Incansáveis e heroicas, velhinhas argentinas acham 116º neto desaparecido
Mário Magalhães
Elas são um sopro de crença na vida e na esperança: as Avós da Praça de Maio, por meio de sua dirigente Estela de Carlotto, anunciaram nesta quinta-feira que foi descoberto o paradeiro de mais um bebê, o 116º, desaparecido durante a ditadura argentina que vigorou de 1976 a 1983.
O menino nasceu na Esma, principal centro militar de tortura, morte e sumiço de presos políticos naqueles tempos. Seus pais foram assassinados e os corpos não foram entregues aos parentes. Bem como a criança que veio ao mundo em cativeiro.
O neto 116 tomou há algumas semanas a iniciativa de fornecer sangue para comparação com o DNA de famílias de desaparecidos na ditadura. Ele desconfiava ser filho de militantes.
Seus pais se chamavam Ana Rubel e Hugo Alberto Castro. A mãe foi sequestrada com dois meses de gravidez (saiba mais clicando aqui).
O homem, cujo nome ainda não foi informado, foi criado por uma família de civis em circunstâncias também não divulgadas.
Nenhuma das duas avós e dos dois avôs biológicos sobreviveu para celebrar a alegria do encontro com o neto roubado.
Em agosto, Estela de Carlotto descobriu o paradeiro do seu neto, o 114.
Na cerimônia de divulgação da descoberta do neto de Estela, as pessoas cantaram uma adaptação da música que embalou os torcedores argentinos na Copa (para assistir, basta clicar na imagem do alto ou aqui).
A tradução, meia-boca:
Milico, me diz o que sentes
Que tenhamos encontrado um neto mais
Te juro que ainda que passem os anos
Sempre os vamos buscar
Porque agora somos mais
As velhas vão brindar
E as crianças conosco vão estar.
Em síntese, a ditadura roubava crianças, depois de assassinar e sumir com seus pais.
As velhas, incansáveis e heroicas, não se cansam de buscá-las.
E ainda tem gente com saudade de ditaduras…