Pintar cabelo vira condição para disputar Planalto; FHC e Lula não têm vez
Mário Magalhães
A norma estética não escrita une candidatos mais jovens e mais velhos; de esquerda, direita e muito pelo contrário; mulheres e homens; adeptos do preto e do acaju; 100% tintura ou perdão a um grisalho para disfarçar a intervenção química.
Os 11 postulantes à Presidência em 2014 parecem rejeitar cabelos embranquecidos, como se eles indicassem prazo de validade vencido e ausência de energia jovial para conduzir o Brasil.
Com todo respeito aos rapazes, acho que só fica bem nas moças, embora madeixas brancas como as da madame Christine Lagarde, chefona do FMI, também sejam sedutoras. Além de elengantérrimas, Dilma Rousseff e Luciana Genro, com cabelos claros, e Marina Silva, pretos, estavam muito bonitas no debate UOL-Folha-SBT-Jovem Pan da segunda-feira. Dilma com a cabeleira escovada, Marina, presa, e Luciana, encaracolada. Se depender de estilo, estaremos em boas mãos com cada uma delas.
Já os moços…
Levy Fidelix, que quer ''endireitar'' o país, endireitou o cabelo e o bigode, com um pretume outrora associado às asas da graúna.
Já Eduardo Jorge, que entre outras bandeiras defende a descriminalização da maconha, criminalizou os fios brancos e os escureceu. Ao contrário de Levy, não pintou o bigode _nem o cavanhaque, bastante embranquecido.
José Maria Eymael, nascido na década de 1930, segue sem branco na cabeça, onde ostenta um acaju mais luminoso que amarelo de sinal de trânsito. (Aproveitando a oportunidade: por que o senhor aposentou o jingle mais querido das campanhas presidenciais?)
Cristão como Eymael, o Pastor Everaldo também não dispensa pinceladas para esconder a passagem do tempo. Só que ele preserva uma pequena área não devastada pela tinta, pretendendo sem sucesso indicar que só ali a cor natural mudou.
Era ontem o mesmo visual de Aécio Neves, cujo cabelo estava mais preto no debate da Band, na semana passada (não vale dizer que a mudança no visual foi culpa da preocupação com as pesquisas).
José Maria de Almeida aparenta divergir de Aécio só em política, pois no alto seus cabelos que escasseiam estão pretos, em contraste com o branco das laterais.
Rui Costa Pimenta é mais radical: pintou tudo.
Em Mauro Iasi, a barba grisalha à Karl Marx contrasta com o cabelo escuro. (Mas é o único caso em que tenho dúvida sobre se o candidato passou no salão.)
E daí tudo isso?
E daí nada.
Só mostra que, também ou principalmente na política, a imagem pode ser recauchutada. E como as convenções culturais mais conservadoras se impõem.
Cá entre nós, é uma pequena diversão de quem, como eu, desde os 30 e poucos anos ouve brincadeiras sobre nevasca na cabeça.
É curioso que o octogenário Fernando Henrique Cardoso e o sexagenário Luiz Inácio Lula da Silva, cavalheiros bem resolvidos com seus cabelos brancos, seriam barrados da eleição presidencial, a considerar a condição tácita de pintar o cabelo.