Primeiro retrato: Marina é ruim para Dilma e muito pior para Aécio
Mário Magalhães
O retrato da disputa presidencial recém-divulgado pelo Datafolha foi feito em circunstâncias excepcionais, a comoção pela morte de Eduardo Campos (a ilustração acima saiu na ''Folha'' desta segunda-feira). No rol de candidatos apresentados, o do PSB passou a ser Marina Silva, a vice da chapa do neto de Miguel Arraes. Só adivinhos sabem se o levantamento agora recolhe intenções de voto vitaminadas na antiga senadora ou se marca apenas o começo da sua ascensão. Recuso-me a chutar.
Algumas impressões, contudo, são fortes.
Com uma postulante que aparece quatro pontos à frente de Dilma Rousseff no segundo turno, se os próceres do PSB não confirmarem Marina, firmam o atestado de óbito da legenda (a ambientalista ostenta 47% a 43% contra a petista, empate técnico, no limite da margem de erro de 2 pontos).
O resultado do Datafolha sacramenta Marina candidata, com autoridade para impor condições ao partido que hoje a abriga.
Marina castiga tanto a campanha da presidente quanto a do tucano Aécio Neves.
De julho para cá, a aprovação (ótimo/bom) ao governo Dilma subiu de 32% para 38%. Porém, com Marina na corrida, a postulante à reeleição manteve os 36% de intenção de voto.
Aécio prosseguiu com os mesmos 20%.
Em suma, PSB trocou os 8% de Eduardo Campos no mês passado pelos 21% de Marina em agosto possivelmente colhendo simpatia entre quem não pretendia escolher nem o PT nem o PSDB.
O estrago, todavia, não é igual na campanha dois dois antigos líderes das pesquisas. A aprovação ao governo rendeu a Dilma o aumento de quatro para oito pontos (47% a 39%) sobre Aécio em eventual segunda volta entre eles.
Dilma continua com seu lugar no segundo turno, rodada final que antes não era certa, mas que sempre tive como provável.
Já Aécio, e por isso o senador perde muito mais com o novo cenário, é a passagem ao embate derradeiro que passa a estar ameaçada. Para chegar lá, ele terá que confrontar Marina, mesmo sem contundência, o que poderia levá-lo a perder o apoio de eleitores da ex-ministra, no caso de segundo turno PT x PSDB.
As vigorosas manifestações de junho de 2013 exibiram uma babel de vozes. Entre elas, e talvez a mais marcante, os gritos de ''sem partido''. Embora em um partido tradicional, Marina e sua rede tendem a se beneficiar dos ecos do ano passado.
Com Marina no jogo, há repercussões até em pequenos partidos. O Psol tinha um grupo disposto a apoiar a campanha presidencial de Marina pela Rede, agrupamento que não conseguiu se legalizar a tempo de concorrer. Com a adesão a Eduardo Campos, aqueles psolistas desistiram da aliança. E agora, vão abandonar a ex-deputada Luciana Genro, candidata do Psol ao Planalto?