Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : dezembro 2014

Como diria o gigante Odair José, por um 2015 com momentos felizes sem fim!
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Mário Magalhães

 

Feliz 2015?

Qual nada: o blog deseja a todos um novo ano com momentos felizes sem fim!

Sai ano, entra ano, permanece a lição cantada pelo sábio Odair José: felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes.

Como subscrevi um tempo atrás, no texto reproduzido abaixo.

Valeu, 2014.

Bem-vindo, 2015!

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A tal da felicidade

Três por quatro da alma, a música retrata uma angústia candente, a busca da felicidade. Desbravar o labirinto que desembocaria nesse sentimento supremo às vezes parece impossível. Quando se descobre a saída, logo o destino teima em escapulir por novos caminhos.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim”, compôs Vinicius de Moraes, com Tom Jobim. Chico Buarque, em parceria com Francis Hime, polvilhou ceticismo: “Jura que a felicidade/ É mais que uma vontade/ É mais que uma quimera”. Roberto e Erasmo sugeriram, sem convicção: “Não fique triste, o mundo é bom, a felicidade até existe”.

Existe, mas pressupõe perigo, alertou a letra de Nando Reis em melodia de Samuel Rosa: “Ela não passa de um desejo inflamável”. Não é à toa que Belchior traduziu uma sacada de John Lennon, “a felicidade é uma arma quente”.

Tão quente que quem a encontra já cogita perdê-la, feito Renato Russo: “A felicidade mora aqui comigo, até segunda ordem”. Antes, Lupicinio Rodrigues padecera: “Felicidade foi-se embora, e a saudade no meu peito ainda mora”. Como Noel Rosa, em tabelinha com Renê Bittencourt: “Eu fico triste/ Quando vejo alguém contente/ Tenho inveja dessa gente/ Que não sabe o que é sofrer”.

A felicidade não constitui fetiche menor para quem julga ter decifrado seu DNA. “A felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”, poetou Ronaldo Bastos, com acordes de Beto Guedes. Gonzaguinha alardeou, na versão contagiante das Frenéticas: “A tal da felicidade baterá em cada porta”.

O problema é que, se tudo é simples assim, muita gente se tinge de culpa quando não se sente feliz. A obsessão pela felicidade a transforma em miragem. Em vez de desfrutar do contentamento, nós nos atormentamos por ele não ser permanente.

Como se livrar da aflição? Recorrendo ao próprio cancioneiro nacional. Inspirado por uma noite de amor, Odair José pontificou: “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.

Trocando em miúdos, seremos mais felizes se não nos enfeitiçarmos pela ideia da felicidade utópica, e sim por experiências felizes, muitas e muitas, mesmo fugazes, sem cansar, mas sem a ilusão da eternidade.

Odair já foi menosprezado como artista “brega”. No balanço sincero da história, eu o cultivo como um gigante do pensamento, do porte de um filósofo alemão, de um existencialista francês.

(Mário Magalhães, “Azul Magazine”, julho de 2013)


Com o quilo da romã a quase R$ 24, oração do Dia de Reis é pra quem pode
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Mário Magalhães

blog - romã zona sul

 

Uma senhora que há décadas não falha na oração do Dia de Reis tomou um susto hoje na loja de Botafogo do supermercado Zona Sul: o quilo da romã, fruta usada na celebração de 6 de janeiro, está pela hora da morte, R$ 23,99.

Tudo bem que a romã é importada. O problema é que inexiste opção nacional, informaram no supermercado.

Curioso que a oração do Dia de Reis pede também dinheiro para o ano que se inicia.

Se um bom 2015 depender de disposição e condição para pagar a garfada da romã do Zona Sul, pouca gente chegará lá.

A senhora acabou não comprando. Buscará uma romã mais cristã.

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Cai um emblema da alma carioca: Matte Leão de garrafa parece xarope
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Mário Magalhães

Primeiro, parecia esquisito.

Depois, já não parecia: era mesmo esquisito.

Em nome de meio século de, mais que fidelidade, devoção, forcei a barra e me curvei por um tempo.

