Sem ‘doping’ da vingança, Holanda vira abóbora
Mário Magalhães
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Na vitória de 3 a 2 há pouco sobre a Austrália, a Holanda perdeu o encanto de seleção-sensação da primeira rodada da Copa, impressão que havia conquistado com a goleada sobre a campeã Espanha.
A carruagem mais vistosa do Mundial virou abóbora _não uma abóbora chinfrim, de fim de feira, e sim respeitável. Mas uma abóbora. Tem elenco e futebol para se transformar novamente em carruagem.
Pareceu que faltou aos holandeses o ''doping'' psicológico da revanche pela derrota na final de 2010. Contra os espanhóis, concentração, determinação, futebol-total. Diante dos australianos, um time competitivo, mas não um timaço.
Mantendo a camisa azul, a mais bonita exibida nos gramados até agora, a Holanda também manteve três zagueiros, como na estreia. O adversário, contudo, era no papel muito mais frágil que a Roja, embora tenha imposto um jogo mais duro.
Numa partida emocionante e de igual para igual, o rapidíssimo Robben abriu o placar aos 20 min do primeiro tempo, em contra-ataque puxado por ele.
Um minuto depois, Cahill empatou num sem-pulo fabuloso.
Ao contrário do que todo mundo esperava, não se impunha a equipe dos carequinhas De Jong, Robben, Sneijder, Indi e Vlaar. Não via a camisa vermelha (ou branca, como nos 5 a 1) da Espanha e tocava, anestesiada, a bola.
A Austrália perdeu dois gols antes do intervalo.
Nos acréscimos da primeira etapa, o zagueiro Indi saiu contundido (aparentou estar desacordado). Com o ingresso de Depay na ponta-esquerda, a antiga Laranja Mecânica voltou ao sistema 4-3-3 consagrado por ela.
No segundo tempo, o cenário começou igual, toma-lá-dá-cá.
Aos 8 min, um pênalti controverso convertido por Jedinak colocou o time historicamente mais fraco à frente.
Logo aos 13 min, numa falha de marcação, Van Persie anotou o empate em dois gols.
O elenco muito inferior ficou evidente quando o goleiro australiano Ryan falhou em chute de longe de Depay, e a Holanda virou, 3 a 2.
Pouco antes, o atacante Leckie perdera grande oportunidade para a seleção da Oceania (classificada pela Ásia).
Às vezes, o lugar-comum está certo. Neste caso, quem não faz leva.
Há esportes em que a influência da cabeça é mais determinante, como no tênis. Mas no futebol os neurônios e o coração também pesam. Sem a sede da vigança, a Holanda jogou hoje muito menos.