Candidatos a deputado federal são mais brancos, ricos e escolarizados
Mário Magalhães
Os candidatos a deputado federal são mais brancos, têm maior escolaridade e possuem maior patrimônio do que a média dos brasileiros.
É o que demonstra estudo inédito do Laeser a ser publicado nesta semana no boletim mensal ''Tempo em Curso''. O Laeser é o Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais.
A desigualdade se expressa de vários modos na comparação entre o perfil dos mais de 6.000 postulantes à Câmara e o conjunto da população.
Os candidatos de cor ou raça branca são 59,1%, muito acima dos 46% de brancos declarados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2013.
Embora as mulheres sejam maioria do eleitorado _52%, conforme o Tribunal Superior Eleitoral_, os homens representam 70,1% dos concorrentes a deputado federal. O abismo poderia ser maior, se a legislação não reservasse 30% das vagas da eleição proporcional às mulheres.
A escolaridade da elite que pretende permanecer ou chegar à Câmara também está muito além da dos brasileiros: 61,5% têm nível superior (67,6% entre os brancos), enquanto o índice fica em torno de 15% na população economicamente ativa.
''Essas informações sugerem que, de fato, o acesso ao poder político no Brasil é mais provável aos com escolaridade superior, brancos e do sexo masculino'', disse ao blog o economista Marcelo Paixão, coordenador do Laeser e professor do Instituto de Economia da UFRJ.
O patrimônio médio registrado pelos candidatos é de R$ 668 mil. ''Mesmo que este tipo de informação encontre alguma dificuldade para ser comparado a alguma outra fonte disponível, não há motivos para duvidar que tal montante é razoavelmente superior à média das famílias brasileiras''.
O predomínio de candidatos brancos não é uniforme entre os partidos, constatou a pesquisa coordenada por Paixão.
Eis a média de brancos, entre as siglas mais expressivas:
PMDB: 77%
PTB: 74,5%
PSD: 73,9%
PP: 72,6%
PSDB: 72,0%
PSB: 61,5%
PT: 61,5%
PDT: 51,9%
PSOL: 41,6%
Ou seja, só o PSOL não tem uma chapa mais branca do que a média nacional.
O patrimônio dos candidatos, muito provavelmente maior que o dos cidadãos, também tem assimetrias entre os próprios concorrentes.
O dos candidatos brancos é em média 360% superior ao dos ''pretos'' (esta é a denominação oficial).
E mais da metade das candidatas do sexo feminino declarou patrimônio igual a zero.
''Os candidatos com maior poder de alavancagem de recursos financeiros possuem potencialmente maiores chances de uma boa performance eleitoral'', afirma Marcelo Paixão. ''Ou seja, há razoáveis motivos para suposição de que o perfil masculino, branco e de escolaridade superior à média da população como um todo seguirá formando o perfil primordial da futura casa legislativa no Brasil''.
Não é novidade, como explica o economista: ''As diferentes probabilidades de eleição dos candidatos dos diferentes grupos de cor ou raça (e aqui jamais deixando-se de atentar para a discriminação agravada por gênero) também não podem ser dissociadas do próprio modelo brasileiro de relações raciais. Conforme já abordado em diferentes estudos consagrados sobre as dinâmicas da sociedade brasileira, tal padrão atua igualmente por critérios de preterição dos pretos e dos pardos às posições sociais mais prestigiadas, mais bem remuneradas ou de maior acesso aos mecanismos decisórios. Há razoáveis motivos para se incluir as discriminações não econômicas, ainda infelizmente fortes na sociedade brasileira, como um dos fatores que inibem uma maior presença de afrodescendentes e de mulheres (especialmente as deste último grupo) no parlamento brasileiro''.
Alguém aí falou em democracia com ''d'' maiúsculo?