Blog do Mario Magalhaes

Gilberto Carvalho: ‘Fui chamado de ladrão, fui pra cima, falei um palavrão’

Mário Magalhães

''Eu fui chamado de ladrão, esses dias, por um cidadão, sem mais nem menos, na porta de um supermercado. Fui pra cima dele, falei um palavrão, não vou levar esse desafio [sic] para casa, porque eu tenho 63 anos, estou comprando agora meu primeiro apartamento financiado em 19 anos do Banco do Brasil, e a maioria da nossa gente é assim. Há gente que errou entre nós? Há. Mas não se pode comparar a nossa postura com a postura tradicional dos outros partidos. Nós somos gente séria, e aqueles que erram no nosso meio são punidos, como estão sendo e vão ter que ser. E nós, mais do que ninguém, temos interesse em fazer esse processo de depuração.''

Foi assim, numa entrevista-desabafo que nenhum historiador honesto poderá ignorar ao reconstituir e interpretar estes tempos efervescentes, que o ministro Gilberto Carvalho se pronunciou no domingo à noite. Gostem ou não do entrevistado, concordem ou divirjam de suas opiniões.

Na transmissão ao vivo da TV UOL, respondendo a perguntas de Josias de Souza, Leonardo Sakamoto e eu, o secretário-geral da Presidência também se pronunciou sobre jornalismo, meios de comunicação, movimentos populares e outros assuntos.

Para assistir à entrevista, basta clicar aqui. O trecho sobre o episódio em que o ministro foi chamado de ladrão pode ser visto clicando na imagem do alto ou neste link.

Abaixo, reproduzo reportagem do UOL, com mais informações.

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'Tratamento desmedido' contra o PT na imprensa incita o ódio, diz ministro

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, criticou o tratamento dado ao PT, especialmente durante a campanha eleitoral, por alguns veículos de imprensa do país.

Durante transmissão ao vivo sobre os resultados alcançados por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) neste domingo (26), o ministro afirmou que ''o excesso de editorialização da imprensa'' é um indicativo da ''conspiração contra a liberdade de imprensa''. Carvalho disse ainda que foi chamado de ''ladrão'' e que ''foi pra cima'' de seu acusador; e que ''não dá para aceitar ser considerado como aqueles que inventaram a corrupção no Brasil''.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O senhor acha que o discurso do partido foi ajustado como o senhor desejava, e esse discurso que a presidente fez hoje [ontem] sinaliza o que o senhor desejava, ou ainda há muito que avançar?

Há muito o que avançar ainda, de fato houve um amadurecimento porque a campanha eleitoral nos permitiu duas coisas fundamentais. A primeira delas, retomar o diálogo com as pessoas, nós fizemos mais de 260 reuniões plenárias pelo país afora, com 300, 400, 500 militantes. Eles foram decisivos, a meu juízo. Os movimentos sociais disseram para nós: ''nós temos críticas profundas a vocês, mas sabemos que o outro projeto é pernicioso, vai ser muito pior''. Então, eles foram para as cidades trabalhar pela nossa campanha. Houve uma possibilidade de retomar esse diálogo franco, onde nós fazíamos a autocrítica da nossa falta de diálogo, do nosso distanciamento, seja do partido, seja do governo, em relação a nossas bases. O segundo fator é o da informação. Eu tenho convicção de que nós temos um problema na comunicação desse país. Eu não quero dizer que a imprensa é a única culpada porque nós somos muito incompetentes também nessa comunicação. Mas, haveremos de convir, há muita sonegação daquilo que ocorre de fato nesse país por parte da imprensa. O excesso de editorialização da imprensa, a meu juízo, capitaneado nesse episódio vergonhoso final da revista Veja é a ponta avançada a mim da principal conspiração contra a verdadeira liberdade de imprensa.

