Blog do Mario Magalhaes

Réus em processo por tortura chamam Tuma Jr. como testemunha de defesa

Mário Magalhães

No começo da tarde de hoje (30.set), em São Paulo, antigos torturadores transformados em réus esperam contar com uma relevante testemunha de defesa, o delegado de polícia aposentado Romeu Tuma Jr., arrolada em processo por sequestro de um desaparecido político.

O delegado é filho do célebre policial Romeu Tuma, já falecido, que comandou o Dops paulista durante a ditadura instaurada em 1964.

O processo judicial em curso trata do sequestro do marinheiro Edgar Aquino Duarte. Preso e assassinado por agentes da repressão política no princípio dos anos 1970, até hoje seu corpo não foi devolvido à família.

Os réus são Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército, e os policiais Carlinhos Metralha e Alcides Singillo.

As informações são da jornalista Thaís Barreto (aqui).

Abaixo, reproduzo a notícia publicada por ela.

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Romeu Tuma Jr. será testemunha de defesa dos réus torturadores

Justiça Federal vai ouvir novamente testemunhas dos réus apontados como principais responsáveis pelo desaparecimento de Edgar Aquino Duarte

Por Thaís Barreto

Romeu Tuma Jr está entre as testemunhas defesa dos réus torturadores Carlos Alberto Brilhante Ustra; Alcides Singillo e Carlos Alberto Augusto (Carlinhos Metralha). Ele será ouvido na sessão que acontecerá nesta terça-feira 30/9, a partir das 14h, na 9ª Vara da Justiça Federal. A oitiva acontecerá dando continuidade à Ação Penal n.º 0011580-69.2012.403.6181, instruída pelo Ministério Público Federal, onde os réus foram apontados como autores do sequestro qualificado do marinheiro pernambucano Edgar de Aquino Duarte, que está desaparecido desde junho de 1973. A audiência será presidida pela juíza federal Adriana Delboni Taricco que vai ouvir também José Sanches Severo, outro convidado pela defesa.

Durante a segunda sessão, que ocorreu nos dias 27 de março, 1º e 2 de abril, o réu Carlos Alberto Augusto apontou como testemunha o advogado de presos políticos José Carlos Dias. Não se sabe o motivo da indicação, mas o fato é que José Carlos Dias disse diante da juíza federal Adriana Delboni Taricco que nem sequer conhecia Carlinhos Metralha e testemunhou em juízo que Ustra era comandante do DOI-Codi de São Paulo no período marcado por ampla violência, sequestro, torturas e mortes e que um cliente seu, a quem tentou visitar no DOPS-SP, foi torturado por Alcides Singilo. “Singilo me impediu de entrar na sala”, contou José Carlos.

No caso do réu Ustra, as testemunhas poderão ser ouvidas através de videoconferência pois não residem na capital paulista. O réu Alcides Singillo não compareceu nas últimas oitivas e sua defesa alegou para a juíza que ele estava internado na UTI. Por essa razão, pediram que as testemunhas arroladas fossem ouvidas novamente.

Edgar Aquino Duarte teve sua carreira de marinheiro interrompida em 1964 por participar da revolta dos marinheiros, ocorrida no calor do golpe. Ele foi expulso da corporação, teve que se exilar – primeiro no México e, depois, em Cuba. Voltou ao Brasil em 1968, adotou outro nome e a função de corretor na Bolsa de Valores de São Paulo. Ao reencontrar Anselmo dos Santos (cabo Anselmo), conhecido agente infiltrado, voltou a ser perseguido. Entre 1971 e 1973, foi sequestrado e permaneceu sob o domínio dos órgãos de segurança. Edgar passou pelo DOI-Codi e foi visto pela última no Dops-SP em junho de 1973. As informações das testemunhas de acusação foram colhidas nos dias 9 e 10 de dezembro de 2013.