Agora, mesmo no verão com sensação de temperatura de mais de 50 graus, não bebo se for em garrafa, tanto as pequenas quanto as grandes.

E olha que calor e Matte Leão foram feitos um para o outro.

O problema é que o sabor do Leão de garrafa não parece, não é e está longe de ser o que conquistou gerações.

Não falo nem daquele, o melhor, dos galões abertos com torneirinha na praia _os vendedores de mate são tão tradicionais que viraram Patrimônio Cultural e Imaterial aqui do Rio.

Mas do mate do copinho, mais concentrado e escuro, portanto mais saboroso.

O da garrafa parece um melado, de tão açucarado. Uma calda, em vez de mate.

A cor bem clarinha combina com a ausência de gosto. Quando misturado com gelo, fica ainda mais insípido.

Li na internet que a subversão de mau gosto se deveria à retirada de conservantes da fórmula.

Se o problema é esse (será?), que volte o conservante.

Ao mudar o gosto, para muito pior, o Matte Leão avacalha com um ícone carioca.

Se não recuarem no mate da garrafa, é porque estão se lixando para o monte de gente que tem reclamado.

Como eu não passo sem Matte Leão, vivo a procurar o de copo.

Só falta este também se transformar no xarope enjoativo que tentam nos empurrar nas garrafas.

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Seleção de micos do ano ficou devendo: faltou o novo ministério de Dilma
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Mário Magalhães

blog - micos do ano uo

 

Quando o UOL gravou os pitacos do Josias de Souza, do Fernando Rodrigues e meus sobre os micos políticos do ano, um tempinho atrás, não havia como supor _desconfiar, talvez os mais céticos desconfiassem_ que um tordilho viesse a correr por fora, para brigar pela ponta até o disco final.

A seleção dos três blogueiros pode ser assistida clicando aqui. Continua valendo, os micos apontados são tremendos.

Mas o tordilho atropelou, e, se perdeu, foi por focinho: o ministério anunciado para o governo Dilma Reloaded é outro baita mico.

Mico para a presidente e para quem confiou em seu discurso de campanha reeleitoral.

A petista rasgou nas tintas ao pintar _com razão_ a contradição entre política econômica de agrado dos banqueiros e política social voltada de fato para os pobres. Pois chamou um diretor do Bradesco para tocar o arrocho. Joaquim Levy, entusiasta de privatizações, votou em Aécio Neves.

Por falar em privatizações, a Dilma dos palanques voltou a fustigá-las. Agora, anuncia que tentará abrir o capital da Caixa.

A presidente soltou os cachorros nos anos FHC. E quem convocou para a Secretaria de Aviação Civil? Eliseu Padilha, ex-ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso.

“Governo novo, ideias novas”, ecoava a propaganda. O iminente ministro das Cidades? Gilberto Kassab, aquele mesmo, manjado prefeito de São Paulo.

Lembram-se dos encontros, exibidos na TV, de Dilma com líderes dos movimentos sociais? A ministra da Agricultura será Kátia Abreu, inimiga figadal dos sem-terra e dos ambientalistas.

Outra promessa, rebatendo acusações de no mínimo negligência na gestão da Petrobras, foi combater a corrupção como um zagueiro-zagueiro gruda no cangote do centroavante. Será por isso que o Ministério da Pesca vai para Helder Barbalho, filho de… Jader Barbalho? Pretendem pescar o quê?

E o compromisso com a eficiência? Deve-se a ele a nomeação de George Hilton para o Esporte? Até hoje, o representante da Igreja Universal esteve longe dos assuntos dos quais passará a cuidar, especialmente da Olimpíada de 2016 no Rio.

Por falar em Rio, a maioria dos eleitores fluminenses sufragou a reeleição. Ministro do Estado? Talvez, se houver algum, só em pasta de pouco peso. A gratidão também pode micar.

É claro que haverá cidadãos e cidadãs decentes  no novo governo.

Mas o ministério é um mico, safra 7 a 1.

