Blog do Mario Magalhaes

Arquivo : julho 2014

Há 50 anos, com ajuda de Sobral Pinto, Marighella se despedia da cadeia
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Mário Magalhães

blog - marighella carta a sobral pinto

 

Nesta quinta-feira, 31 de julho, faz aniversário a despedida de Carlos Marighella (1911-1969) da cadeia. Na véspera de 1º de agosto de 1964, ele deixou o cárcere pela última vez, graças a um habeas corpus impetrado por seu advogado, o santo homem Heráclito Sobral Pinto, e concedido pelo juiz Hélio Trindade.

O revolucionário baiano havia sido baleado e preso no dia 9 de maio, pouco mais de um mês depois do golpe de Estado que derrubou o governo constitucional do presidente João Goulart e inaugurou a longa noite de duas décadas de ditadura.

Reconstituí o episódio na abertura da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”. Este prólogo, “Tiro no cinema”, está liberado grátis para leitura no site da Companhia das Letras (basta clicar aqui).

Em períodos mais curtos ou prolongados, Marighella esteve em cana ao menos em parte dos anos de 1932, 1936, 1937, 1939, 1940 1941, 1942, 1943, 1944, 1945 e 1964. No total, 2.691 jornadas de reclusão, perto de sete anos e meio.

Sobral Pinto era visceralmente avesso ao comunismo, pelo qual Marighella se batia. Mas o célebre advogado cultivava o ensinamento de Santo Agostinho: odiar o pecado e amar o pecador. Por isso, e de acordo com seus valores, repudiava o comunismo, mas se empenhava em representar comunistas como Marighella e outros camaradas.

A carta reproduzida acima teve uma cópia encontrada há poucos anos, numa pasta que um antigo correligionário de Marighella entregara a Clara Charf, companheira do guerrilheiro morto por agentes da ditadura em novembro de 1969.

Ao escrevê-la e endereçá-la a Sobral, em fevereiro de 1965, Marighella já vivia clandestino. Numa passagem, indagou quanto devia de honorários. Jamais constou que o homem generoso, gigante da defesa dos perseguidos pela intolerância, tenha cobrado um só tostão do militante que jamais voltou à prisão.

Meio século atrás, Marighella partiu do prédio do Dops do Rio (entrara ali pela primeira vez em 1936, sob sopapos).

Não o pegariam mais com vida.

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Recife: nesta sexta-feira, uma conversa sobre ‘Literatura de guerrilha’
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Mário Magalhães

blog - sesc pernambuco

 

“Literatura de guerrilha” é o tema do bate-papo de que terei o prazer de participar nesta sexta-feira (1º de agosto), no Recife, com dois colegas feras, Inácio França e Urariano Mota.

A conversa faz parte da quinta edição da Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, cujo eixo neste ano de meio século do golpe é “Literatura e política”.

Começa às 19h30, no Teatro Arraial (rua da Aurora, 457), e a entrada é gratuita.

A relação dos autores da mostra pode ser conhecida clicando aqui.

Até mais!

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Zé Ramalho, em show com Fagner, prevê Grêmio e Felipão na segundona
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Mário Magalhães

 

O borrão acima mostra (mostra?!?) Fagner e Zé Ramalho no belo show desta quarta-feira, no velho e querido teatro Tereza Rachel, rebatizado como Theatro (agora com “h”) Net Rio.

Acompanhados de uma turma da pesada, como Mingo Araújo e Manassés, os dois gênios da música brasileira gravaram novo DVD, com os clássicos “Canteiros”, “Admirável gado novo”, “Mucuripe”, “Avohai” e muito mais.

Nota futebolística da noite carioca: a certa altura, Fagner comentou que Felipão fechou com o Grêmio.

De bate-pronto, Zé Ramalho prognosticou ao microfone: o clube gaúcho vai cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Duvido.

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Escolha e emprego do verbo mudam a história: ‘morreu’ difere de ‘foi morto’
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Mário Magalhães

Muitas vezes, trata-se de ignorância ou desleixo, noutras é caso pensado.

Quando se diz que determinado número de crianças “morreram” em Gaza, omite-se ou relativiza-se que elas “foram mortas”.

Os verbos matar e morrer têm, é óbvio, significados diferentes.

A forma do particípio passado (nesse exemplo, do verbo matar), ao contrário do tempo verbal passado perfeito (verbo morrer), carrega consigo a pergunta: mortas por quem?

Talvez pareça frescura gramatical ou capricho histórico, mas a escolha do verbo e o seu emprego podem mudar ou influenciar o que se conta.

Até a notícia mais recente, 251 crianças palestinas haviam sido mortas na ofensiva militar israelense em curso.

Vai ver eram todas terroristas, e os bebês se distinguiam como os mais cruéis.

