O mantra de Dunga e as campanhas de Dilma, Marina e Aécio
Mário Magalhães
Não sei quando o Dunga começou a pronunciar o que, de tanto ele repetir, mais parecia um mantra: ''Os vitoriosos comemoram; os perdedores se justificam''.
Lembro-me de o então jogador martelando o dito pensamento lá pela primeira metade da década de 1990, pouco antes ou pouco depois do triunfo do tetra em que ele brilhou como capitão da equipe.
Não sei se o atual técnico da seleção leu o mantra em algum livro de auto-ajuda, se ouviu em palestra de guru motivacional ou se pontificou da própria cabeça. Sei que ele não se cansava de dizer, com ares de quem compartilha sabedoria: ''Os vitoriosos comemoram; os perdedores se justificam''.
Nunca me identifiquei com o ensinamento digamos dunguiano, pois ele sugere legitimidade e autoridade aos vitoriosos que muitas vezes, a história comprova, têm muito a se justificar.
Porém, na prática, a tirada tem seu lastro de verdade. No futebol, o comum é ver o time vitorioso comemorar, e o derrotado, chutar explicações.
Numa campanha eleitoral, quem tem de estar sempre se justificando é porque está perdendo. Ou ao menos sendo alvejado e ameaçado de perder alguma coisa, de modo que se sente obrigado a reagir.
Quando Dilma Rousseff precisa responder sobre a roubalheira na Petrobras, ela está perdendo. Ninguém chama a presidente de ladra, mas a cobram por não ter tomado decisões que evitariam ou diminuiriam a corrupção. Ela se explica porque está perdendo com as críticas.
O mesmo raciocínio se aplica a Marina Silva. A ex-ministra se justifica sobre o pré-sal porque está perdendo com as acusações de que imporia um freio à exploração de petróleo. O que ela fala sobre o pré-sal não escreveu no programa, mas deixa pra lá. A candidata se justifica porque está perdendo.
Até semanas atrás, Aécio Neves também tinha que se justificar, sobre o mensalão tucano, que historicamente antecede o petista. Agora, contudo, o senador se assemelha ao boxeur que não teme baixar a guarda, só pensando em atacar. O motivo é claro: ninguém lhe pede explicações, pois ele é considerado fora da disputa _o diagnóstico soa precipitado.
Moral da história: sempre que um candidato tem que se justificar, é ruim para ele. O vitorioso foi outro, que o levou a falar sobre assuntos que provocam desconforto.