Faz de bobo quem achou que o discurso de campanha era para valer.

Dilma Rousseff gastou o verbo à esquerda para ganhar. Para governar, toca o relho pela direita.

E Lula falou que o segundo governo da correligionária seria melhor que o primeiro.

Pode até vir a ser, mas começa mal.

P.S. 1: a eleição é do mico, mas a metáfora é turfística. O nonsense se deve à paixão do blogueiro por corridas de cavalos.

P.S. 2: por que um tordilho? Não há mensagem subliminar. É que sempre joguei em cavalo que eu pudesse distinguir à distância, o claro entre a maioria de mais escuros.


Noite feliz?
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Mário Magalhães

À uma hora e quinze minutos da madrugada de 25 de dezembro, um homem dorme ao relento, na rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana:

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blog - natal morador de rua copacabana


Por Mario Cesar Carvalho: ‘Veja mais faroeste, Dilma’
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Mário Magalhães

Por Mario Cesar Carvalho, na “Folha”:

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Veja mais faroeste, Dilma

Ao receber o diploma de presidente do Brasil na última quinta (18), Dilma Rousseff parecia que continuava em campanha. Enquanto as ações da Petrobras se liquefaziam após a revelação de que a presidente da estatal, Graça Foster, fora alertada dos desvios e não fez nada, Dilma propôs um “pacto nacional contra a corrupção”, disse que iria renovar a Petrobras e defendeu a estatal de maneira emocional.

Se a presidente Dilma quer combater a corrupção, foi um péssimo começo. Medidas genéricas, como o tal pacto e apelos emocionais, são instrumentos inócuos para atacar a cultura do suborno.

Dilma deveria ver mais faroestes se o governo e a Petrobras querem pegar corruptos e corruptores, sejam eles de empresas públicas ou privadas. A palavra mágica que funciona de 1800 até hoje é recompensa. Países como EUA, Reino Unido, África do Sul, Coreia do Sul, Austrália e até a Jamaica recompensam os que informam a ocorrência de fraudes e o pagamento de suborno.

O programa funciona de maneira simples: quem denunciar um desvio de R$ 10 milhões ganha R$ 1 milhão, num exemplo hipotético. É um ótimo negócio: no final das contas, a empresa economizou R$ 9 milhões. Por que não começar um programa desse tipo na Petrobras?

Parte das provas do pagamento de propina a fiscais em São Paulo pela Brookfield, que administra shoppings, foi entregue por um ex-diretora financeira, que pode receber até US$ 1 milhão de recompensa.

O prêmio será pago pela SEC, o xerife do mercado de capitais nos EUA. Por que a CVM, órgão que deveria exercer a mesma função no Brasil, não recompensa quem denuncia os fraudadores?

Para ler a íntegra, basta clicar aqui.


‘Não passei’, por Karina Kuschnir
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Mário Magalhães

blog - karina não passei

 

O desenho acima e as bem traçadas linhas abaixo são de autoria da cronista, antropóloga, professora, jornalista e artista plástica Karina Kuschnir.

Estão no blog da Karina (aqui), que reúne “desenhos, textos, coisas”.

São uma sacada inspirada, neste tempo de gatos mestres e de tanta gente vestida com roupa de mocinho.

Eu também cansei de não passar.

Volta e meia, não passo de novo.

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Não passei
Por Karina Kuschnir
Não passei no vestibular de desenho (duas vezes).
Não passei na prova de estágio da editora Abril.

Não passei na prova de inglês do mestrado.

Não passei na primeira seleção de Prodoc do Museu Nacional.

Não passei no concurso do Departamento de Comunicação da PUC.

Não passei em seleções do CNPq e da Faperj (várias).

Quis registrar esses momentos porque às vezes fico sem palavras quando um amigo ou amiga queridos me dizem: “não passei”.

Para quem faz parte do meio acadêmico, nessa época do ano, o facebook fica cheio de comemorações: “passei no mestrado!”, “passei no doutorado!”, e até “passei na residência” (viva, prima!). E os posts ficam cheios de likes e comentários: é tão fácil e gostoso dar os parabéns!