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Para entender a campanha eleitoral no RJ: todos contra Pezão
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Mário Magalhães

A pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira sobre a eleição para governador do Rio de Janeiro reforça o cenário identificado pelas principais campanhas: a disputa no primeiro turno deverá se concentrar na definição do adversário de Luiz Fernando Pezão (PMDB) no mata-mata derradeiro.

Recapitulando, o Ibope apurou 21% de intenção de voto para Anthony Garotinho (PR), 16% para Marcelo Crivella (PRB), 15% para Pezão e 11% para Lindberg Farias (PT). Para ver os números, basta clicar aqui.

Como a margem de erro é de três pontos, Garotinho, Crivella e Pezão estão tecnicamente empatados em primeiro lugar _mas é muito provável que Garotinho lidere.

Assim como também estão igualados Crivella, Pezão e Lindberg.

Este levantamento não pode ser comparado rigorosamente com os de antes, pois é o primeiro com os candidatos oficiais. No anterior, a pesquisa estimulada ainda indagou aos entrevistados sobre Cesar Maia (DEM), que mais tarde trocou a candidatura de governador pela de senador e talvez seja impedido de concorrer pela Justiça eleitoral.

Mesmo assim, é possível constatar o ascenso de Pezão: 5% (26 de novembro), 7% (23 de março), 13% (17 de junho) e 15% agora.

Foi bem sucedido o plano do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) de entregar o governo ao seu vice, dando-lhe mais visibilidade.

O prognóstico unânime entre os observadores é o de que Pezão vai crescer ainda mais com o horário eleitoral, quando a coligação de 18 partidos lhe dará tempo muito maior na TV, em contraste com a reduzida exposição de Garotinho e, sobretudo, Crivella.

A pujança de Pezão impressiona porque pouco mais de um ano atrás, em junho de 2013, centenas de milhares de manifestantes gritavam nas ruas do Rio contra a gestão Cabral. A administração segue mais desaprovada que aprovada, informa o Ibope, mas a imagem vem melhorando.

A saída da massa da rua ajudou Pezão a prosperar.

É raro alguma declaração oficial de comitês e candidatos dar pistas, mas reservadamente se consolida a avaliação de que o candidato mais difícil de derrotar no segundo turno é o que busca a reeleição.

O mais fácil, Garotinho, em virtude da ampla rejeição (44% no novo Ibope, contra 17% de Lindberg e Pezão e 15% de Crivella).

Para chegar ao segundo turno, Garotinho, Crivella e Lindberg serão críticos, em estilos diferentes, do atual governo estadual. Todos contra Pezão.

O deputado federal Garotinho em tom duro, o senador Lindberg pegando um pouco mais leve (seu partido compartilhou por sete anos a administração Cabral-Pezão) e o senador Crivella com discurso ameno.

Se os adversários conseguirem associar Pezão ao desgaste dos anos Cabral, o governador terá mais riscos no segundo turno.

Para Pezão, aparentemente o candidato mais complicado seria Lindberg, pois Garotinho carrega a rejeição dos tempos do seu governo e do de sua mulher, Rosinha. Crivella, é avaliação consensual, terá problemas para desvincular sua imagem da Igreja Universal do Reino de Deus _acaba de dizer em entrevista que homossexualidade “é pecado”.

Entre os três candidatos do flanco esquerdo, o Ibope apurou Dayse Oliveira (PSTU) com 2% e Tarcísio Motta (PSOL) e Ney Nunes (PCB) com 1% cada um.

É previsível que o professor Motta ultrapasse Dayse e Ney quando o deputado estadual Marcelo Freixo, que obteve perto de 30% dos sufrágios na última eleição para prefeito do Rio, pedir votos para o correligionário na TV. Freixo é novamente candidato a uma vaga na Assembleia.

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Em vídeo de campanha, Rodrigo Bethlem ensina a ‘fazer a coisa certa’
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Mário Magalhães

 

Na véspera da divulgação de gravações feitas sem seu conhecimento, em que sugere ter recebido propina de ONG e empresa que mantinham contratos com a Prefeitura do Rio, na época em que ele era secretário municipal, o deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) lançou na internet um vídeo de sua campanha à reeleição em que prega “fazer a coisa certa”.

No vídeo colocado no ar no Youtube na semana passada (para assistir, basta clicar na caixa acima ou aqui), uma voz feminina pergunta: “O que é a coisa certa? Como você fará a coisa certa para o Rio de Janeiro assim que for reeleito deputado federal?”.

