Neymar não é tudo, mas é (quase) 100%
Mário Magalhães
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Sim, a seleção melhorou muito no segundo tempo, com Fernandinho no lugar de Paulinho, mas quem decidiu na vitória de 4 a 1 sobre Camarões foi, uma vez mais, Neymar.
O Brasil é dependente do único gênio que leva a campo. Neymardependência não é neologismo gratuito, mas fato. Hoje testemunhamos a melhor atuação do atacante na Copa, na terceira e última partida da primeira fase.
A Argentina tem Messi? A Holanda tem Robben? A França tem Benzema, e a Alemanha, Müller?
Pois o Brasil tem Neymar!
Numa equipe que parece sofrer de dupla personalidade, tantos os seus altos e baixos, é ele quem define.
Camarões já estava eliminado e não contou com seus melhores jogadores (Eto'o e Song).
Entrou, porém, com surpreendente disposição, em contraste com a displicência das duas rodadas iniciais.
O time de Felipão jogou em busca do padrão apregoado como o meio, reeditar o desempenho da Copa das Confederações, para atingir o fim, o hexa.
Pressionou, buscando sufocar, mas logo reapareceu a ciclotimia que faz alternar força e fraqueza com frequência espantosa.
Aos 16 min, Luiz Gustavo roubou uma bola na esquerda, avançou e passou para quem não deixa a torcida na mão: Neymar, 1 a 0.
A jogada do gol foi rápida, o contrário da lerdeza que insiste em atrapalhar a dinâmica da seleção.
A vantagem sumiu aos 25 min, com gol de Matip. Pouco antes, os camaroneses haviam acertado o travessão. No gol de empate, Nyom deixou Daniel Alves para trás, mas a falha principal do Brasil foi o lateral-direito não ter tido cobertura.
Camarões ia à frente, e o Brasil expunha suas fragilidades, alternando marcação forte e frouxa, velocidade e lentidão.
Noutra diferença com a Copa das Confederações, os laterais avançavam com menos sucesso. Paulinho, quando chegava ao ataque, não oferecia perigo.
Enquanto isso, Neymar driblava, passava, lançava, era caçado e provocado. Mais do que a alma, a grande arma letal da equipe. Aos 34 min, ele desempatou, anotando seu segundo gol no jogo e o quarto no Mundial, do qual é o artilheiro isolado.
Esteve tão bem, no estádio Mané Garrincha, que no intervalo membros da delegação camaronesa pediram para tirar fotos com ele.
O Brasil melhorou já no começo da segunda etapa, com o ingresso de Fernandinho no lugar de Paulinho, como segundo volante.
A dupla personalidade deu lugar a uma só, competitiva, de quem se impõe.
Com a mudança, está claro: para recuperar o futebol da Copa das Confederações, é preciso mudar a escalação.
Fernandinho já pode ser considerado titular, e Paulinho reserva, imagino eu.
O progresso mais notável foi a aproximação dos jogadores, como fazem nos principais clubes europeus, e a manutenção da alta voltagem.
Aos 3 min, Neymar quase marcou. Em seguida, de cabeça, Fred fez 3 a 0. Fernandinho, recém-integrado à equipe, participou da jogada.
Enquanto Hulk não vivia seus dias mais inspirados e Oscar não brilhava como na estreia, contra a Croácia, Neymar enlouquecia os camaroneses, mesmo sem haver um armador para ajudá-lo com mais eficiência e constância.
Como as botinadas passaram a atingi-lo, Felipão tirou-o aos 25 min, dando lugar a Willian.
Aos 38 min, o Brasil fez 4 a 1. Adivinha com quem? Fernandinho.
Mas a essa altura o placar já proporcionava contra-ataques que não são o padrão para o Brasil, que costuma tomar a inciativa.
Nas oitavas-de-final, o Chile será um adversário forte, mas a seleção de Neymar entra como favorita.