para quem faz parte do meio acadêmico, nessa época do ano, o facebook fica cheio de comemorações: “passei no mestrado!”, “passei no doutorado!”, e até “passei na residência” (viva, prima!). E os posts ficam cheios de likes e comentários: é tão fácil e gostoso dar os parabéns!

Mas o que dizer diante dos não-postados: “não passei”, “não foi dessa vez”?

No documentário Vocação do Poder, os diretores Eduardo Escorel e José Joffily acompanham seis candidatos a vereador no Rio num ano eleitoral. Uma das cenas que mais me emociona no filme é quando um candidato começa a verificar os resultados das urnas e descobre que não obteve os votos que esperava. Sem querer acreditar, ele olha uma, duas, três, dez vezes, os boletins impressos das urnas. Passa e repassa aqueles papeis, como se pudesse acontecer um milagre: se ele olhar de novo, só mais uma vez, talvez aqueles números mudem… Mas não; ele não passou também.

Isso de achar ou não achar nosso nome numa lista é forte. Exige uma humildade, a menos que a lista seja uma fraude, o que também acontece sim.

Mesmo com lágrimas e choro, é um pouco mais fácil quando você é pessimista (como eu) e já acha que não vai chegar lá (escrevi sobre isso nesse post). Sempre tenho um plano B. Em algumas dessas situações, foi aquele clichê: “não passar” foi mesmo a melhor coisa que me aconteceu! Certas vezes, a única saída foi me resignar. Em outras, tentei de novo e consegui.

Acho que o desafio é escapar de viver em função de uma definição externa de nós mesmos; e seguir em frente, mesmo quando não temos o “aval do mundo” (aplausos, likes, prêmios, nome no topo da lista).

Taí uma boa meta para 2015!

E um abraço apertado para os meus querid@s que não passaram (e também para os que passaram). Como se diz por aí: tamo junto!

Sobre o desenho: Desenhei essa pontezinha desativada no Jardim Botânico em outubro para um desafio (entre amigas) sobre reflexos. Hoje me lembrei que a frase na plaquinha (“Favor não ultrapasse”) encaixava bem no tema do post. O desenho foi feito no local, num moleskine de aquarela, com canetinha preta de naquim. Aquarela e lápis de cor acrescentados em casa.