Mas o que dizer diante dos não-postados: “não passei”, “não foi dessa vez”?

No documentário Vocação do Poder, os diretores Eduardo Escorel e José Joffily acompanham seis candidatos a vereador no Rio num ano eleitoral. Uma das cenas que mais me emociona no filme é quando um candidato começa a verificar os resultados das urnas e descobre que não obteve os votos que esperava. Sem querer acreditar, ele olha uma, duas, três, dez vezes, os boletins impressos das urnas. Passa e repassa aqueles papeis, como se pudesse acontecer um milagre: se ele olhar de novo, só mais uma vez, talvez aqueles números mudem… Mas não; ele não passou também.

Isso de achar ou não achar nosso nome numa lista é forte. Exige uma humildade, a menos que a lista seja uma fraude, o que também acontece sim.

Mesmo com lágrimas e choro, é um pouco mais fácil quando você é pessimista (como eu) e já acha que não vai chegar lá (escrevi sobre isso nesse post). Sempre tenho um plano B. Em algumas dessas situações, foi aquele clichê: “não passar” foi mesmo a melhor coisa que me aconteceu! Certas vezes, a única saída foi me resignar. Em outras, tentei de novo e consegui.

Acho que o desafio é escapar de viver em função de uma definição externa de nós mesmos; e seguir em frente, mesmo quando não temos o “aval do mundo” (aplausos, likes, prêmios, nome no topo da lista).

Taí uma boa meta para 2015!

E um abraço apertado para os meus querid@s que não passaram (e também para os que passaram). Como se diz por aí: tamo junto!

Sobre o desenho: Desenhei essa pontezinha desativada no Jardim Botânico em outubro para um desafio (entre amigas) sobre reflexos. Hoje me lembrei que a frase na plaquinha (“Favor não ultrapasse”) encaixava bem no tema do post. O desenho foi feito no local, num moleskine de aquarela, com canetinha preta de naquim. Aquarela e lápis de cor acrescentados em casa.


Presente de Natal: um tremendo livro na praça
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Mário Magalhães

blog - o oitavo selo

 

Não é preciso chegar ao fim de “O oitavo selo”, e foi impossível parar antes do ponto final, para perceber que se disseminou uma impressão enganosa, quase pegadinha, sobre o maravilhoso livro de “Heloisa Seixas”: o protagonista seria o herói do “quase romance”, Ruy Castro, ludibriando a morte como o toureiro a bailar com sua capa colorida, cara a cara com o bicho em fúria.

É mesmo espetacular a bravura do jornalista, cronista, biógrafo, romancista, homem de ideias, gente boa, marido da autora e sobretudo torcedor do Flamengo: a magra fustiga de frente, pela retaguarda e pelos flancos, e o Ruy a finta com a leveza de Júlio César-Uri Geller e a bravura de Rondinelli-Deus da Raça.

As tiradas engraçadas do toureiro, diante dos ataques furibundos de tumores aqui e acolá, enfarte, dependência de drogas, alcoolismo, vírus no cérebro,  confortam com riso. Sua altivez, até quando o touro parece pronto para guampeá-lo sem apelação, comovem nas passagens mais dolorosas.

O cabra é mesmo valente.

Mas quem mais emociona na reconstituição e imaginação das jornadas de luta é a autora, que esteve com Ruy em muitas das batalhas travadas e vencidas. Sua devoção ao companheiro a torna o verdadeiro protagonista, generoso e corajoso, do livro.

Heloísa não conta o que tem lastro nos fatos _Ruy foi mesmo vítima da coleção de doenças e oportunismos descritos_ e o que foi inventado.

Não muda em nada, talvez valorize, o feito artístico: tantas e tantas vezes matéria-prima de primeira _a realidade que supera a ficção_ se transformou num quase nada literário ao virar narrativa.

“O oitavo selo”, livro de título bergmaniano editado com esmero pela Cosac Naify, é um tremendo presente de Natal.

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