Bethlem responde, em tom professoral: “Olha, fazendo a coisa certa, é porque eu acho que a gente precisa mudar um pouco a forma de fazer política. Muitas vezes, o político, em busca daquele momento de ficar de bem com a opinião pública, diz o que as pessoas querem ouvir e faz o que as pessoas naquele momento acham que deve ser feito. Ele acaba deixando de fazer muitas vezes a coisa certa porque a coisa certa é impopular. Eu sempre guiei a minha vida pública pra fazer o que era certo, independente de ser popular ou não, porque eu acho que o tempo corrige essas coisas. Então, um pouco o meu lema de vida: fazer a coisa certa, independente se é popular ou não. Eu acho que essa tem que ser uma nova forma de política no Rio de Janeiro”.

A Justiça ainda não julgou, nem há julgamento previsto, se Rodrigo Bethlem tem feito a coisa certa.

Até há pouco, o vídeo havia sido assistido 97 vezes. Merece, pela desenvoltura do candidato, audiência maior.

Para saber mais sobre o caso, clique aqui.

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Bolsonaro defende Israel e ataca nota do Itamaraty como ‘destrambelhada’
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Mário Magalhães

 

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) protocolou na embaixada de Israel nota de apoio às ações militares na faixa de Gaza. O capitão do Exército qualificou a manifestação do governo do Brasil, divulgada na semana passada, como “destrambelhada, inoportuna, hipócrita e covarde”.

Na quarta-feira (23 de julho), o Ministério das Relações Exteriores divulgara nota afirmando que “o governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças”.

Em resposta, a diplomacia israelense definiu o Brasil como “anão da diplomacia”.

Na sexta-feira, o deputado Bolsonaro, defensor da ditadura que vigorou de 1964 a 85, emitiu sua nota, cuja íntegra está reproduzida na imagem acima.

Ontem, a presidente Dima Rousseff disse que ocorre um “massacre” contra os palestinos.

Mais de 1.100 palestinos, parcela expressiva de civis, foram mortos neste mês _até ontem, ao menos 229 crianças. Dos 56 mortos por ataques do Hamas, 53 eram militares israelenses, a maioria componente das tropas que invadiram Gaza.

A história é assim: cada um ganha o aliado que merece.

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Rio: questão não é saúde mental de ex-mulher, e sim saber se houve propina
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Mário Magalhães

No tonitruante escândalo deflagrado com as gravações feitas em segredo pela ex-deputada Vanessa Felippe, Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ) empreendeu manobra como principal meio de defesa: o deputado federal acusa a ex-mulher de sofrer de males psíquicos que a teriam levado a assacar calúnias contra um homem público decente.

Desconversa pueril: ao contrário do que sugere o antigo secretário do prefeito Eduardo Paes (PMDB), é irrelevante, para saber se as suspeitas de corrupção procedem, a saúde mental da filha do presidente da Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe (PMDB).

Não é a agora empresária quem afirma que Bethlem, de vencimentos líquidos inferiores a R$ 20 mil, tem _ou teve_ uma renda mensal de aproximadamente R$ 100 mil, recebe por fora de R$ 65 mil a R$ 70 mil de um contrato entre uma ONG e a prefeitura, que outra empresa, fornecedora de lanches, lhe dá uma sobremesa de R$ 15 mil e que o deputado abriu conta na Suíça _não declarada, de acordo com reportagem da revista “Época”.

Quem declarou ter feito tudo isso foi Rodrigo Bethlem, durante uma negociação de pagamento de pensão, quando poderia ter subestimado seus rendimentos.

O áudio seria de novembro de 2011 e teria sido gravado na residência de sua ex-mulher.

A questão é se Bethlem cometeu ou não atos de corrupção. O resto constitui golpe baixo.

O episódio é gravíssimo, sobretudo pela autoridade que Eduardo Paes conferiu ao correligionário no governo. Bethlem foi secretário de três pastas, e como chefe da Ordem Pública tornou-se o “xerife” da cidade.

Não é mero “aliado” de Paes, e sim figura proeminente do seu grupo político. Foi executivo graduado da administração. Até a poderosa Secretaria de Governo ocupou.

Se confirmada a propina sugerida pelo próprio deputado, o prefeito, na melhor das hipóteses, demonstra dificuldade em escolher colaboradores.

O caso repercute na campanha eleitoral: Bethlem seria personagem de destaque no palanque do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato a novo mandato.

Não será mais, e pode ser instrumento de ataque ao governador.

Há uma lição jornalística: poucos políticos do Rio foram tão promovidos pelos meios de comunicação nos últimos anos como Rodrigo Bethlem, alegado batalhador pela ordem, contra a baderna _muitas vezes ao lado de ricos contra pobres, mas isso não era dito.

Se o jornalismo opinar e propagandear menos e investir mais em informar, talvez seja capaz de apurar esquemas que só vêm à tona em querelas de família e outras vendetas.

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