Vitamina P, o revigorante do velho Tancredo, parece faltar ao neto Aécio
Mário Magalhães
Consegui enfim, dias atrás, graças ao canal Curta!, assistir ao filme ''Tancredo, a travessia''. A certa altura do ótimo documentário de Silvio Tendler, o repórter Ricardo Kotscho contou uma passagem saborosa, com a verve que lhe é peculiar.
No bye, bye, Brasil da campanha a presidente, que seria escolhido pelo famigerado colégio eleitoral, Kotscho teve a sorte de encontrar Tancredo sozinho em um saguão de hotel. Vivia-se o final de 1984, princípio de 1985. O jornalista tinha 36 anos, e o veterano político, 74, ambos piscianos, safra de março.
Pois o meu colega estava no bagaço, como é comum em maratonas como coberturas de campanha eleitoral e Copa do Mundo. E Tancredo aparentava uma saúde de astronauta que o trairia meses mais tarde.
Ao Silvio Tendler, o Kotscho contou que indagou ao Tancredo como ele exibia aquela disposição toda.
Seu segredo era a ''vitamina P'', respondeu o antigo ministro, primeiro-ministro e governador.
Como o interlocutor não entendeu, Tancredo explicou:
''P, de poder''.
Noutras palavras, ele se revigorava com o gosto pelo poder da influência política que detinha e com a perspectiva de mais poder ainda, se chegasse ao Planalto.
Posso estar errado, salvo engano nunca cruzei com Aécio Neves, mas à distância minha impressão é de que lhe falta a vitamina P que corria em excesso nas veias do seu avô Tancredo.
Não que Aécio recuse o poder ou que o poder não lhe proporcione satisfação. As eleições de que participou, os cargos importantes que ocupou e a ambição de se tornar presidente da República evidenciam o oposto.
Porém, ao contrário do que ocorria, para ficar num exemplo, com Eduardo Campos, a batalha eleitoral não aparenta comover tanto o neto de Tancredo.
No debate da Band, duas expressões faciais sobressaíram: a de Dilma Rousseff, que não ri, e a de Aécio, cujo sorriso é permanente. Os dois pareceram autênticos, sem forçar caras e bocas.
Dos 11 candidatos à Presidência, nenhum é publicamente tão simpático quanto Aécio.
Aécio já não tem muitos motivos para conservar o sorriso, ameaçado que está de não ir nem para o segundo turno. Mas duvido que, além da tristeza e da frustração inescapáveis, isso lhe cause maiores dramas.
Ele não é melhor nem pior do que o avô, só diferente. Sua vitamina P talvez seja mais do prazer de viver, e não a do regozijo com o poder.