Nos 45 anos da morte de Marighella, a iconografia esquecida da guerrilha
Mário Magalhães
A pesquisa acadêmica e jornalística sobre a luta armada contra a ditadura implantada em abril de 1964 desenvolveu-se expressivamente nos anos recentes. Com historiadores e repórteres cavucando velhos arquivos, empoeirados ou não, têm sido encontrados documentos, testemunhos e imagens de mais de quatro décadas atrás.
A ilustração acima foi apreendida em São Paulo por agentes do aparato repressivo, em 1972, num aparelho (local secreto de moradia) de militantes da Ação Libertadora Nacional, maior grupo guerrilheiro de combate à ditadura.
A ALN havia sido fundada e comandada pelo ex-deputado Carlos Marighella e o jornalista Joaquim Câmara Ferreira. Na próxima terça-feira, 4 de novembro, o assassinato de Marighella por policiais do Dops completará 45 anos. Câmara foi morto na tortura em outubro de 1970.
O desenho de Tiradentes, encimado pela sigla ALN e com a palavra ''inconfidentes'' abaixo tinha o propósito de mostrar que os guerrilheiros consideravam sua batalha continuidade histórica do movimento de Tiradentes contra o jugo português, no século 18.
A ilustração estava no aparelho de Iuri Xavier Pereira, que foi executado em junho de 1972. Entre outras atribuições, Iuri era o responsável pela imprensa da organização. Para as dramáticas condições de clandestinidade da ALN, é incrível que tenham sido editados jornais como ''Ação'', ''O guerrilheiro'' e ''Venceremos'', mesmo depois das mortes de Marighella e Câmara Ferreira.
É muito provável que o Tiradentes se destinasse a alguma publicação, mas não se sabe se Iuri teve tempo para isso. Ganhei a imagem de sua irmã, Iara Xavier Pereira, que a copiou de um processo judicial.
Como o desenho não consta da iconografia mais conhecida da ALN, exibo-o aqui, como relíquia histórica, admire-se ou reprove-se a luta armada e os guerrilheiros que deram sua vida enfrentando a ditadura.