Eu acho que o fato de nós podermos ter transpassado esse obstáculo e termos o tempo de televisão para mostrar para o país aquilo que de fato nós pudemos realizar nesses anos foi, a meu juízo, também fundamental para podermos ter vencido essa duríssima batalha, onde desconstrução muito pior do que dizem que foi feita em relação a Marina e ao Aécio foi contra nós. Porque a gente ser chamado de ladrão o tempo todo a partir desse tipo de colunismo dói muito, foi muito difícil, mas o povo entendeu e o povo sabe qual é a nossa intenção, qual é a nossa prática.

O segundo governo da presidente Dilma Rousseff vai ter uma política diferente em relação aos meios de comunicação ou vai manter o mesmo discurso crítico permanente e a mesma política?

Eu faço uma autocrítica nossa, dos nossos erros, e atribuo à questão da comunicação parte também dos problemas que nós enfrentamos.  Ninguém mais do que nós vai defender permanentemente a liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa é sagrada, e nesses 12 anos não houve um único gesto do nosso governo efetivo que contrariasse a liberdade de imprensa. Ninguém foi tão enxovalhado como nós fomos ao longo desses anos, e agora esse final de campanha, esse episódio que eu mencionei, lamentável, só mostra um pouco disso. Não vai haver nenhuma tentativa da presidente Dilma de tolher a liberdade de imprensa, de maneira alguma.

O que nós queremos é sentar com vocês, com gente séria da imprensa, para a gente fazer uma análise de como é que o Brasil está sendo passado para as pessoas, de como a realidade é traduzida efetivamente. A meu juízo, o excesso de editorialização, de adjetivação e o colunismo que acabou ganhando um peso enorme na imprensa brasileira têm feito, na minha opinião, um estímulo a esse ódio que nós vimos nos últimos tempos.

Felizmente não é [sic] todos, eu até destaco aqui particularmente a Folha, que eu acho que é um periódico dos mais equilibrados, mas infelizmente há jornais que se transformaram em panfletos nessa campanha. É isso que nós não vamos deixar de criticar. Acho que, em prol da própria liberdade de imprensa, da sua respeitabilidade, e para que a gente não ouça coros como esse que nós ouvimos aqui é que nós temos que trabalhar na sociedade brasileira numa espécie de repactuação, para que a gente possa ter uma imprensa sempre livre, cada vez mais livre, mas, ao mesmo tempo, que haja um equilíbrio entre a crítica adequada e aquilo que estimula o ódio, como, eu insisto, aconteceu nos últimos tempos, particularmente nessa campanha.

O senhor não reconhece que há matéria-prima para que o governo seja, para usar a sua palavra, enxovalhado? O governo não se deixou enxovalhar ao permitir que ocorresse o que está ocorrendo na Petrobras? Os fatos não conspiram contra o governo?

Ninguém mais do que nós tem feito autocrítica. Nós temos reconhecido que, infelizmente, o nosso partido acabou se assemelhando a outros partidos, a corrupção infelizmente entrou dentro de nós, é verdade. O que não dá para aceitar é a gente ser considerado como aqueles que inventaram a corrupção no Brasil, é absolutamente desmedida a maneira como nós fomos tratados nesse tempo, é como se a corrupção tivesse sido inventada por nós. Quando, na verdade, o que nós fizemos, embora tendo caído em erros, é verdade isso, eu não tenho como negar, não tenho por que negar, mas é como se o passado todo fosse um passado limpo nesse país e nós é que trouxemos para a cena da política a corrupção, quando na verdade, o que nós fizemos, foi ter a coragem de fazer a investigação e cortar na própria carne.

Eu fui chamado de ladrão, esses dias, por um cidadão, sem mais nem menos, na porta de um supermercado. Fui pra cima dele, falei um palavrão, não vou levar esse desafio [sic] para casa, porque eu tenho 63 anos, estou comprando agora meu primeiro apartamento financiado em 19 anos do Banco do Brasil, e a maioria da nossa gente é assim. Há gente que errou entre nós? Há. Mas não se pode comparar a nossa postura com a postura tradicional dos outros partidos. Nós somos gente séria, e aqueles que erram no nosso meio são punidos, como estão sendo e vão ter que ser. E nós, mais do que ninguém, temos interesse em fazer esse processo de depuração.