Blog do Mario Magalhaes

Há 50 anos, com ajuda de Sobral Pinto, Marighella se despedia da cadeia

Mário Magalhães

blog - marighella carta a sobral pinto

 

Nesta quinta-feira, 31 de julho, faz aniversário a despedida de Carlos Marighella (1911-1969) da cadeia. Na véspera de 1º de agosto de 1964, ele deixou o cárcere pela última vez, graças a um habeas corpus impetrado por seu advogado, o santo homem Heráclito Sobral Pinto, e concedido pelo juiz Hélio Trindade.

O revolucionário baiano havia sido baleado e preso no dia 9 de maio, pouco mais de um mês depois do golpe de Estado que derrubou o governo constitucional do presidente João Goulart e inaugurou a longa noite de duas décadas de ditadura.

Reconstituí o episódio na abertura da biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo''. Este prólogo, ''Tiro no cinema'', está liberado grátis para leitura no site da Companhia das Letras (basta clicar aqui).

Em períodos mais curtos ou prolongados, Marighella esteve em cana ao menos em parte dos anos de 1932, 1936, 1937, 1939, 1940 1941, 1942, 1943, 1944, 1945 e 1964. No total, 2.691 jornadas de reclusão, perto de sete anos e meio.

Sobral Pinto era visceralmente avesso ao comunismo, pelo qual Marighella se batia. Mas o célebre advogado cultivava o ensinamento de Santo Agostinho: odiar o pecado e amar o pecador. Por isso, e de acordo com seus valores, repudiava o comunismo, mas se empenhava em representar comunistas como Marighella e outros camaradas.

A carta reproduzida acima teve uma cópia encontrada há poucos anos, numa pasta que um antigo correligionário de Marighella entregara a Clara Charf, companheira do guerrilheiro morto por agentes da ditadura em novembro de 1969.

Ao escrevê-la e endereçá-la a Sobral, em fevereiro de 1965, Marighella já vivia clandestino. Numa passagem, indagou quanto devia de honorários. Jamais constou que o homem generoso, gigante da defesa dos perseguidos pela intolerância, tenha cobrado um só tostão do militante que jamais voltou à prisão.

Meio século atrás, Marighella partiu do prédio do Dops do Rio (entrara ali pela primeira vez em 1936, sob sopapos).

Não o pegariam mais com vida.

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