Sai DVD com clássico ‘A batalha de Argel’
Mário Magalhães
Obra-prima do diretor italiano Gillo Pontecorvo (1919-2006), ''A batalha de Argel'' reconstitui os anos incandescentes da guerra pela libertação da Argélia. Conquistou em 1966 o Leão de Ouro do Festival de Veneza, consagrou-se como um clássico do cinema e se tornou, digamos, personagem da história, ao ter a exibição proibida em numerosos países, também no Brasil da ditadura.
O furor cinematográfico que arrebatou plateias de todo o mundo sai agora em DVD, numa edição do Instituto Moreira Salles (a imagem acima é da capa). Nesta quinta-feira, 24 de julho, haverá uma sessão especial de lançamento no Rio, às 20h (mais informações no release do IMS reproduzido abaixo).
Voltei a assistir ao filme, pela enésima vez, poucos anos atrás, durante a apuração da biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras). Como arte, ''A batalha de Argel'' não envelheceu, tantas décadas depois dos acontecimentos que constituem a matéria-prima factual desta obra de ficção com pegada de documentário. Parece tinindo de novo.
Tanto os repressores franceses, tropa de choque dos colonizadores, quanto os argelinos militantes da luta armada, combatentes anticolonialismo, influenciaram brasileiros, sobretudo na segunda metade dos anos 1960 e na primeira dos 1970.
Os guerrilheiros de lá, pró-independência, foram uma das inspirações dos guerrilheiros daqui. E os torturadores daqui, herdeiros do know-how dos castigos da escravidão, aprenderam as lições dos de lá, embora no final da história, em 1962, que o filme não alcança, o triunfo no Norte da África tenha sido dos argelinos, e não dos franceses.
A título de curiosidade, eis uma das muitas menções ao filme na biografia ''Marighella'': ''Em 1968, a Censura Federal vetou e depois liberou 'A chinesa', ficção de Godard em torno de uma célula francesa de maoistas. Interditaram 'A batalha de Argel', de Gillo Pontecorvo, e sobrou para Marighella. O censor Wilson de Queiroz Garcia opinou que a exibição da saga da independência da ex-colônia francesa 'seria o estopim que falta ser aceso para a luta terrorista': 'A título de ilustração para o que dizemos, leia-se 'Algumas questões sobre a guerrilha no Brasil', do comunista Carlos Marighella, publicada no 'Jornal do Brasil' de ontem, domingo, dia 15 de setembro de 1968'''.
Outra: ''Os militares assistiam em sessões privadas nos quartéis a um filme de 1966 que a censura retirara dos cinemas, carimbando-o como subversivo. 'A batalha de Argel' inspirava a luta armada, mas ensinava a sufocá-la — a obra se passa em 1957, a cinco anos da independência da Argélia. Um coronel francês compara os insurgentes às tênias, que se reproduzem pela cabeça: precisam cortar a organização revolucionária por cima. É o que fazem matando o guerrilheiro Ali La Pointe, líder da Frente de Libertação Nacional, cujo paradeiro descobriram torturando um companheiro seu. No Brasil, a lição argelina equivalia a abater Marighella. É o que a turma do Dops começaria a fazer na alameda Campinas''.
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Release do Instituto Moreira Salles:
IMS lança em DVD A batalha de Argel
No dia 24 de julho, às 20h, com uma sessão especial, o Instituto Moreira Salles lançará em DVD o filme A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo. O filme apresenta os eventos decisivos da guerra pela independência da Argélia, marco do processo de libertação das colônias europeias na África. O DVD traz um depoimento filmado de Saadi Yacef, produtor e ator do filme, e o livreto A verdade 24 vezes por segundo, de José Carlos Avellar, coordenador de Cinema do IMS, com uma análise crítica do filme.
O filme foi proibido em diversos países, inclusive no Brasil, ao apresentar as ações dos dois lados do conflito no período de 1954 a 1957, apesar da guerra só ter terminado em 1962. De um lado, estava o exercito francês e suas técnicas de tortura; do outro, a Frente de Libertação Nacional e seus métodos de guerrilha.
O filme se baseia nos relatos de Saadi Yacef, que havia sido preso durante o conflito e condenado à morte. Durante a prisão, ele escreveu um livro de memórias, Souvenirs de la Bataille d’Alger,e, em 1962, após sua libertação, foi para a Itália buscar por um diretor e um roteirista que pudessem compreender e traduzir sua publicação em linguagem cinematográfica. Encontrou Gillo Pontecorvo, realizador do filme Kapò, que se passa em um campo de concentração na Segunda Guerra Mundial, e o roteirista Franco Solinas, de O bandido Giuliano, sobre o herói do movimento separatista da Sicília Salvatore Giuliano.
Entre os muitos prêmios recebidos por A batalha de Argel destacam-se o Leão de Ouro, o da Critica Internacional e o Cidade de Veneza, no Festival de Veneza de 1966; o de melhor diretor, fotografia e produtor, do Sindicato Nacional de Críticos Cinematográficos Italianos, em 1967; o de melhor filme estrangeiro no prêmio Kinema, do Japão, em 1968; e o de melhor filme estrangeiro no Bafta Awards, da Inglaterra, em 1972. O filme de Pontecorvo teve ainda, nos Estados Unidos, duas indicações ao prêmio da Sociedade Nacional de Críticos de Cinema, de melhor filme estrangeiro e melhor diretor, e três indicações ao Oscar, de melhor filme estrangeiro, em 1967, e de melhor diretor e melhor roteiro, em 1969.
Sobre Gillo Pontecorvo
Assistente de direção de Yves Allégret (em Les miracles n'ont lieu qu'une fois, 1951), de Mario Monicelli (em As infiéis/ Le infideli, 1953, e em Totò e Carolina, 1954), e de Francesco Maselli e Cesare Zavattini (em Storia di Caterina, um dos seis episódios de Amore in città, 1953), Gillo Pontecorvo (1919-2006) realizou cinco filmes de ficção no centro de uma filmografia construída principalmente em torno do cinema documentário. Foram seis curtas antes do primeiro longa-metragem: Missione Timiriazev (1953), Porta Portese (1954), Festa a Castelluccio (1954), Uomini del marmo (1955), Cani dietro le sbarre (1955) e Giovanna (1955) – este último, dois anos mais tarde, incluído em A rosa dos ventos (Die Windrose, 1957), produção internacional coordenada por Joris Ivens. Nesse mesmo ano, dirigiu sua primeira ficção: A grande estrada azul (La grande strada azzurra, 1957). Em seguida, realizou mais dois documentários, Pane e zolfo (1959) e Gli uomini del lago (1959), antes da segunda ficção, Kapò (1960). Depois de dois outros documentários, Paras (1963) e La magia (1965), mais três longas-metragens: A batalha de Argel (1966),Queimada (1969) e Operación Ogro (1979), todos de ficção. A partir de então, filmou somente documentários para cinema e televisão: L'addio a Enrico Berlinguer (1984), 12 registi per 12 città: Udine (1989), Ritorno ad Algeri (1992), Danza de la fata confetto (1996), Nostalgia di protezione (1997), I corti italiani (1997), Un altro mondo è possibile (2001), La primavera del 2002 – L'Italia protesta, l'Italia si ferma (2002) e, seu último trabalho, Firenze, il nostro domani (2003).
A batalha de Argel
de Gillo Pontecorvo
R$ 44,90
QUINTA | 24 DE JULHO
20h00
A batalha de Argel (La bataille d’Argel/ La battaglia di Algeri)
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Ingressos
R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia)
Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com
Disponibilidade de ingressos sujeita à lotação da sala.
Capacidade da sala: 113 lugares