A hora dos mocinhos
Mário Magalhães
Daqui a pouco começa o Duelo de titãs, Brasil versus Alemanha.
No futuro, não será evocado como Era uma vez no Oeste, mas como era uma vez no Mineirão.
É Matar ou morrer. Se até as quartas-de-final Neymar emulava o xerife Will Kane, capaz de encarar sozinho o facínora Frank Miller, sua gangue e As armas do diabo, agora o camisa 10 será um torcedor como nós. A Bravura indômita é patrimônio coletivo da seleção.
Sem o craque maior, Neymar, e o capitão, Thiago Silva, anuncia-se a hora da Resistência heroica. Em reverência ao gênio contundido, e para superar sua dependência, uma Legião invencível.
Django não perdoa, mata. Mas Django, enfim, poderá ser chamado de Fred?
Meu nome é ninguém? Não: meu nome é Brasil.
Por isso o time não pode se retrancar, pusilânime. A Copa é território Onde os fracos não têm vez.
Com qualquer escalação, recomenda-se fustigar “os alemão”. Em vez de esperar o inimigo nas trincheiras, disparar Flechas de fogo, ou bolas venenosas, contra os europeus tricampeões.
Até agora, a emoção não foi obstáculo, e sim tempero do triunfo. Homem não chora? Qual nada: Os brutos também amam.
Paixão dos fortes, e não dos miseráveis desprovidos de sangue e lágrimas.
Nosso drama é que o futebol que nos levou até O tesouro de Sierra Madre, isto é, a Copa das Confederações, parece tão distante como o mundo No tempo das diligências.
É preciso acossar o gol de Neuer assim como se perseguiu a meta de Casillas. Quem só aguarda o inimigo, para contra-atacar, acaba escoiceado pelo medo. A morte anda a cavalo.
Onde começa o inferno? Na covardia.
A semifinal não será correnteza de Rio Vermelho, ou vermelho e negro da camisa alemã (não confundir, em blasfêmia, com o rubro-negro do manto sagrado). O Rio Bravo é canarinho.
E o time de Felipão nada tem d’O rio das almas perdidas. Pelo contrário: com suas almas generosas, não caiu na ladainha ressentida e raivosa contra um colombiano que entrou duro em Neymar e merecia ter sido punido em campo pela truculência. O perdão pode ser maior que a vingança.
Chega de Rastros de ódio, Meu ódio será tua herança ou A lei do ódio.
Descortina-se uma Marcha de heróis.
Até porque, se em 1962 O céu mandou alguém, e seu apelido era Garrincha, quem sabe não manda um novo salvador. Com sobrenome mais para Silva do que para Schweinsteiger.
O Brasil pentacampeão não pode se subestimar, até porque no tempo normal a Alemanha não conseguiu ganhar de Gana e Argélia. Os imperdoáveis, diante do gol, haveremos de ser nós.
O homem dos olhos frios, ao pé da letra, e não da história contada pelo filme, não pode ser um dos brasileiros, cabras de coração ardente.
Não é Por um punhado de dólares, mas pela honra de encarnar um país e desfraldar sua bandeira.
Sete homens e um destino? Só no velho faroeste. Agora são 23 valentes, incluindo Neymar, e o destino de 200 milhões em ação.
No Duelo ao sol no Mineirão da partida iniciada à uma da tarde, Trinity é o meu nome, ou Júlio César, foi anistiado como herói por um povo. Fechou o gol nas oitavas-de-final, contra o Chile.
Que a perseverança do goleiro-coragem, que jamais se entregou, inspire a seleção na semi.
Butch Cassidy & Sundance Kid: cabeça de Butch para pensar contra os filósofos alemães, e pontaria de Sundance para vencer o grande Neuer.
Da terra nascem os homens, é verdade.
E nos gramados se consagram os bravos.
É dia de os jogadores brasileiros serem, como tantas vezes foram, os mocinhos das nossas vidas.